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Erotico-->13. QUASE SEM FORÇAS -- 21/02/2004 - 06:07 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Sonhou que estava preso em grossas teias, espreitado por temível mostrengo aracnídeo. Entretanto, não se sentia ameaçado, como se estivesse farto o grande inseto, aguardando o momento mais propício para o ataque. O inimigo desleixava a vigilância, dando azo a que o prisioneiro escapulisse, se conseguisse livrar-se do visgo que o fixava aos cordames invisíveis.

Chamava-lhe a atenção o fato de não estar nem um pouco preocupado com o futuro, uma vez que punha nele a conclusão inevitável, qualquer fosse o resultado final do evento coercitivo.

Ouviu-se dizendo:

— Se Deus é infinitamente bom — e deverá ser porque outra não poderia ser sua natureza, ou não seria Deus — vai dar a todas as criaturas a oportunidade da redenção, liberando-as para a ascensão ao seu reino de amor. Mas não posso provocar a fera, caso contrário, incidirei no grave pecado de desencadear as forças do mal, sempre prontas para o rompante do revide, ignorante que é das coisas divinas, imersa no egoísmo mais desabrido e imbecil, como se o Universo se resumisse em seus domínios sensórios.

Dentro da imaginação, julgou que as palavras mereciam ser relembradas sempre, de pronto esforçando-se por acordar, na semiconsciência de que as coisas se passavam apenas no cérebro superexcitado. Mas não acordou, debatendo-se na escuridão do sonho.

Sentiu que escorregava e se desprendia da horrorosa teia, caindo no vazio do espaço, sem força gravitacional que o atraísse. Pairava solto, respirando com dificuldade, tênue lembrança de que precisava do ar para sobreviver. Oprimia-se-lhe o peito dolorido.

— Se houvesse quem me ajudasse com pulmão artificial ou simples balão de oxigênio, seria eternamente grato ao benfeitor.

Foi rogar por auxílio que se lhe apresentou etérea criatura, luminosa, que lhe deu amparo e conforto, soprando-lhe brandamente no rosto, regularizando-lhe a respiração e desoprimindo-lhe o peito. Foi só intentar agradecer e o ser desaparecia, como fenece na escuridão a brasa de palito de fósforos.

Foi, então, transportado, com extrema velocidade, para o interior de palácio de mármore cor de rosa, onde odaliscas dançavam sob o encantamento de suave melodia. Odores e fragrâncias deliciavam-lhe os sentidos, despertando-lhe a vontade de ali permanecer. Súbito, uma porta ao fundo se abre e todos fogem, gritando por perdão, dizendo-se arrependidos, buscando exaltar os sentimentos de culpa, batendo no peito, espremendo-se pelas paredes e, finalmente, desaparecendo pelas aberturas laterais.

Teotônio não se sentiu estimulado pela correria e permaneceu atônito, aguardando a presença de maléfico demônio, quando viu adentrar um velhinho sem decrepitude, ágil no caminhar apesar das longas barbas brancas.

— Eis aí São Pedro, que me vem cobrar as boas ações, para me destinar aos páramos celestiais, às chamas do Inferno ou ao estágio obrigatório no pavimento dos que têm pecados veniais.

Mas o homem passou-lhe ao lado, como se não o tivesse visto, e seguiu até sair pela porta por onde ele mesmo havia entrado.

Acordou na expectativa de decisivo acontecimento para a situação. Imediatamente, recordou-se do longo texto a respeito da Divindade.

— Terei tido sonho premonitório? Será que preciso preparar-me para o pior? Estarei sendo ajudado pelos espíritos protetores, por meu anjo da guarda ou por algum gênio bondoso, algum orixá benfeitor dos humanos sem dívidas ou injustiçados?

Notou que os termos não faziam sentido, perante a realidade premente.

— Devo estar fascinado pelas teorias religiosas incrustadas no meu eu mais profundo, o que está traduzindo-se nesta triste alucinação de que o patamar onde vivem os seres sobrenaturais esteja ao meu alcance, como se minha personalidade pudesse desdobrar-se em matéria e não-matéria, a parte material em franca degeneração e a alma adquirindo a capacidade de volitar pelo campo existencial adequado à sua natureza. É como se estivesse perdendo o vigor energético equilibrado materialmente, passando a valer-me dos fluidos cósmicos inerentes à contextura da parte vibrátil na espiritualidade.

Teve, de novo, a impressão de que lhe ditavam os pensamentos. Achou-os extraordinariamente disparatados de tudo quanto sempre pensara a respeito da vida, da existência, totalmente desvinculados de todos os objetivos de realização profissional e pessoal.

— Se eu tivesse casado e se tivesse tido filhos, desenvolveria esta linha de pensamentos e de preocupações ou estaria sofrendo com a desdita deles.

Recordou-se dos apertos que os pais estariam sofrendo para atender às reivindicações dos malfeitores e achou que deveria rogar por eles, para que recebessem, de algum modo, a mesma luz intelectual que percebia estar-lhe sendo administrada.

— Minha irmã deve estar providenciando palavras de conforto e de sabedoria, para a tranqüilidade dos velhos. Ainda bem que são religiosos, que vão à missa e que crêem em seus santos de devoção. Nesta altura, devem ter mandado rezar algumas missas e devem ter recebido a comunhão, para que possam estar preparados para o perdão dos que me estão...

Um grave acesso de tosse interrompeu-lhe as reflexões. Depois de alguns minutos, serenou.

— Dê no que der, vou rezar um padre-nosso em voz alta. Que me acompanhem todos os espíritos bondosos que me estão ajudando neste transe de dor.

Após recitar timidamente a prece, escondeu a cabeça entre as pernas, soluçando baixinho, crente de que havia perdido a vida para os feitos evangélicos solicitados por Jesus. Sem ter pensado muito nas coisas que fez e nas que havia planejado, abandonou-se à sorte, inquirindo da consciência qual a deliberação mais acertada: se o pedido para continuar vivo, sob condições mais afins aos preceitos do Cristo.; se o desejo de morrer, para o enfrentamento do superior tribunal de Deus.

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