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Erotico-->12. CONVERSA REVELADORA -- 20/02/2004 - 07:52 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

— O homem põe e Deus dispõe — refletia o coitado, no desespero de sua impotência perante o destino. — Será que existe a sorte traçada e esta prisão deveria ter mesmo acontecido, independentemente de qualquer prudente providência que tomasse? O mundo anda tão transtornado que será a negação do azar chegar à velhice incólume, quanto ao assédio dos malfeitores. Quem é que não teve um carro furtado? Quem é que não foi assaltado ou roubado? Quem é que não foi agredido ou ameaçado? Quando a gente pensa que está tudo bem, lá vem um concorrente e copia todas as roupas, pirateando, descarado, a criatividade que tanto me custou.

Conversava consigo mesmo, respondendo intuitivamente a cada perquirição que mentalizava de forma completa, esforçando-se por manter os vínculos sintáticos dos segmentos frásicos. As respostas eram tão rápidas quanto as perguntas, em concomitância absoluta, porque perguntava sabendo as respostas. De resto, queria manter desperta a atenção para algo concreto, algo que lhe pudesse dar a impressão de que a vida estava fluindo à revelia das pressões físicas e emocionais do momento. Parecia-lhe que estava vivendo ligeiro hiato dentro da continuidade do tempo útil de que dispunha durante a passagem biológica.

— Se, dentro de algumas semanas ou meses, não me vir livre destes sofrimentos, terei a certeza de que sairei louco para a vida mundana. Esta tosse está me maltratando. Estou me sentindo quente, febril. Penso em alguns meses mas talvez não resista a uns poucos dias. Sem tratamento, o organismo se torna presa fácil dos microorganismos, das bactérias, dos vírus, dos vermes.

Imaginou a barriga cheia de lombrigas.

— E se estão me dando comida mal preparada, mal cozida... Um bife de carne de porco pode conter a tremenda tênia que se aloja no cérebro e destrói as pessoas em muito pouco tempo. Acho que vou adotar o sistema de falar em voz alta. Pelo menos, vou ter a certeza de que estou sozinho, porque ninguém vai me aturar, falando sem parar. Eles não me conhecem.

Em voz alta:

— Se houver alguém por perto, eu queria conversar um pouco, sobre qualquer assunto, apenas para me sentir vivo. Este silêncio a que estou obrigado está me deixando louco. Se tivesse alguém encarcerado comigo, poderíamos dar apoio um ao outro, de forma que a gente poderia manter o cérebro ocupado. Como não estou obtendo resposta, devo concluir que estou sozinho ou que não querem dar um dedinho de prosa. Não faz mal. De qualquer jeito, se não me impedirem, vou continuar esta monótona apreciação do momento presente, de forma a considerar os ouvidos moucos como inexistentes.

Parou para sentir a repercussão do que dissera, pelo menos quanto ao significado plausível e lógico dos dizeres. Em voz alta:

— Se estou falando um monte de besteiras, paciência. Tivesse a capacidade de trazer alguns textos de cor, mesmo que inferiores, iria repetir da melhor maneira. Eu sei algumas modinhas populares e tenho a facilidade de cantar as árias mais famosas das óperas de sucesso. Mas cantar não me irá satisfazer, porque não posso fazê-lo a plenos pulmões, molestados que estão por esta insidiosa gripe que me está atormentando. Aliás, este discurso deverá sofrer suspensões periódicas, caso contrário, irei ficar rouco, ainda que esteja sussurrando, sem grande esforço. Pelo amor de Deus, se houver quem esteja me ouvindo, me atenda à solicitação de me retornar os pensamentos de forma a me reservar um momento de sossego. Se minha irmã estivesse aqui, iria me pedir para rezar, com o fito de entrar em contato com o mundo espiritual, porque as entidades do etéreo costumam atender aos pedidos de intercâmbio, quando feitos com fé, com confiança no poderio das forças sobrenaturais. As nossas conversas sempre eram desviadas por mim, porque sentia, no fundo das palavras dela, recriminações sutis: queria que eu desse um pouco mais de minha riqueza aos pobres. Ironia do destino! Agora estão me tirando o que eu me recusaria a dar, mesmo que estivesse à beira da morte.

Ofegava e se sentia tonto. A respiração, que costumava controlar através dos exercícios físicos administrados na academia, sob a supervisão de instrutores capacitados, estava sumamente dificultada pela pressão lateral dos doloridos golpes.

— Não vou continuar falando em voz alta. Vou dar um tempo. É impossível que, se houvesse alguém por perto, não teria nenhuma reação. Afinal de contas, dei entonação de profunda desesperança quanto a me manter lúcido, sem que ninguém me ajude. Não suspeitei jamais que um dia iria rogar por alguém para partilhar comigo do espaço e do tempo, sem outro tipo de interesse que não seja o calor humano, a reciprocidade dos pensamentos, dos sentimentos, das emoções, dos objetivos vitais e existenciais.

Pôs-se a refletir sobre o teor da derradeira meditação:

— Se eu não fosse tão descrente, poderia jurar que as idéias que me surgiram no cérebro não correspondem a nenhum pressuposto cultural mentalizado por mim, nem suspeitava que pudessem se alinhar com tamanha precisão lógica. Será que me estão incutindo as teses desenvolvidas por via mediúnica? Estarei recebendo o amparo de seres de outra dimensão? Esta intuição terá nascido de minha própria mente?

Um arrepio percorreu-lhe todo o corpo, passando a prestar atenção em todas as idéias que lhe surgiam. Mas embaralharam-se as noções e formaram-se-lhe imagens difusas no aparato visual do cérebro, de forma que foi perdendo o controle da mente até que se viu sonhando.

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