NUS ARTÍSTICOS
Maria José Limeira
Quando iniciei minha carreira de Fotógrafa, eu
não queria apenas apertar o dedo no Click da
máquina e esperar o resultado.
Comecei a andar com uma turma de profissionais,
tomando conhecimento do trabalho deles, estudando
a Fotografia em todas suas nuances, segredos e
mistérios, e ouvindo estórias e histórias.
Os fotógrafos – amadores ou profissionais – são
pessoas maravilhosas.
A gente conversando com eles nota que são
criaturas ingênuas, as conversas não passam do
superficial e corriqueiro.
Mas, quando nos mostram seus trabalhos – ah, meu
Deus – como são profundos, humanos e inteligentes
nossos queridos fotógrafos...
Em João Pessoa, fotos artísticas são assunto
restrito, ainda.
Os que se dedicam a essa arte exercem atividade
meio solitária, e as reuniões se realizam nas
residências uns dos outros.
Quando se trata de Nu Artístico, aí o negócio
toma ares de “Clube Privé”, no qual fui aceita.
Quando me iniciei nesse ramo, minha especialidade
era foto em preto e branco, por entender que
estas são as mais difíceis, pois qualquer pessoa
pode ser boa em foto colorida.
Para tornar a atividade mais segura e sigilosa,
eu mesma revelava meus trabalhos, no laboratório
do jornal, em horário fora do expediente.
Mas, a maior dificuldade era encontrar os
modelos, principalmente homens, que eram minha
preferência.
Eu tinha um amigo professor universitário, que me
apresentava os possíveis modelos.
E foi assim que entrei no mundo maravilhoso da
Fotografia, enfocando a cidade de diversos
ângulos, e sua gente.
Os Nus Artísticos eram realizados em praias
desertas e motéis, onde eu e meu modelo
entrávamos e saíamos, sem qualquer outro
compromisso, a não ser a arte.
Descobri, extasiada, que o mar como fundo de
paisagem tem tudo a ver com a nudez humana.
E assim, ganhei muita experiência na Fotografia,
juntei um arquivo incrível de fotos de homens
nus, e fiz muitas amizades.
Mas, houve um fato que me afastou da atividade.
Entre os modelos, um se destacou, pela maneira
tímida com que se apresentou diante de mim para
ser fotografado.
Recusou-se a ficar nu inteiramente, e eu
concordei que poderia ficar vestido com sua cueca
zorba.
E foram estas as fotos mais bonitas da minha
curta carreira, onde a sutileza foi valorizada no
filme inteiro que gastei com esse fotografado.
Ao final de uma semana, ele me procurou de novo.
Queria suas fotos, que eu não lhe mostrara, e os
negativos do filme.
Temia que eu espalhasse suas fotos pela cidade
inteira, comprometendo sua imagem de moço
bem-comportado.
Embora eu lhe garantisse que nada daquilo iria
acontecer...
Eu estava espantada.
Fiz, naquele momento, o que os fotógrafos sabidos
do jornal fariam na emergência: disse-lhe que as
fotos não prestaram, pois o filme “velou”, isto
é, “queimou”.
Ele não quis acreditar. Pediu o filme inteiro,
“queimado”.
Fui ao meu arquivo, onde arranjei uns negativos
quaisquer “velados”, e entreguei-os.
Naquele tempo, ele era um artista em começo de
carreira, sem qualquer expressão.
Hoje, é nome nacional.
E suas fotos continuam guardadas em meu arquivo.
Ele foi o responsável pelo encerramento da minha
promissora carreira de Fotógrafa...
(Maria José Limeira é escritora e doce jornalista democrática de João Pessoa-PB)
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