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Erotico-->18. CRIANDO CORAGEM -- 16/12/2003 - 08:32 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Falei que Augusto descaiu para os crimes, mas não disse tudo. Falei que foi assassinado por traficantes, tendo deixado em suspenso o real motivo, dando a entender que ele havia buscado passá-los para trás, num negócio qualquer envolvendo compra e venda de drogas.

Com o resultado, entretanto, das comunicações que me passou, numa clara evidência de que está bem, o que me restou foi a só recordação dos momentos bons da infância, outros da adolescência, até que houve o rompimento definitivo de nosso sagrado relacionamento.

O que prova isto? Prova que os seres humanos vencem as suas dificuldades, seja neste plano, seja no além-túmulo, sempre sob o manto protetor de Jesus, porque a misericórdia do Pai é infinita.

Eis que me atrevi a falar diretamente a respeito da vida tumultuada daquela criatura, tendo eu contribuído em boa parte para que tal acontecesse, principalmente porque não soube ter com ele os cuidados que seu caso de abandono pela mãe prescrevia.

À vista, porém, de seu incondicional perdão, todos os pensamentos ruins que dediquei a ele deveriam quedar esquecidos, mas, ao abrir um pouco mais daquela fresta da gaveta dos graves problemas, deparei-me com um dos grandes, qual seja, o de que quem não perdoou fui eu, em primeiro lugar a ele, por tudo quanto de decepção me causou.; depois a mim mesmo, porque não soube controlar o meu desejo de vê-lo imerso nas trevas, que era o lugar que julgava ser o mais apropriado para recebê-lo.

Se não disser tudo agora, como é que vou solicitar ajuda das entidades mais capazes de fazê-lo?

Então, com o coração na mão, devo revelar que foram fortes ciúmes que me abalaram a consciência até que a morte o levou.

Disse que Márcia era pouco mais velha que ele, não se dando bem os dois, apesar dos esforços da minha menina. Mas não disse tudo. Os desvelos dela para com ele, a comparação obrigatória de uma vida de mais de treze anos juntos, a juventude dele a aflorar, a minha maturidade a desvanecer, me levaram a suspeitas graves da intimidade entre os dois, embora, fique isto definitivamente esclarecido, jamais surpreendi um gesto que fosse que demonstrasse de um ou de outro algum carinho ou afeto desregrado. Antes, foram inúmeras as ofensas que Augusto fez a Márcia, conforme já denunciei.

Mas o fato foi que o meu desempenho amoroso decaiu, amofinado pelas desconfianças, muito mais interessado em descobrir que estava certo em minhas suspeitas do que em saber a verdade. Também jamais agredi verbalmente a nenhum dos dois, nem os acusei de nada. Tudo se restringiu ao fundo de minha alma ou consciência, estando quase certo de que aqueles cornos de um capítulo anterior eu os segurava, porque era esse o sentimento que mantinha em relação a Ana.

“Gato escaldado” etc.

Mas tal como quanto às pizzas e às batatinhas, também aqui devo retroceder no tempo para contar como foi que conheci Márcia.


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Precisei parar para tomar fôlego e organizar melhor as idéias. Não me será fácil, de certo modo, sugerir que menti em relação à minha adorada criança. Mas afirmo de fé jurada que toda palavra que escrevi sobre ela é o retrato mais fiel da verdade. Então, o que se vai ler em seguida sirva apenas como medida de meu drama íntimo e de toda a extensão dos problemas que terei de remeter ao fundo daquelas gavetas em que os papéis amarelecem e depois se queimam.

Durante bastante tempo, havendo-me Ana deixado só com Augusto, punha o menino nas mãos de alguma pessoa da família, que para isso servem os irmãos e cunhados, e ia desafogar os instintos fisiológicos numa casa de tolerância não distante da região onde morava.

Vejam que estou tremendo por desafiar os padrões dos escritos espíritas, levando os meus leitores a um antro de perdição. Mas foi ali que descobri Márcia e de onde a trouxe para minha casa.

Agora cabe dizer também que a mocinha lá se encontrava tangida pela necessidade, porque perdera os pais e nenhum outro recurso havia no lugar de onde proveio senão esse mesmo para conseguir sobreviver.

Quando a encontrei, não tinha nenhum vício, mas também não conhecia nada relativo ao nível social a que eu pertencia, a chamada classe média ou pequena burguesia. Tive, como na história de “Pigmalião” do autor irlandês Bernard Shaw, uma ação positiva em sua educação, diferenciando-me do outro por iniciar pela lubricidade, aprendendo a respeitá-la em sua pureza mental, fazendo abstração de tudo que pudesse incidir em moralidade.

Foi ela, contudo, muito agradecida por quanto mimo lhe fazia, quem buscou elevar-se moralmente, tendo tido a felicidade de buscar uma religião onde não precisasse oferecer o seu testemunho de pecado, nem se ajoelhar perante homem algum, para a humilhação definitiva perante a sociedade.

Voltou a estudar e deslanchou, jamais me deixando ficar sem carinho e sem cuidados. Tanto a idolatrei que me pus eu de joelhos perante aquela figura de santinha, acompanhando-a ao “Louvor ao Pai”, para uma trajetória de conquistas espirituais significativas.


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Eis que o quadro de minha vida familiar de certa época está mais do que pintado. Não pretendo acrescentar nenhuma pincelada para realçar nenhuma cor, nem delinear melhor as figuras, para destacá-las do fundo de minha consciência. O que está feito, está feito.

As últimas reticências foram preenchidas, ponto a ponto, por orações, como se desfiasse as contas de um rosário por entre os dedos. Alguns deles estão úmidos, mas estas lágrimas não contam, porque significam muito pouco para quem deseja compreender as causas para eliminar os efeitos.

Fico a considerar certas informações anteriores a respeito do adiantamento espiritual de Márcia e não vejo como não enfatizá-las, porque percorro a história de nossa vida conjugal e nada encontro que a desabone. Ao contrário, católico, iria propô-la à beatificação.

Eis que assumo a responsabilidade total deste relato não muito caritativo para com os meus leitores menos apegados ao episódico, na esperança de que saibam entender que a vida não se concentra dentro das paredes sagradas do templo espírita, mas o que se pratica aqui fora é que realmente tem importância, porque demonstra que as lições que ali se ensinam foram assimiladas e estão sendo colocadas a serviço do próximo.

Quanto a não ter recebido nenhuma mensagem de Márcia, a anterior conclusão de que deve estar em patamar de eleição não modifiquei, mas aguardo ansiosamente que Augusto me passe notícias que me confirmem as luzes que atribuo a ela.

Mais um tópico relativo à minha inferioridade quanto à debilidade que apresento em amar as pessoas incondicionalmente. Tem sido muito difícil para mim (nesse aspecto, em lugar de esvaziar as gavetas, ainda ali tenho colocado outros problemas), superar a crise de ciúme, mesmo nesta circunstância especial de que ambos os suspeitos partiram para o outro mundo. É que estou constantemente julgando perfeitamente possível que Augusto e Márcia se tenham encontrado definitivamente, entrosando-se em seus níveis de avanço espiritual, o que me parece bastante razoável que ocorra, tendo em vista que se dedicara ela em vida a trazer de volta ao seio familiar aquele que acabou nas mãos dos facínoras.

Um derradeiro pensamento para encerrar esta página, a mais infeliz de quantas tenho escrito.

Se, num período de um mês, no máximo, não me julgar melhor condicionado a enfrentar esta dor, que não tive oportunidade, por absoluta falta de recursos literários, de delimitar na composição, conquanto tenha tido a felicidade de trabalhar intensamente, o que me mantém a mente ocupada, rasgo esta folha e não deixo ninguém ficar sabendo de nada disto.

Quer dizer que, uma vez descrito o drama, já estou aguardando desfecho sublime e maravilhoso? Não. Na verdade, acho mais certa a hipótese da incineração. Em todo caso, sem que isto se constitua num desafio aos meus protetores e aos guias do centro espírita, sempre poderão prestar-me auxílio ao nível das ações dos espíritos de luz, se me trouxerem uma palavra de conforto, porque vou sentir que estou amparado neste empreendimento pessoal e íntimo.

Isso será realmente necessário? Claro que não, mas afagos de mãe e de pai nunca fizeram mal a ninguém.

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