Tendo anunciado qual o tema de que trataria em seguida, obriguei-me a refletir e a pesquisar, de modo que permaneci quase um mês distante deste caderno. Isto também não está querendo dizer que o que se vai ler é o supra-sumo da doutrina, sob enfoque mais moderno e rigoroso.
Em primeiro lugar, para grande surpresa minha, encontrei muitos autores que, discordando do fato da reencarnação, admitiam a possibilidade, no que se mostraram absolutamente incoerentes. Se existe um princípio cuja averiguação empírica é impossível de fazer-se, a teoria deve prevalecer, de forma que aceitar a idéia da reencarnação é admiti-la na realidade.
Em segundo lugar, muitos acatam a espiritualidade como morada dos seres humanos que viveram na Terra, sua influência sobre os mortais, o poder das comunicações mediúnicas, mas refutam, na prática, o fato em si, inviabilizando a volta ao corpo carnal, através do raciocínio de que, uma vez envolvidos pelas energias do campo denso da matéria, nem que por algumas horas apenas após a concepção, mesmo que frutos de abortos, os espíritos já adquiriram completa experiência e são capazes de reconhecer, em toda a plenitude e em toda a extensão, o fenômeno inerente a esse processo existencial.
Em terceiro lugar, existem os que generalizam as existências corpóreas, aceitando que o mesmo espírito que hoje vive em corpo terreno, amanhã poderá estar num outro selenita, jupiteriano, saturnino, solar, ou seja, que, tendo em vista o poder de adaptação dos espíritos a todo tipo de perispírito, ainda que sofram, em esferas destinadas a irmãos menos evoluídos, a própria inclusão no invólucro espiritual correspondente, podem sempre aproveitar a misericórdia dessa divina lei para exercerem seus ministérios de amor, paz e caridade. São os que mais denodadamente acatam a tese de que Jesus, ser perfeito na qualidade de pessoa humana, embora habitante de regiões para nós insuspeitas, tanta é a sua glória espiritual, possa ter descido à Terra “para nos salvar”.
Em quarto lugar, há os que, como Kardec, têm por princípio que a reencarnação é o procedimento mais adequado para favorecer o crescimento das boas qualidades morais, porque é especialmente adequada para a correspondência entre causa e efeito, lei magna do progresso. Encontrei vários textos em que os amigos da espiritualidade forneceram mensagens de apoio a esta teoria, correndo mais ou menos à boca pequena nos meios espíritas que muitos espíritos conhecidos hoje são os mesmos que envergaram outras vestimentas materiais, sob nomes igualmente conhecidos. O próprio Professor Rivail adotou o nome de guerra de “Allan Kardec”, informado mediunicamente de que foi esse o seu apelido numa encarnação que teve entre os antigos gauleses, quando teria exercido um ministério glorioso.
Em quinto lugar, encontrei apoio para a minha assertiva do final do capítulo anterior de que “não existem novas oportunidades para antigos espíritos”. Embora tenha deixado claro que poderia testemunhar ter eu mesmo sido apaniguado por outra existência terrena, de propósito, tornei obscura a passagem, para despertar o seu interesse, caro leitor e amigo.
Como disse que o mistério não podia ser muito forte, explico-me desde já: não existem novas oportunidades para antigos espíritos, porque os espíritos são sempre “novos”. Ao considerar-se que o espírito que reencarna é o mesmo que deixou o ambiente terrestre anteriormente, concorda-se tacitamente que, no etéreo, não há nenhuma mudança ou alteração possível, que o perispírito não possa regenerar-se, nem que haja centros de tratamento e de estudos, como se o tônus existencial da criatura se mantivesse absolutamente paralisado.
Abro parênteses para referir um fato que me parece insólito e de difícil entendimento, tanto que as informações dos amigos espirituais a Kardec foram apenas parciais, deixando muita coisa para depois, quando o desenvolvimento intelectual e científico da humanidade tivesse condição de absorver tais ensinamentos. Trata-se dos espíritos dos animais (ou almas, ou focos de energia, ou estágio latente da divina centelha, segundo seja a tendência da linha filosófica mais espiritualista ou mais materialista) que não formam colônias mas se perfilam em extensas colunas, constantemente voltando ao domínio das vibrações animais terrenas, de acordo com o aparato fluídico de que sejam constituídos, sob a batuta de certas entidades cujas características espirituais não se definem com precisão (alguns dizem que são “elementais” ou seres votados para os cuidados com a natureza).
Ainda dentro dos parênteses, quase me perdi para a concepção de um universo multifacetado ou pluriexistencial, qual seja o de que, em existindo seres invisíveis aos nossos olhos para os quais o nosso universo tangível, se meditassem a respeito, seria mera conjetura, também poderia ocorrer de nós mesmos estarmos presos a essa correspondência de grandeza, em relação a outros seres para os quais seríamos invisíveis, e assim por diante, num encadear infinito, conforme a tese elementar de que o universo é infinito, porque criado por Deus, dentre cujos atributos situamos o de infinito. A conseqüência irretorquível dessa postura filosófica de principiante é a de que, como a molécula que não tem recursos para situar o todo em seu pensamento, nós, seres humanos bem como os espíritos que nos cercam, também não teríamos, o que poria por terra qualquer eventual descoberta da verdade, já que a comprovação seria tão-só quimérica.
Quando incluí os espíritos entre os que desconheceriam a extensão do todo existencial, resolvi o problema em parte, porque me obriguei a dimensionar de forma diferente a realidade que envolve esses seres, o que é o mesmo que dizer que eles conhecem mais do que nós temos a possibilidade de conhecer. Aplicando o mesmo raciocínio do crescimento dos volumes que me atrapalhou, tenho de reconhecer que, quanto mais os espíritos evoluem, mais irão abrangendo por seu intelecto, ou que outro nome se possa atribuir à parte pensante dessas centelhas em constante busca da perfeição, mais vão assimilando a verdade da constituição das esferas, mundos, moradas, reinos, círculos, planos ou quantas denominações existam para as várias camadas energéticas, cada qual com sua natureza própria.
Esta linha de pensamento acabou por me fornecer a pista para a solução de outro enigma a que minhas pesquisas me conduziram. Trata-se da necessária perda energética, conforme teses que vão merecendo cada vez mais o reconhecimento do mundo científico, as quais, conforme li algures, derivam da concepção eisteiniana do universo. Se existe perda de qualquer elemento material (em oposição a espiritual), o fato repercute na mente como a transposição do ser em não-ser, quer dizer, aquilo que é, num dado momento, no seguinte, já não é. Isto nos leva a supor que o contrário possa ocorrer de forma natural, ou seja, o que não é passa a ser, o que corresponde ao fenômeno da criação, que, em tal caso, não seria mais por um ato do Verbo divino, mas por um processo natural decorrente, não discuto, daquele mesmo impulso criador inicial ou eterno, que aqui os conceitos se entrelaçam para o meu desespero. Eis que despertei para uma idéia de superior envergadura, qual seja, a de que o que se perde aqui, se recupera noutra dimensão, cuja materialidade seria mais sutil, mas sempre existente. De qualquer forma, a recuperação pela mesma fonte, ou seja, a transposição da perda ou da condensação de fluidos energéticos da esfera contígua, para eles transformação de ser em não-ser, seria o equilíbrio das forças de cada mundo. (Complicado, não?)
Todas essas considerações me trouxeram para diante desta página com um cálculo difícil de realizar, qual seja, o de que, se existem cerca de trinta bilhões de espíritos ao derredor da Terra (espíritos capazes de se vestirem de trajos humanos, o que afasta de minhas contas as miríades de forças correspondentes aos animais), em não havendo mais do que cinco ou seis bilhões de seres encarnados, ou, por outra, não tendo os recursos naturais do globo capacidade de agasalhar nem a metade dos espíritos desejosos de volver ao plano terrestre, a dificuldade dos que se privam da reencarnação cresce de proporção, se considerarmos tão importante para o progresso espiritual as migrações por estes recantos que muitos chamam de orbe de provas e expiações, mas que também pode ser de deleites e missões.
Considerando que o mesmo problema deve existir em cada corpo físico que se mantém em equilíbrio no cosmos (tábula rasa para o fator físico da constituição de corpos de idêntica natureza que os terrenos residentes nas outras plagas de mesma forma energética), mesmo porque, se viajarmos para outros planetas, jamais chegaremos a algum cujas condições se assemelhem às da Terra, para nos fornecer agasalho e nos preservar a vida, quantos seriam os espíritos necessitados de reencarnação?
Acho que estaria na hora de demonstrar que tal ou qual fulano ou sicrano que deixou sua marca na história da humanidade fui eu mesmo. Contudo, felizmente, não me deram os meus guias indicações averiguáveis de que eu tenha passado anteriormente por aqui. Fico devendo.
Mas tenho tempo para referendar o “felizmente”. É que, pela lei do progresso, qualquer indivíduo que se prestasse como membro de minha retaguarda carnal iria, necessariamente, demonstrar uma ou mais características de inferioridade de minha pessoa e, como diz sabiamente a Bíblia, “a cada dia baste o mal desse dia”.