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Erotico-->5. LUTA ÍNTIMA -- 03/12/2003 - 08:19 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Surpreendo-me muitas vezes pensando em que não deveria exprimir nenhum pensamento por escrito. Tenho medo de que, em dando certo a minha dissertação e em sendo publicada, vá transtornar a mente de algum desavisado leitor que, esperando uma obra singela a respeito da doutrina espírita, apanhe este maçudo emaranhado de preocupações meio sem nexo e sem lugar.

Está claro que até a advertência acima poderá concorrer para tornar a obra menos indicada para aquele tipo de ingenuidade, restando ao editor a tarefa, com que freqüentemente me deparei durante a minha vida profissional, de abrir os devidos parênteses. Entretanto, não se trata dos meros aspectos formais que me fazem imaginar se não seria útil a interrupção dos escritos.; trata-se dos desarranjos mentais que vêm provocando a mim mesmo.

Eis o contra-senso elevado à categoria de obra didática, na expressão mais lídima do racionalismo insosso de quem está apenas com medo de prosseguir.

— Coragem, Murilo!

Ouço a voz da consciência como que a me impulsionar de encontro ao meu passado, para que não tropece no futuro.

A verdade é que dizer que Augusto me representou uma espécie de antagonista é não dizer as coisas nem pela metade. E o pior ocorreu depois que me integrei como associado ativo do Centro Espírita “Louvor ao Pai”, onde até hoje me encontro, após haver percorrido todos os postos da diretoria, exercendo agora honrosa função junto ao Conselho Fiscal, título honorífico e absolutamente inócuo, pois nós três apenas assinamos o que o Diretor Contábil nos passa, depois de receber do Tesoureiro todos os documentos preparados.

Quando meu filho estava com uns dez ou doze anos (não parei nem vou parar para fazer contas), foi que Márcia me trouxe, em sua companhia, para o humilde local das reuniões evangélicas, sob as luzes de Kardec. Márcia não se apegou ao rapazote, porque sempre foi muito agressivo para com ela.

Quanto a mim, Augusto nunca se indispôs, acatando a minha autoridade em silêncio, como a pensar com seus botões que eu era um pobre infeliz, abandonado pela esposa, que me obrigou a uma separação com pagamento de pensão e tudo, passando de um companheiro a outro, como se bebe água. Isto há de ser o máximo que me aventurarei a falar de Ana com resquícios de menosprezo. E o faço com muita dor no coração, não apenas porque jamais me conformei por ter ela ido embora, como por saber que todas as minhas vibrações adversas terão de receber a contrapartida da benevolência, no justo limite da compreensão de que todos temos direito ao nosso livre-arbítrio para aplicá-lo com sabedoria, na confecção de nossa existência corpórea e espiritual.

— Mas Ana não soube fazer uso de sua liberdade!...

Isto não pode pesar um tiquinho que seja na balança de minhas ponderações, porque o máximo que posso exigir de mim é integral apoio a todas as pessoas que se relacionarem comigo durante a eternidade.

Falei de Ana apenas para preparar as considerações que desejo expender a respeito da minha estranha avaliação a respeito dos liames cármicos que me prendem ao meu filho.

Não dá para resumir o que senti durante todos estes anos, desde que me vi rejeitando-o ainda bebê. Mas houve momentos também de alegria, momentos de arrependimento em que me vi acompanhando-o aos estádios de futebol, às pizzarias, até que o perdi para os bailes das discotecas e não sei que outras maneiras têm os jovens de se drogarem, a partir da alienação completa de seu momento vital pela alucinação sonora dos grupos “metaleiros”.

Mas, quando comecei a estudar as diretrizes doutrinárias, iludi-me com a idéia de que recebera em casa um antigo inimigo de outras encarnações, algum rival no leito de Ana, cuja atitude de rejeição do próprio filho terminou por se transformar de tensão pós-parto em...

Hesito em categorizar a atitude da mãe em relação ao filho, apesar de apenas demonstrar um pensamento antigo (que mais era um sentimento), porque me volta aquele estremecimento de fixar no papel um determinado instante para perpetuá-lo pela reprodução das leituras,

Em todo caso, resguardando-me por um pai-nosso, que oferecerei em seguida aos irmãos que sofrem nas Trevas ou no Umbral, devo dizer que cheguei a imaginar que Ana houvesse abandonado o filho porque teve a intuição de que iria reviver os sofrimentos de outrora.

Eis que acabo de dizer indiretamente qual a suspeita que me cresceu no coração relativamente ao meu próprio sentimento em relação a ele. É que o Espiritismo, que eu não sabia aplicar com sabedoria aos meus reflexos emotivos quanto às pessoas em geral ou de meu convívio, me levou a considerar Augusto como aquela pedra em que se tropeça, o meu motivo de escândalo, o inimigo de todos os tempos a quem deveria ter dado toda a minha assistência e acabei por perdê-lo, apesar de, até o fim de seus dias, eu haver passado mais de dez anos estudando a doutrina espírita.


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Refleti bastante após a prece que repeti várias vezes, porque me surpreendia com o pensamento pairando muito longe dos divinos dizeres de Jesus. Cheguei à conclusão de que toda a minha atual preocupação é irrelevante. Ao contrário, a leitura deste meu texto poderá servir de aviso justamente àqueles leitores ainda não totalmente enfronhados nos meandros de uma consciência pejada de culpas invisíveis, porquanto nem o estatuto do confessionário existe no seio do movimento espírita.

Por falta de um sacerdote obrigado ao exercício gratuito da caridade psicanalítica, atribuí tacitamente a responsabilidade a minha segunda esposa, mas este episódio me furto de revelar agora, porquanto não contei ainda as peripécias do meu segundo consórcio matrimonial.

Finalizo, porém, adiantando que as suspeitas, que ia caracterizando como intuições anímicas ou inspirações mediúnicas, agora as classifico entre os preconceitos espíritas, graças ao meu bom guia, o qual se dignou instruir-me em reuniões de mediunidade psicofônica por mim presididas.

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