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Erotico-->13. A CONFERÊNCIA DE MACIEL -- 20/11/2003 - 06:16 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Adonias precisou apressar-se para comparecer à segunda palestra de seu curso pelo irmão Maciel. Na verdade, segundo havia estipulado, o horário daria com folga para ir de um anfiteatro a outro, mas ocorreu que o tempo de sua aula se alargou um pouco mais do que havia programado. Chegou quando Maciel se encaminhava para o fundo da sala, sob um profundo silêncio a demonstrar a grande expectativa de seu público.

Como da outra feita, o orador estabeleceu contato com forças etéreas superiores com que mantinha comunicação, de sorte que o ambiente se encheu de luzes e de cores suavíssimas, a penetrar nas mentes como um bálsamo de paz e alegria, tranqüilizando os corações, pondo cada espectador à vontade para o recebimento das informações.

Maciel fez questão de enunciar sua conferência em linguagem física e não telepática. Sua voz vibrava harmoniosa e grave:

— Meus queridos irmãos, Deus seja conosco nesta empreitada de conhecimento, de amor e de fé. Em seu supremo poder e sabedoria, Jesus desceu à Terra para salvar os homens. Ao passar pela erraticidade, porém, enunciou pensamentos que nos têm orientado de forma categórica e definitiva. É pena que não tenhamos uma formulação lingüística apropriada para definir os termos de sua pregação superna, porque tudo o que ele nos deixou se impregnou nos espíritos mais evoluídos de nossa esfera de tão pouca luz, os quais, “ipso facto”, adquiriram a missão inalienável de transmiti-los a quantos se vão adiantando através de seu domínio sobre os defeitos e vícios, tanto relativos às mazelas trazidas do campo denso da matéria, quanto aos péssimos hábitos dos que se julgam superiores por alguma ciência que hajam conquistado lá e aqui. Mas, passo a passo, todos nós vamos caminhando rumo às próximas estações existenciais, de forma que ninguém se verá isento do recebimento e da obrigação de transmitir o que um dos professores da casa, nosso irmão Adonias aqui presente, chamaria de “Evangelho para o Etéreo”, porque se trata, verdadeiramente, de uma boa nova para aqueles que pretendem prosseguir estudando as lições consignadas nas obras dos evangelistas, agora sob um ponto de vista, vamos dizer assim, completamente espírita. Queiram recolher-se a si mesmos, concentrando-se em todas as atividades desenvolvidas em grupo ou individualmente, desde a reunião anterior.

Adonias aceitou com muita naturalidade a citação de seu nome, como se fosse a consignação de um fato natural e verídico. Sabia que seus pensamentos não estavam bloqueados e que os irmãos melhor categorizados a eles tinham acesso livre, mesmo porque requeria em suas preces que seus ouvintes dos planos mais elevados lhe enviassem sugestões para aprofundar as reflexões. Sendo assim, passou de imediato a corresponder todas as ações daqueles últimos tempos à tarefa determinada por Maciel, da qual se recordava perfeitamente: “Se fosse Jesus quem os convidasse, vocês atenderiam ao chamado do Mestre para se constituírem em seus apóstolos ou discípulos?” Adonias julgou que talvez sua preparação carecesse de maior entrosamento entre a parte teórica e a parte prática, porque não via no exercício do magistério a mesma sublimidade daqueles que trabalhavam diretamente com os sofredores, envolvendo-se através de um convívio pessoal de interdependência emocional mais positiva.

“Se nem mesmo consegui formar um pequeno grupo, conforme recomendação expressa de Maciel!...”

Aí lhe veio à memória o inteiro teor daquele trecho da palestra: “Caso se sintam em dificuldade, recomendo que se juntem em pequenos grupos, formando círculos de debates e de pesquisas...”

Atinou, então, primeiro que os grupos eram para quem sentisse dificuldade e, segundo, que, naqueles dias, havia trabalhado várias vezes com seus amigos, justamente numa atividade em que suas energias se convergiram, francamente, para seu adiantamento em diferentes áreas emocionais e intelectuais.

“Ele havia pedido que lêssemos as obras de Kardec e que reescrevêssemos os trechos com que discordávamos. Ora, não foi exatamente o que fiz quando analisei o episódio das tentações de Jesus, baseando-me, também, nos raciocínios do espiritismo nascente na Terra?”

Indo de um acontecimento a outro, Adonias pôde caracterizar todos os seus procedimentos como tendo origem nas recomendações e diretrizes estipuladas por Maciel, concluindo:

“Creio que perfiz todas as etapas requeridas.”

Naquele exato instante, recebeu o influxo de um coral, sem se manifestar exteriormente, como que repetia a sua mesma observação. Foi quando Maciel retomou a palavra, agora não mais articulada verbalmente, mas enunciada apenas de maneira telepática:

— Quero dar-lhes meus parabéns, porque todos vocês encerraram com distinção este meu curso de iniciação ao socorrismo evangélico superior. Em suas fichas, estão consignados os seus méritos e a sua nova condição de aprendizes, o que lhes permitirá freqüentar cursos mais adiantados, consoante a tendência específica de cada um. Como a sessão de hoje foi muito curta e tenho bastante tempo reservado para esta excursão à belíssima casa da Igreja Cristã da Misericórdia Divina, ponho-me à disposição de todos para alguns esclarecimentos particulares, cabendo aos meus amigos definir se querem ser ou não públicas as consultas. Vamos começar por aqueles que têm compromissos mais urgentes marcados para após a reunião. Venha cá, João D’Onófrio!

Aproximou-se da cátedra um rapazinho franzino, lépido e sorridente, que foi logo esclarecendo:

— Estou a ponto de me atrasar, Professor Maciel, mas não posso permitir-me sair sem que me esclareça um dado que me deixou curiosíssimo e acho que também a todos os meus colegas. Eu ouvi ser citado o meu nome em determinado trecho de sua peroração, mas acredito que cada um de nós ouviu o seu próprio. Estarei muito errado em supor que o nosso mestre tenha realizado um teste de resposta imediata, desejoso de saber se alguém iria ter uma reação fundamentada em algum sentimento menos correto, orgulho, vaidade ou coisa semelhante?

Houve uma onda de pura curiosidade, como nos estádios a multidão cresce em regozijo coletivo, levantando-se e sentando-se segundo um movimento que lembra as revoadas de pássaros a descreverem círculos pelo ar. Então Maciel respondeu:

— Adeus, meu caro. Vá em paz! A sua observação está corretíssima. Saiba apenas que, além de realizar uma avaliação positiva e necessária, também imaginei que poderia instigar esta sua pergunta, para que vocês todos meditem a respeito desta fórmula múltipla de comunicar, ao mesmo tempo, informações que, aparentemente, não têm nada em comum. Esclareço que a técnica é simples, bastando dominar as nuanças das vibrações, adequando-as para uma abertura individual em um momento determinado, quando o ouvinte, que nunca cessa de raciocinar, recebe o influxo do pensamento do orador, acrescentando uma informação positiva a partir de seu próprio nome, numa corrente psico-elétrica correspondente a uma resposta pessoal que é induzida coletivamente, pela manipulação das vibrações que se contêm nos fluidos, ou melhor, no conteúdo magnético de que se impregnou o ambiente durante o período de preparo da sessão. Vá, meu caro. Não se atrase.

Enquanto João saía, Maciel explicava:

— Para alguns, este domínio sobre os espectadores pode estar parecendo ditatorial. Não é. Ele só ocorre quando, conscientemente, cada pessoa se predispõe a receber as idéias e as sensações que julga que lhe serão úteis. Não é verdade que muitos estão desejosos de se habilitarem para este tipo de condução dos públicos reunidos para suas aulas, palestras, sermões?... Venha até aqui o meu querido Adroaldo.

Daí para a frente, Adonias se desinteressou pelas discussões particulares, enleado no que diria ou pediria ao professor quando chegasse sua vez. De resto, houve apenas mais dois que fizeram públicas as suas questões, chegando uma hora em que Maciel, tendo dispensado quase quarenta por cento da turma, explicou:

— Os que já se foram são criaturas abençoadas por um discernimento superior.; inscreveram-se porque desejavam renovar as orientações anteriormente recebidas, vários deles antigos alunos meus vindo de algumas sérias crises, tanto que não quiseram que seus problemas fossem testemunhados pelos colegas. No entanto, a bem da verdade, não houve um único que obstasse a divulgação dos temas de que tratamos porque afetasse aos próprios interesses.; todos quiseram preservar outras entidades, parentes e amigos recalcitrantes quanto a atender o chamamento evangélico do amor e do perdão. Por outro lado, as soluções aventadas envolveram conhecimentos que apenas socorristas com bastante experiência são passíveis de compreender, metodologia de nível superior a ser aplicada em casos específicos e complexos. Peço-lhes, pois, que me relevem esta atitude de reserva. Venha cá, Adonias.

De fato, o nosso herói havia manifestado o desejo de se apresentar, porque lhe ocorreu que, se ficasse para o fim, estaria perdido em suas lucubrações tendentes à fantasia, recurso excelente para debelar a premência das soluções quando do ajustamento às frustrações, mas absolutamente despiciendo quando se tem em mira um fato concreto avultando no campo das necessidades.

O contato entre os dois se deu mente a mente e se restringiu a ambos, que Adonias desejou perguntar a respeito de Fernando, seu pai. Mas começou reverenciando com extremos de admiração e profundo respeito a figura do mestre:

— Agradeço, Maciel, a sua prestativa atuação junto à nossa instituição e manifesto o meu entusiasmo por estar perante um ser superior. Quem me conhece sabe que não sou dado a elogios fáceis, de modo que queira aceitar o meu reconhecimento, porque lhe estou deveras agradecido.

Enquanto Adonias desenvolvia os seus pensamentos envoltos nas mais sinceras emoções, Maciel pousava sua mão sobre o braço do ex-sacerdote, mantendo suave pressão, como a lhe configurar que estava satisfeito com a repercussão de sua aula, ao mesmo tempo que lhe assegurava que estaria sempre disponível para as questões que oferecessem um grau de complexidade muito grande mas que devessem ser objeto de reflexão, de deliberação e de decisão mais imediata.

— Maciel, despertei para a realidade do etéreo há bem pouco tempo, como ainda restaurei minha memória pessoal mui recentemente. Dentre as personagens que me acompanharam num sentido bastante ruim e desagradável, encontra-se a figura de meu pai na derradeira peregrinação.

Maciel passou-lhe a informação de que captara completamente a situação relativa ao problema de como superar a dificuldade de relacionamento entre filho e pai e foi claro quanto a como Adonias deveria agir:

— Meu caro, quer parecer-me que existe uma questão pendente que a consciência de Fernando deve superar e que não diz respeito a você, propriamente. Veja bem. Eu não estou em condições de avaliar quem seja e como se encontra aquele ser. Nem sei se o faria, porque cabe aos responsáveis diretos pela assistência de cada um de nós a prestação do serviço socorrista. Mesmo quando formamos grupos que percorrem as regiões mais tristes, estamos atentos para as informações e pedidos que colhemos dos protetores e guias, ou dos parentes cujo amor, cuja simpatia, cuja amizade ou cujos débitos em fase de elucidação estejam exercendo pressão moral para que atuem em favor do infeliz. Isto necessariamente significa que você não deve assumir nenhum compromisso de resgate daquela criatura, em que pese você estar dividido entre as sombras de um passado de conflitos e a parca luminosidade de uma vida recente de certos cuidados e desvelos, dentro de um círculo de afeição forçada pelos processos químicos da benquerença terrena, que os efeitos dessa contingência não se deram com todo o vigor, porque vocês acabaram diante de uma situação de fato, o seu acidente fatal, acrescida pelo suicídio quase incompreensível de uma pessoa desejosa de estar de bem com a Igreja, tanto que ofereceu um filho ao sacrifício do sacerdócio. Deixemos de lado as circunstâncias e analisemos o fato em sua essência. Na verdade, o que poderia ter redundado numa longa e saudável convivência, porque você havia programado uma vida segregada quanto à constituição de uma família própria, o que correspondia aos anseios de seu progenitor, acabou sendo um óbice a mais para a superação dos dramas de outras eras. Você desconhece o estágio espiritual daquela pessoa. Eu lhe recomendo que investigue com muita cautela, porque um excesso de sofrimento poderá fazer que seu interesse repercuta naquela mente perturbada como um desejo de desforra. Ao contrário, se você descobrir que houve arrependimento e conseqüente clamor por perdão, se o seu pai não estiver preso nas malhas de outros débitos ou nas mãos de obsessores contra os quais deixou de lutar utilizando-se das mesmas armas, vamos dizer assim, então você poderá requisitar de uma equipe de socorro que alivie a sobrecarga das provações, encaminhando aquele filho de Deus a uma região menos sufocante, onde poderá receber o influxo inicial dos cuidados terapêuticos mais adequados para sua transformação. Não se esqueça de rogar constantemente pelo auxílio dos guardiães dele e seu, os quais poderão utilizar as suas boas ondas sentimentais em favor de seu pai. Vejo que você ainda não definiu com precisão os recursos de que dispõe para efetuar um estudo sério da situação. Mas leve em conta o que lhe defini como prioritário. Quanto ao seu curso, leio-lhe na mente que gostaria de encerrá-lo já na próxima conferência, segundo o modelo que lhe passei. No entanto, não faça isso, porque os seus alunos estão ainda carentes de novas apreciações a respeito das atividades de Jesus. Sugiro que se dedique aos processos de cura e de elaboração dos fenômenos tidos como milagrosos. Quanto à descoberta de suas antigas afeições, onde se encontram as pessoas a quem você dedicou amor e que lhe corresponderam, não tenha pressa, porque o mais comum, no caso de uma transposição recente de um setor de maior sofrimento para outro de alguma luz, é a gente se iludir com os próprios sentimentos, pensando ter tido um grande apego a algumas criaturas, quando, simplesmente, se resguardavam o egoísmo, o orgulho, a vaidade, o amor-próprio. As lembranças, por exemplo, dos avós, dos cônjuges, dos irmãos, dos pais, dos filhos, dos netos e assim por diante podem apenas refletir a ingenuidade dos primeiros tempos no mundo dos encarnados ou a respeitabilidade pleiteada junto aos que nos deram trabalho material ou espiritual, nos derradeiros tempos. Há vínculos reais? Há afetos verdadeiros? Então, vamos consignar um voto de confiança em que a misericórdia de Deus haverá de preservá-los para nossa felicidade oportuna. Fique em paz e que Deus o abençoe!

Adonias sentiu um forte aperto no coração, compreendendo, finalmente, que sua existência no âmbito das virtudes estava apenas engatinhando. Quis beijar a mão de seu confidente, mas deparou-se do lado de fora, para onde havia caminhado sem sentir. De qualquer modo, buscou mostrar-se reconhecido, elevando uma prece em intenção do restabelecimento de seu pai, com o pensamento voltado para Maciel, como sempre fizera em relação aos santos de que era devoto.
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