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Erotico-->4. ENTREVISTA COM O PROTETOR -- 11/11/2003 - 06:39 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Na manhã seguinte, acordou decidido a consultar o seu particular amigo e consultor, o Doutor Adão, a quem tanto devia em termos de se manter emocionalmente equilibrado.

O que tinha em mente era uma imediata submissão aos processos de restabelecimento da memória, porque estava perdendo sua identidade como sacerdote, sem a devida substituição como pregador evangélico nem como discípulo aplicado para o aprendizado do socorrismo. Em suma, pensava estar alheando-se de si mesmo, esfumaçando, como pensou, em uma nova personalidade fluida e amorfa.

Antes, porém, de procurar o médico, resolveu que deveria contar tudo a Alice, a qual lhe daria o primeiro conselho e, com certeza, o primeiro conforto moral, para que mantivesse sua paz de espírito e seu bom humor, justamente no sentido de poder encarar uma situação insólita dentro de todo um arcabouço perfeitamente estruturado. Como ele mesmo imaginou, não seria esse o caso de “perder as estribeiras”.

Alice, contudo, mandou dizer-lhe, por via telefônica, que estava tão ocupada naquele instante que nem atendê-lo poderia. Esperasse até o horário da próxima refeição. Isso fez que Adonias se imaginasse perdido, principalmente porque teria de passar não sabia quanto tempo vagando, sem ânimo para criar interesse fosse no que fosse.

Ia passando pelos longos corredores, quando ouviu gemidos numa das alas hospitalares.

“Será que haverá algo que eu possa fazer pelo infeliz sofredor?”

Não deu curso a semelhante raciocínio e se imaginou enfermeiro ou socorrista, alguém que tivesse por dever atender os irmãos em apuros, encaminhando-se rapidamente na direção de onde provinham, cada vez mais intensos, os reclamos por ajuda.

Era um petiz que soluçava nos braços da mãe e que se contorcia em dores. Os gemidos eram dela, que não sabia o que fazer para atenuar o sofrimento do filho.

Adonias chegou perguntando:

— Que foi? Que aconteceu? Que tem a criança?

E logo foi colocando a mão na testa do menino, a constatar a temperatura. Mas ele estava absolutamente gelado, como sem vida, embora se agitasse, debatendo-se, lamuriando-se sem articular palavra.

— A senhora já avisou os médicos? Algum enfermeiro já veio atendê-la?

Mas a mãe permaneceu em seu mutismo, como se nem percebesse a presença de Adonias.

Nesse momento adentrou uma equipe de médicos e paramédicos que, imediatamente, examinaram a criança, diagnosticaram o mal, medicaram e puseram o menino sob observação, enquanto um dos médicos dava instruções à mãe, que lhe agradecia sensibilizada, com palavras em que havia uma fartura de bênçãos, de Jesus, de Virgem Maria e de Pai de Infinita Misericórdia.

Só então um dos de branco observou a presença de Adonias e se dignou pedir-lhe:

— Padre, por favor, concentre-se numa prece pelo nosso irmãozinho que acaba de chegar.

Era o que Adonias melhor fazia. Por isso, recitou uma oração em que reunia o êxtase de um momento de lucidez com a mais absoluta compreensão de que havia uma utilidade em seu desenvolvimento espiritual, porque, ao derredor da mãe com o filho, se criou uma tela fluida protetora, que formou uma espécie de campo energético, como um cobertor que resguarda o calor e impede sua dissipação no frio do ambiente externo. Suas palavras estimularam muito especialmente a esperança, a fé e a caridade.; esperança em que o futuro imediato dos pacientes lhes prometia muita paz e tranqüilidade.; fé em que o Pai sempre lhes enviaria seres de superior qualidade para a ajuda consoladora e retificadora dos desvios de procedimento.; caridade porque Adonias fazia questão de que essa virtude transcendesse as duas figuras visadas e dessem resplendor aos membros da equipe ali reunidos em compungida atitude de respeito e colaboração com os sentimentos do sacerdote.

Quando percebeu que ficara sozinho é que Adonias recobrou a consciência da hora e do lugar, imaginando que Alice já deveria estar esperando por ele no refeitório.

Mas, ao lá chegar, ao invés de Alice, encontrou Adão, de quem recebeu um prolongado abraço, como de uma amizade que lançava raízes em profundezas da alma que ele não conseguia penetrar.

— Com que, então, o meu jovem palestrante deseja conversar comigo. Pois estou à sua inteira disposição. Antes que me esqueça, Alice me pediu para avisá-lo de que vai atrasar-se um pouco, chamada que foi a auxiliar em uma adaptação espiritual de risco.

As palavras não causavam mais em Adonias o empecilho do entendimento, de sorte que soube interpretar corretamente que se tratava de um caso de ajuste às circunstâncias existenciais de alguém que se imaginava ainda no plano terrestre. Por outro lado, esses problemas também não lhe provocavam entusiasmos de principiante, como se toda situação aflitiva merecesse imediata atenção. Desde que despertou para sua condição de espírito, colocou todos os problemas nas mãos de Deus, ciente e consciente de que o Pai sempre protege as criaturas, na justa medida em que estas correspondem ao seu divino amor.

Tais pensamentos correram pela mente ágil de Adonias em átimos de segundo, de modo que, sem transição, pôde dar uma resposta à observação de Adão:

— Entre o momento em que manifestei o desejo de conversarmos até este instante, ocorreu um fato que me deixou absolutamente enlevado com as minhas possibilidades terapêuticas, por assim dizer, na qualidade de pastor de almas ou, melhor dizendo, de sacerdote afeito às preces e, portanto, apto a integrar qualquer equipe socorrista para apoio meramente fluídico ou energético, que me faltam as palavras mais adequadas, no sentido, mais precisamente, da criação de um anteparo vibratório para introdução no ambiente de algumas forças emanadas dos espíritos superiores, como uma capa de chuva é capaz de impermeabilizar um pequeno trecho exposto, para que as vestes e a pele não sofram o impacto das águas. Então, eu, que temia pelo curso que comecei a ministrar e pelo fato de me ter visto sem equipe para as aulas do Professor Maciel, agora já posso considerar-me bem encaminhado, pronto para enfrentar os segredos de meu passado, pois utilidade já vislumbro para minha humilde personalidade. Será que meu amigo e protetor, meu mestre e companheiro, meu instrutor e mentor, meu excelso orientador...

— Diga logo que você quer que eu lhe abra a mente, ou melhor, a memória, para os fatos passados que possam favorecer-lhe sua imersão espiritual em um universo todo seu, para que sua personalidade se reconstrua por inteiro, mesmo que haja muitos problemas a serem resolvidos e que você corra o risco de profunda desilusão quanto, inclusive, aos feitos últimos na Terra e cá no espaço.

— Se for possível e recomendável, porque, quando você coloca esses muitos problemas como algo tão concreto, parece que está a me sugerir que irei frustrar-me a ponto de precisar de internação, se é que não vá cair, definitivamente, na erraticidade das profundezas do Umbral.

— Você não se esqueça de que os bloqueios são muito mais naturais do que provocados por nossos especialistas em implante de “microchips” inibidores das reminiscências mais pesadas, que poderiam pôr em alvoroço todo o sistema mental, causando desequilíbrios tais que se impediria o discernimento relativo ao apanhado gradual do acervo de conhecimentos que promovem um verdadeiro escudo intelectual para os assaltos da emotividade inferior. Vamos dizer que você descubra, por exemplo (e isso é apenas um exemplo), que, na peregrinação terrena anterior, tenha assassinado, por razões difíceis de compreender agora que está em paz consigo mesmo e com todas as criaturas de Deus, uma pessoa que, atualmente, tem estado com você, tem tratado de você, demonstrando não só que o perdoou como que criou uma afeição bem maior do que se poderia suspeitar depois de tão grave cometimento criminoso. Será que seu coração não irá acusá-lo de nada? Será que sua inteligência não quererá vasculhar o passado, até encontrar as razões que o levaram ao ato de loucura? Será que, uma vez imerso em uma realidade que se perdeu no tempo mas que a mente é capaz de reproduzir com tantos pormenores, não irá você se deixar embalar por aqueles sentimentos inferiores e infelizes, numa busca inconsciente de justificar, inclusive, o seu ato pelo concurso das circunstâncias? Será que você terá suficiente domínio de si, de suas emoções e de suas reações psíquicas, para compreender que aquela figura com quem você estava identificando-se já não existe e que agora, em seu lugar, se encontra uma pessoa capaz de praticar o bem, de refletir sobre os acontecimentos, relacionando causas e efeitos, e de perdoar incondicionalmente, abrindo perspectiva de muito amor para aquela pessoa que soube superar tão criativamente, tão evangelicamente, um transe fundamental para o relacionamento que se abalou de maneira tão intensa? Se tal estiver ocorrendo com você, saiba que a sua memória se abrirá naturalmente, ainda que os procedimentos de resguardo artificiais estejam implantados em seu cérebro. Terá você pensado que tenho o domínio de sua existência anterior e que partiria de mim a descoberta de quem você sempre foi, ou melhor, de quem você vem sendo nessa evolução psíquica pela qual todos estamos avançando?

Adonias, que se embebeu em todas as palavras de Adão, surpreendeu-se afirmando:

— Eu acho que, para exercer minhas funções nesta instituição, preciso enfrentar algumas dificuldades maiores e não apenas um certo alvoroço de ineficácia, tendo em vista a comparação que realizei entre a minha pobre apresentação e a fulminante demonstração de capacidade do Mestre Maciel. Eu acho que tenho escondida nas dobras de minha memória uma personalidade muito perversa, para estar a merecer resguardo tão grande. Mas se é como você diz, ou seja, que vou despertar naturalmente para a pessoa que sou como resultante da que fui, posso demonstrar que aprendi a ter paciência, pelo menos inconscientemente, dado que foram tantos os anos que passei iludido quanto a estar ainda vivo e quanto a estar trabalhando pelo bem das pessoas.

— Então, fiquemos assim: se você julgar que tudo por quanto venha passando na existência tenha importância, vamos começar por eliminar os fatos repetitivos, como sejam os tantos dias em que a gente nem nota, porque iguais uns aos outros, com um pouquinho a mais de elucidação cultural, um tiquinho a mais de melhoria ou de degeneração de desempenho físico, um nadinha de afeição que se recebeu ou que se deu a mais às mesmas pessoas, uma emoçãozinha mais caprichada quando se encerra algum ciclo de aprendizado ou de trabalho...

— Já entendi, preclaríssimo mentor. Você está a me sugerir que a minha preocupação está centrada em fatos expressivos, algo como as decisões que mudam o rumo de nossas vidas, como no exemplo do assassinato que você me deu ou do recebimento dos votos como sacerdote, ou do dia em que, de certo modo, renunciei a eles. Mas não é bem assim. O que eu gostaria mesmo de saber, voltando milênios atrás, é quem tenho sido eu e o que tenho feito, para me ver agora guindado a uma posição da mais alta responsabilidade...

— Responsabilidade relativa, porque o número de seus alunos, como você sabe muito bem, é reduzido e, mesmo assim, seu corpo discente se constitui de espíritos de certa evolução que não vão deixar-se embair, caso você lhes tente passar conhecimentos viciados por opiniões pessoais sem base nos princípios evangélicos, em desacordo com a programação que você anunciou e se propôs a ministrar. Conclua o meu pensamento: isto quer dizer que a pessoa mais ricamente...

Adonias não titubeou:

— ... mais ricamente aquinhoada com essa oportunidade de crescimento espiritual é o próprio expositor. Devo, por uma questão de lógica de raciocínio, acrescentar que, quanto a Maciel e sua aula, o proveito que ele possa estar extraindo reside justamente no ganho de novos discípulos para o plano da verdade, de sorte que seu número de amigos se amplia e isto vai constituir-se em mais focos de felicidade. Sendo assim, o mérito do meu mestre está em crescer objetivamente e o meu ainda se situa no estreito círculo do “subjetivamente”.

— No entanto, meu querido sacerdote ou pastor, não é de pouca monta essa arguta exposição exploratória dos fatos de uma realidade que lhe interessa tão de perto. Por que, pois, dedicar-se a um passado misterioso, que só pode ter sido um cadinho de complicados sentimentos, desde que tão rigorosamente vedado ao conhecimento imediato, ainda que você se esforce por suplantar as deficiências de sua organização mental. Você entende que a lei de progresso vale para todos nós e que hoje sempre somos melhores do que antes? Responda-me como leitor das obras de Kardec.

— Claro que sim! Já foi o tempo em que eu esperava que a cada pequenina ação em prol dos meus semelhantes se acenderia mais uma estrelinha no céu de minha ditosa condição de bem-aventurado, merecedor de todas as regalias do reino do Senhor.

Nesse instante, desenhou-se claramente no campo de visão íntima de Adonias, um quadro meio apagado em que sua mão se erguia munida de um punhal e se abatia contra um corpo que mantinha preso entre as pernas. Era um retrato esfumado, como se de sua fúria partisse em ondas de ódio uma vibração que enegrecia todos os seus meios de contato com a realidade, como se todos os seus sentidos estivessem concentrados nessa atitude mental que lhe parecia obstar, com a morte do espírito, toda possibilidade de futuro, muito mais do que o decesso daquele que se contorcia nas vascas da morte.

Adonias apertava as mãos do amigo, indicando-lhe que algo estava acontecendo consigo, justamente no campo de memória que se abria. Mas não se surpreendeu que tudo se apagasse repentinamente, quedando a forte impressão de que o relato do amigo lhe provocara a reminiscência dolorida. Ao invés, no entanto, de mergulhar no passado a ver se descobria algo mais relativo à situação crucial do assassinato, preferiu volver ao plano presente, descobrindo que estava no refeitório, ao lado do médico, onde muitas pessoas se alimentavam alegremente, conversando, sem darem atenção a seu drama pessoal, como se o universo não se tivesse afetado por tão graves descobertas.

Foi quando o incentivou o protetor:

— Vamos orar, porque a misericórdia de Deus é infinita.
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