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Erotico-->26. ENCONTRO INSÓLITO -- 02/10/2003 - 10:42 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A correspondência foi interrompida por Anacleto, porque percebeu que não desejava ceder aos argumentos dos pais e viu, com clareza, que estes também não dariam o braço a torcer. O principal, que era a descrição de suas vidas, estava revelado.

Um belo dia, ou melhor, uma noite, sem prévio aviso, os irmãos vieram visitar os pais,
encontrando-os, por indicação de Dona Antonieta, no centro espírita.
Ovidinho e Cleto tiveram excelente desculpa para conhecerem o ambiente freqüentado pelos pais, não sem solicitarem a proteção de Deus, para que fossem afastados os demônios.

Era noite de palestra de Ariovaldo, de modo que foi possível a Plínio conduzir os filhos até a parte dos fundos, onde Margarida ajudava na preparação do lanche a ser distribuído aos “sem-teto” dos arredores.

Margarida não derramou lágrima nenhuma, mas abraçou ambos os filhos, falando-lhes com ternura da saudade que a vinha maltratando.

Foi Ovidinho quem abriu o jogo:

— Mãe, preciso que você saiba que me arrependi por tanto sofrimento que lhes causei. Quando me pego pensando nos palavrões que disse, sinto um nó tremendo na garganta...

— Vidinho, essas águas não movem moinho, porque já passaram. Agora você está outro, estudando, trabalhando, ajudando o Cleto e a sua igreja...

Foi a vez de Cleto:

— Ele está fazendo o melhor que pode, mas ainda está procurando certas companhias muito ruins. Os pastores já me disseram que ele não deve ir aos bailes da perversão...

Plínio interveio:

— Mas ele está na idade. Se não fizer isso agora, nunca mais.

Cleto explicou:

— Eu não sou contra. Apenas acho que está correndo sérios riscos, porque a droga corre solta e ele já deve ter cedido algumas vezes...

Ovídio observou:

— Por que não vamos conversar em casa? Acho que aqui o ambiente não é apropriado...

Na verdade, Plínio e Margarida estavam aflitos, com as pessoas incomodadas pelas declarações que anunciavam iminente conflito, contudo, não foram embora, uma vez que Plínio fazia questão de apresentar os moços aos companheiros mais chegados.

Não conseguiu arrastá-los ao salão da conferência, mas alcançou que visitassem o prédio, mostrando-lhes a sala de costura, a biblioteca, algumas salas de reuniões, vazias no momento, a despensa, ao lado da cozinha, a secretaria e os livros contábeis, o depósito onde se guardavam os volumes a serem expostos nas feiras, para a venda ao público, e a pequena tipografia, para a impressão do boletim mensal, com os artigos dos próprios diretores, a prestação de contas e as notícias de praxe das programações fixas e ocasionais. Sobretudo, queria tornar evidente que as pessoas trabalhavam com muita alegria, constituindo aquela sociedade uma verdadeira família, onde todos se dedicavam ao próximo.

Quando encerrou a exposição, Ariovaldo fez questão de abraçar ambos os jovens, perguntando, sem peias na língua:

— Vocês abandonaram as drogas e o tráfico, definitivamente? Eu pergunto isso porque nós mantemos um serviço de assistência e de esclarecimento a viciados e suas famílias, com pessoal especializado, podendo, se preciso, encaminhar aqueles em pior estado para clínicas de desintoxicação. Pena que não deu tempo de salvar o seu irmão Ari, que se encontra bem numa colônia no plano da espiritualidade, conforme os nossos guias nos têm informado.

Cleto sentiu o aguilhão das provocações e redargüiu:

— Doutor Ariovaldo, nós sabemos que o senhor está a par de nossa confissão como membros de uma igreja que não admite o relacionamento entre vivos e mortos. Por isso, estranho que esteja falando nesses termos conosco. Para não ser acintoso, eu lhe peço que deixe essa discussão pendente.

Ariovaldo não quis dar-se por vencido por aqueles jovenzinhos atrevidos e se dispôs a enfrentá-los:

— Sei que vocês não irão recusar um presente que espero venha a ser útil, ainda que para lhes fornecer material contra que investir em suas pregações.

Ato contínuo, pegou na estante um exemplar de “O Livro dos Espíritos” e outro de “O Livro dos Médiuns” e deu um para cada um, anotando:

— Vocês não precisam acreditar em nada do que está escrito. Nós mesmos partimos do princípio de que crer sem raciocinar não é o caminho para a verdade. Por isso, quando não entendemos certas passagens, levamos os problemas aos nossos grupos de estudos, onde discutimos até que a luz se faça.

Enquanto Ovídio se deixava empolgar pela simpatia e pela coragem do médico, Cleto punha-se de orelhas em pé, para a percepção de como satanás trabalha para captar os incautos que se julgam protegidos por seres de outra dimensão. Insistia em pensar que era assim que se criavam as ilusões e se construíam os monstros mitológicos. Nenhum dos dois, porém, disse mais nada além de simples agradecimentos.

Plínio e Margarida tinham os corações apertados, porque sabiam do poder de resposta dos filhos. Se ficassem irados, iriam causar problemas. Mas, como não notassem nenhuma rebeldia à flor da pele, muito se admiraram por aquele desconhecido controle emocional.

Retirando-se Ariovaldo, vieram Silvinho e Moacir para as apresentações. Estes fizeram questão de demonstrar que o escritório do trio ia de vento em popa, graças à atuação emérita do presidente da sociedade. E se despediram, porque estava na hora da distribuição da comida e dos agasalhos.

Foi de Silvinho o convite:

— Vocês não querem ir com a gente?

Plínio falou por todos:

— Nós gostaríamos, mas faz tanto tempo que não nos vemos...

— É justo. Fica para outra hora — reconheceu Moacir.

Cleto não quis ficar por baixo:

— Na nossa igreja, fazemos mutirões de ajuda aos marginais, duas vezes por semana, distribuindo comida, cestas básicas, roupas e brinquedos. A humanidade está precisando de pessoas que pratiquem o amor que Jesus ensinou.

Ao passarem pelo corredor que levava ao auditório, Ovídio interessou-se pelo quadro de avisos, enquanto os demais foram conhecer o salão das conferências. Foi assim que o rapaz pôde constatar que Plínio omitira o fato de estar trabalhando muito ativamente junto às entidades espirituais, porque estavam ali duas mensagens assinadas, com a clara indicação dos médiuns. Numa delas, lia-se o nome do pai. Sorrateiramente, como se estivesse a pregar alfinetes, sem que ninguém percebesse, furtou a folha, guardando-a no bolso do paletó.

— Temos de voltar ainda hoje — informou Cleto.

— Vocês precisam dar uma passadinha em casa, para ver como é que estamos pondo tudo em ordem. Vocês sabiam que eu vendi quase tudo?

— Você mencionou numa das cartas.

— Espero que não fiquem espantados. Vamos até lá, a mãe faz um cafezinho e depois vocês vão embora. Estão de carro?

— Com chofer e segurança, porque o Bispo Moisés fez questão que tudo desse certo.

Margarida logo deduziu:

— Se eles contarem para onde vocês vieram, o bispo não vai reclamar?

— Depende do que a gente disser.

Plínio desejou fazer a interpretação:

— Entendi. Vocês vão dizer que tudo o que viram está errado e vão poder discutir com os outros...

Cleto foi mais longe:

— Nós vamos dizer que viemos convidar nossos pais para ingressarem em nossa igreja e que eles quiseram demonstrar que a verdade se encontra no centro espírita.

— Mas isso não está certo!...

— Claro que está, ou vocês aceitam ir amanhã a um de nossos templos? Vão dizer que não. E por quê? Porque acham que a verdade está com o Espiritismo. Não é óbvio?

O restante da viagem deu-se em silêncio, até que os dois carros pararam na frente da residência da família. Enquanto Plínio manobrava, Margarida foi entrando com os filhos. Em seguida, o marido foi convidar os dois acompanhantes para entrarem, mas estes gentilmente recusaram o convite, afirmando que tinham ido tomar um lanche no bar, enquanto esperavam perto do centro.

Assim que Plínio chegou de fora, Ovídio disparou:

— Que coisa, hein, pai! Você deu sumiço em quase tudo.

— E o dinheiro apurado entreguei ao sujeito que você mandou aqui para fazer a tatuagem. Esqueceu?

— Mas eu empreguei aquela quantia bem melhor. Se não fosse isso, hoje eu estava ainda atrás das grades.

Margarida queria mostrar as novidades:

— Vejam que nós pintamos, nós mesmos, todos os cômodos, enquanto o seu pai não montava o escritório. A sala está vazia mas está limpa, pronta para receber os móveis, assim que o dinheiro der. O nosso quarto está completo, até com alguma roupa nos armários.

Cleto se interessou pelas notícias:

— Quer dizer que o pai deu cabo de tudo, mesmo?

— Algumas coisas foi o Ari quem vendeu. Aquela foi a droga que o levou de nós — informou a mãe.

Ovídio quis saber do dormitório dos meninos:

— Quero ver como está o nosso quarto.

Plínio passou o braço por sobre os ombros do garoto e o conduziu até lá:

— Depois que a polícia levou toda a droga que encontrou...

Não prosseguiu. A dependência encontrava-se totalmente vazia, com uma porta nova nos fundos.

Deu a impressão a Ovídio que o pai lhe fazia uma cobrança. Não teve dúvida em esclarecer:

— A “bobeira” foi minha. Deixei de manhã.; à noite, veio a “batida”. Nem Cleto nem Ari sabiam de nada. A mãe sempre limpava o quarto e, naquele dia, estava tudo em ordem. Pensei que não tinha importância.

Foi Cleto quem interrompeu as confissões:

— Que porta é aquela?

O pai foi até lá, abriu-a e mostrou um novo banheiro:

— Transformamos o quarto em “suite”. Vocês estão verdadeiros homens. Se vierem visitar a gente, vão ser recebidos com as regalias de hóspedes. Se quiserem voltar a morar aqui...

Cleto foi pondo um fim na conversa:

— Vai ser muito difícil, porque a polícia está atrás de nós, principalmente do “carinha” que atacou o “delega”. Mas onde estamos está muito bom. Vocês sabem que o Vidinho mora no templo? Ia ficar uma semana, está lá faz quase um ano.

— O que é que viram nele?

— Presta todo tipo de serviço, desde comprar coisas até distribuir panfletos, levar convites, escrever cartas, receber pessoas que desejam conversar com os pastores e bispos etc. Por isso é que estão de olho nele, quando vai aos bailes, às festinhas de embalo...

Ovídio protestou:

— Você tem futuro, porque fala com desembaraço e o povo gosta do seu tipo. Pai, sabe o que acontece nos dias em que ele dá o seu testemunho? As cestas se enchem muito mais de contribuições. Isso é fundamental.

Cleto não gostou da revelação:

— As pessoas dão porque querem. Não é o que acontece no centro espírita?

Chamado à discussão, Plínio livrou-se logo:

— Na casa espírita, ninguém paga o dízimo, nem por livre iniciativa.

Cleto viu um rico filão:

— E de onde vem o dinheiro? Cai do céu?

— Mais ou menos. Você recebeu um boletim. Leia com cuidado para saber de onde vem o ativo. Verá que o principal é de uma pequena verba do governo. As contribuições dos sócios são pequenas e cada um dá quanto quer. Muitas vezes, precisamos fazer campanhas, porque a venda de livros não é grande Mas tudo isso está escrito. Leia. Você vai ver que não temos grandes ambições.

— E quem paga os diretores e funcionários?

— Os diretores e todo o pessoal que ali trabalha são voluntários.

— Ninguém recebe nada por fora? Não há desvios de verbas?

— Talvez isso possa acontecer em alguma instituição mal informada quanto às recompensas e castigos do carma. Em nosso centro, Moacir e Silvinho trazem tudo muito bem contabilizado.

— E o “caixa dois”?

— Não existe nenhuma contabilidade fora dos estritos mandamentos da moral cristã nem das leis humanas.

— Por isso é que vocês são tão pobres...

— Quanto às riquezas da matéria, estou de acordo. É que fazemos questão das riquezas do céu, aquela que a ferrugem não corrói... Complete!

— Os ladrões não roubam...

— Foi você quem disse. Mas, se você pensa que vou perguntar a respeito das finanças de sua igreja, está muito enganado. Para nós, cada um deve cuidar e muito bem de seu próprio progresso. Basta que Deus seja por todos os seus filhos.

Tendo escapado das denúncias do irmão, Cleto se enroscou nas virtudes do pai. Mas não se deu por achado:

— Se é para citar, você deve ter lido a passagem daqueles que receberam em dobro os talentos que aplicaram. Existe também os que semearam em bom terreno, tendo colhido trinta e mesmo cem por um. É nas “Escrituras Sagradas” que haurimos os dons, as bênçãos e o amor de Jesus, do Espírito Santo e do Pai.

Plínio não quis ir adiante, contente pelo rumo dado pelo filho aos pensamentos, rechaçando tacitamente o tráfico e os entorpecentes. Por isso, apenas agradeceu mentalmente, enfatizando o término da oração:

— Graças a Deus! Amém, Jesus!

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