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Erotico-->7. COMEÇAM OS TEMPOS DE ANGÚSTIA -- 13/09/2003 - 06:25 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

As tribulações pessoais de Plínio principiaram logo no dia seguinte às declarações que precisou realizar no distrito policial. Tendo deitado tarde da noite, não conciliou o sono senão depois das três da madrugada, imaginando quanta maldade se poderia fazer contra um jovem de quinze anos. Não estranhou que Cleto não voltasse e que Ari, o caçula, se trancasse no quarto, não deixando a mãe entrar.

Naquele primeiro dia, não foi trabalhar, tendo ligado para Moacir, que tomasse o seu lugar e fizesse o possível para dar andamento às providências funcionais.

Ao meio-dia, bateu à porta do mais novo:

— Ari, saia já que precisamos conversar.

O rapazote de treze anos era o mais malcriado dos três, com a língua solta e o pensamento rápido. Atendeu de pronto, abrindo a porta ao primeiro chamado, mostrando olhos inchados e seguindo o pai até a cozinha.

Margarida punha na mesa as sobras do dia anterior, ela mesma incapacitada para os serviços rotineiros. Esperando, talvez, alguma censura do marido, não comentara nada a respeito dos acontecimentos da véspera.

Plínio apontou uma cadeira para o filho e outra para Margarida. Esperou que se sentassem e começou:

— Não temos como esconder que a nossa família está se esfarelando. Não posso condenar ninguém, porque seria preciso começar comigo mesmo. Tenho a certeza de que você — falava com a esposa — não sabia da existência das armas nem das drogas. Mas o mesmo não posso dizer de você — e apontava o dedo para o filho. — Fale alguma coisa em sua defesa.

Ari não esperava reação tão comportada do pai, sempre alheio a tudo, imerso nos programas da televisão durante cada segundo que permanecia em casa. Lembrava-se de que o pai redobrava as horas extras de trabalho e desaparecia de casa nos finais de semana, quando ele mesmo estava lá para comprovar. Em todo caso, a sua preocupação atual não lhe permitia ficar analisando o procedimento paterno. Achou que falar a verdade completa seria um exagero e mentir, um perigo. Optou por meias verdades:

— Eu sabia que Ovidinho e Cleto traziam essas coisas para casa.

— Por que você não contou nada para nós?

— Para apanhar deles?!...

— Podia ter falado em segredo. Você sabe muito bem. Não queira vir com essa por cima de mim. Que pensa que vai acontecer agora com você?

— Os “meganhas” vão ficar de olho para me pegarem.

— Quer dizer que você vai ter de parar com o tráfico?

Como Plínio gostaria de que o filho o desmentisse! Entretanto, precisou ouvir uma confissão que não queria:

— Eu só vendia o que os outros me obrigavam.

— Você só vende? Não fuma? Não se pica? Não cheira?

— Eu não ia ficar de “bobeira” no meio da turma...

Falou preparadinho para sair correndo, com medo de uma agressão do pai. Mas não foi tão esperto que não recebesse um tapa no braço desferido por Margarida. A mãe segurava apertado um lenço úmido na mão esquerda, todavia, precisava demonstrar que tinham de agir com energia.

Foi o bastante para que Ari se aproveitasse do momento de fraqueza emocional da mãe, disparando porta afora, deixando o pai sem saber o que fazer. Em outros tempos, talvez Plínio ficasse furioso por se ver frustrado quanto à intenção de convencer o filho a manter um diálogo esclarecedor. Agora, não queria perder a boa vontade da mulher:

— Margarida, por favor, me deixe tomar conta da situação. Eu sei que você está envergonhada, tanto que procurou ajuda no centro espírita. Não posso dizer que eu tenha gostado de não ter contado nada...

A esposa não estava para amenidades:

— É esse seu jeito “molenga” que pôs a perder as crianças. Se tivesse sido enérgico, na hora certa, as coisas não tinham tomado esse rumo. Agora vem com conversinha fiada “para boi dormir”. Veja se acorda, homem de Deus! Os nossos filhos estão perdidos. Você acha que Ovidinho vai sair do Abrigo de Menores disposto a beijar as nossas mãos? Ele vai voltar revoltado, isso sim, porque vão bater nele, vão fazer misérias... Onde se viu ameaçar de morte um delegado!...

Plínio ouvia mudo, não se importando com nada que a mulher lhe dissesse, porquanto a consciência lhe apontava para acontecimentos morais de que ela não suspeitava. Acordara duas horas antes de levantar e ficara sonhando com o desfalque e com a fuga. Insistia nessa quimérica viagem para outra realidade e se desligava dos problemas familiares, como se tudo que estava ocorrendo não lhe dissesse respeito. Alheava-se do contexto da vida para divagar, cada vez mais seguro de que havia perdido a juventude junto à mesa de trabalho. Por isso, disse à esposa o que não conseguira falar ao filho:

— Veja o que vai acontecer com o Cleto. Não vai poder regressar para casa, porque a polícia põe a mão nele assim que mostrar o nariz. O Ovidinho vai ficar mofando entre rufiões da mesma laia, aprendendo tudo que não presta, se é que não está ensinando. O Ari, assim que procurar o primeiro fornecedor ou acender o cachimbo de craque, vai ser recolhido, porque os investigadores estão de olho nele. Você, querida, vai ter de voltar ao centro espírita e vai ficar “enchendo a paciência” daquele pessoal, rogando para que intervenham em favor do Ovidinho. E vai procurar a diretora da escola, para saber se Ari tem freqüentado as aulas...

— Isso tudo eu já fiz. Você é que está “por fora”. O Ovidinho ficou sem ir às aulas no último semestre. Hoje eu ia levar o fedelho à força, porque ela me garantiu que ele não perdeu o ano ainda.

— Mas, como, se ele não sabe nada?!...

— Aulas de reforço que estão obrigando os professores a dar. Mas isso já não importa mais. Do jeito que ele saiu daqui, vai desaparecer como o Cleto.

— Não vai. Eu acho que está com muito medo e deve querer dar a idéia de que não tem nada com as atividades dos irmãos.

— Vai ser muito difícil os colegas dele se “mancarem”. Como é que vão segurar a língua mediante as ameaças ou a malícia dos investigadores?

— Entre eles impera a lei do silêncio. Se um falar, todos caem. E o que fala tem de sumir do mapa, porque vai se ver com os outros.

— Que Deus o ouça!

— Não ponha Deus na conversa! Ele não...

— Não diga “não” para o Senhor!

A reação era nova e Plínio ficou assustado com a firmeza de Margarida. Resolveu sair “de fina”:

— Eu vou com você ao centro espírita para me entender com o Moacir e o Sílvio.

— Esses dois são “cafés pequenos”. Lá tem advogados e médicos para orientar as pessoas ignorantes como a gente.



Chegamos ao ponto em que pretendíamos colocar as personagens. Vamos deixar para o próximo capítulo as informações relativas aos problemas técnicos, pedindo escusas por voltarmos a elaborar mais um trecho da narrativa sem demonstrar as reações dos protetores e obsessores dentro do plano espiritual. Saldanha, evidentemente, corria de um lado para o outro, preocupado em minimizar as conseqüências dos atos, crente, porém, de que a misericórdia e a sabedoria de Deus são infinitas.

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