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Erotico-->3. OS BONS COMPANHEIROS -- 09/09/2003 - 06:47 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Ao retornarem os funcionários para o turno da tarde, Moacir e Silvinho chegaram conversando e animados. Dizia o primeiro:

— Não é verdade que todas as pessoas não dizem o que pensam, não se revelam, não se ajustam às regras morais superiores. Pelo menos, algumas que conheço fazem jus ao título de honestas e verdadeiras.

Correspondia o segundo:

— Desde que você me levou ao centro espírita, tenho reparado melhor no procedimento das pessoas e posso assegurar que conheço bem poucas que são como você está dizendo. Não perdem oportunidade de se aproveitar das fraquezas dos outros, para benefício próprio.

Esse rabinho de prosa foi tudo que Plínio ouviu, suspeitando, no íntimo, que também aqueles dois não se enquadravam entre os mais puros.

“Em todo caso”, pensou, “posso colocá-los à prova, sugerindo que procedam de forma errada, atraindo-os para alguma armadilha. Mas tenho de informar ao Silvinho que deverá sentar-se ao meu lado, porque foi ele o predileto do Simões. Por mim, chamava o mais lerdo.”

Ato contínuo, chamou Silvinho:

— Você aí do “benefício próprio”, venha comigo, por favor.

Silvinho e Moacir trocaram olhares interrogativos, no entanto, não atinaram a que vinha a inusitada convocação.

— Pronto, senhor!

— Venha comigo!

Percorreram de volta o corredor central do salão, até o hall de entrada, conduzindo Plínio o subordinado até um banco lateral, onde se acomodaram.

Parecia a Silvinho que algo muito grave estava para ser-lhe revelado e logo foi antecipando:

— “Seu” Plínio, o senhor está me deixando assustado!

— A notícia é boa. O Simões vai aposentar-se e quer que alguém ocupe o meu cargo, porque me ofereceu o de diretor. Eu escolhi você, por causa de seu empenho em aprender. Em pouco mais de dois anos, você já é meu braço direito.

Silvinho, entretanto, não demonstrava alegria. Ao contrário, até um mau fisionomista teria visto que o cenho se lhe carregava e a cabeça descaía. Era tão flagrante a transformação que Plínio observou:

— Que está acontecendo, rapaz? Não ficou feliz com a promessa de melhor salário e de progresso na carreira?

— Vendo por esse modo, só tenho de agradecer ao senhor a preferência pela minha pessoa.

— Que outro modo há para ver?

— Acho que meu colega Moacir merece mais do que eu.

— Bobagem! Ele vai muito devagar. Você tem três anos a menos na empresa e faz coisas em que ele passa batido. Eu bem que falei para o patrão que o Moacir podia sentir-se injustiçado mas ele me garantiu que punha todas as coisas no lugar.

— Quer dizer que o chefe já se definiu por mim?

— Praticamente. Deixou-me à vontade para decidir.

Saldanha sacudia a cabeça em franca desaprovação. Não gostava das mentiras que Plínio ia salpicando na vida. Desde longa data, vinha frustrando o pupilo, instigando os demais à descoberta da verdade. Mas o homem não aprendia com a vergonha e os carões.

Silvinho aproveitou a deixa para enfatizar:

— Posso ser absolutamente sincero com o senhor?

— Claro!

— Eu concordo que Moacir tem alguma dificuldade. Mas é firme como uma rocha. Depois que aprende, não se esquece mais e sempre aplica corretamente o princípio assimilado.

— Veja você, Silvinho, uma coisa. Se eu estivesse conversando com ele, não iria ouvir palavras ditas com tanta precisão, com tanta certeza. Mas entendo o seu coleguismo, porque vocês estão se dando muito bem.

— Se o senhor eleger o meu amigo, garanto a retaguarda e passo a vigiar o serviço dele, até que conheça tudo. Veja que o senhor ganha duplamente, porque não serei apenas eu quem irá se inteirar das atribuições de seu cargo.

— Quero ver se entendi. Corrija-me, se estiver errado. Você foi levado a um centro espírita pelo Moacir, conforme ouvi os dois conversando. Certo?

— Correto!

— Aí você está se sentindo preso a ele, como se devesse algo de muito valor.

— Com certeza!

— Eu ouvi você dizer (como é mesmo?) que “a maioria se aproveita da fraqueza dos outros para seu próprio bem”...

— O senhor tem excelente memória!

— Agora você quer manter a sua posição, ou seja, quer ficar entre os melhores, aqueles que agem com lealdade, sem hipocrisia...

Não foi difícil a Silvinho compreender o tom irônico do discurso. Mas não fez menção de se importar, insistindo:

— Eu não recuso a sua oferta, que acho muito generosa e me envaidece. Mas não posso deixar Moacir na berlinda, mesmo porque eu sou solteiro e ele é pai de família, precisando muito mais do que eu melhorar o salário.

Plínio fez um gesto que alegrou Saldanha, embora visse muito bem que havia, no fundo do coração do protegido, a corroer-lhe a benfeitoria, a primitiva intenção de manter o seu substituto sob controle. Plínio abraçou o subalterno, dizendo-lhe ao ouvido:

— É de amigos assim que a humanidade está necessitada.

— Aprendi com Jesus, lendo “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec.

A referência clara ao livro doutrinário, porém, não repercutiu na mente do chefe como gostariam Silvinho e Saldanha.

Voltando ao escritório, Moacir foi convidado a juntar-se ao grupo, tendo ficado imensamente emocionado com a proposta que Plínio lhe fez, mais ainda quando soube, por boca deste, que tinha sido Silvinho quem insistira para que o escolhido fosse ele.

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