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Erotico-->AS AVENTURAS DO PADRE DEODORO EM CAMPOS ETÉREOS — XLI -- 27/08/2003 - 08:16 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

— Não se atreve em sinal de respeito ou por colocar-se em zona de fé cega em todas as exposições arroladas pelo Professor Rivail? — A pergunta vinha de Eufrásio, que adentrava o ambiente na companhia de três professores, conforme rapidamente passou ao conhecimento de Deodoro.

Ao fazer menção de responder, o Monsenhor foi obstado por um gesto categórico e uma palavra orientadora de um dos professores:

— Meu amigo, sei que a sua mente está volteando em torno das questões pertinentes aos tempos anteriores ao Espiritismo e aos resultados das pregações da Igreja Católica, dois milênios após o advento do Cristo. Como está sob o influxo das confirmações existenciais do que Kardec escreveu, se sente inibido em confrontar-se com as suspeitas de que o Espiritismo teria vindo auxiliar a obra das religiões, tanto que, de início, o Codificador pretendia reunir ao derredor das mesas mediúnicas os representantes de todos os credos, porque não esperava nenhuma reação avessa ao sistema moral que os amigos do etéreo implementavam. Mas à História coube comprovar que estava errado, porque a doutrina dos espíritos feria alguns pontos essenciais das diferentes igrejas, a partir das concepções delas referentes às penas eternas, ou seja, à existência de um inferno e de um paraíso, o que originou a verdadeira perseguição de que foi alvo a teoria espírita desde o princípio. Tanta discrepância entre os homens em sentirem os efeitos das palavras obtidas por meios mediúnicos, obrigou Kardec a refugiar-se na doutrina como filosofia de vida. Estudou em minúcias as camadas sociais que lhe propiciavam os adeptos, admirando-se muito de que até operários se dedicassem às teses espíritas e passou a considerar o futuro como o ninho da geração que iria deflagrar, finalmente, a explosão teórica que pulverizaria os dogmas de fé, através da implantação dos conceitos científicos divulgados pelos processos pedagógicos da Educação, que se expandia à sombra do nascente capitalismo oriundo da industrialização possibilitada pelas descobertas recentes da eletricidade e das máquinas a vapor. Tanto foi assim que fez publicar, meio a toque de caixa, um libreto dentro da mais avançada retórica científica, libreto que há tempos vinha elaborando, reunindo, ao que chamou de “A Gênese Segundo o Espiritismo”, os estudos que manteve na gaveta desde que dera ao prelo as apreciações morais sobre os Evangelhos, constituindo-se na segunda e na terceira partes de “A Gênese, os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo”. Todavia, se você se dispuser a revelar os meus informes ao público encarnado, ressalve o aspecto particular de minhas conclusões, porque muitos haverão de requerer-lhe que comprove o que estou dizendo. Aí, cite o fato de que o cerne dessa obra está no capítulo sexto, “Uranografia Geral”, uma série de mensagens psicografadas pelo brilhante jovem médium e astrônomo Camille Flammarion (vinte e um anos) e assinadas “Galileu”, nos anos de 1862 e 1863, cinco anos antes, portanto, da divulgação delas através da obra. Mas o que se encontra de mais importante nesse livro, para o nosso ponto, está na conclusão, no último parágrafo do item trinta e cinco do capítulo dezoito. Permita-me relembrá-lo: “Os incrédulos rirão destas coisas, e as tratarão como quimeras.; mas qualquer coisa que digam, não se furtarão à lei comum.; eles cairão a seu turno como os outros, e, aí, que virá a ser deles? Eles respondem: Nada! — mas eles viverão a despeito de si mesmos, e serão, um dia, forçados a abrir os olhos.” Isto significa que o Espiritismo se considera o caminho único para a salvação dos pecadores? Jamais, e Kardec fez questão de enfatizar que a salvação está na caridade, longe da qual ninguém evolui. Não obstante, mesmo que a vida das pessoas transcorra de conformidade com todas as leis cósmicas, ninguém avançará destas esferas para os círculos mais adiantados sem compreender os mecanismos operacionais dos fluidos, exigência mínima para que se possa freqüentar, com direito de cidadania, as regiões quinta-essenciadas do Universo. Fazer o bem é essencial, sem dúvida. Mas é preciso considerar pelo avesso a explicação evolutiva de Jesus, ou seja, que o que desejamos para nós é o que devemos pleitear para os semelhantes. Não está aí a razão de admitirmos que devemos trabalhar pela nossa própria melhoria? Não foi também por isso que você, Monsenhor, tanto se dedicou aos estudos durante a maior parte de suas últimas vidas?

— Professor Joaquim, permite-me Vossa Excelência um aparte para acrescentar? — disse Deodoro muito a medo perante a loquacidade do mestre.

— Permito qualquer coisa, desde que me chame apenas de Joaquim ou de Professor. Pelo retrospecto que li de suas andanças pelo etéreo, sei que você também pelejou para que se criasse clima de cordialidade e confiança amigável dentro do grupo que o seguia.

— Desejo apenas citar um fato notável que li na Revista Espírita, qual seja, o enorme sucesso obtido por um fascículo que reproduzia o capítulo primeiro da obra em questão, intitulado “Caráter da Revelação Espírita”, publicado em separata e que serviu para realizar a propaganda da obra. Cito esse episódio para confirmar a sua expressão “a toque de caixa”. Perdoe-me a pobreza da contribuição, mas, segundo Jesus, quem deu mais foi a viúva do óbolo...

O Professor Mário gracejou:

— Você não está querendo insinuar que a sua participação foi mais valiosa que a do Joaquim, pois não?

Aderindo ao clima de descontração, Margarida pilheriou:

— Vamos orar para que caiam sobre todos nós os confetes que estamos em vias de observar serem arremessados por uns contra os outros neste carnaval de erudição.

Coube ao Professor Marcelo restabelecer a seriedade da visita:

— Não repare, querido sacerdote, nas palavras de Joaquim. O mestre não perde vaza de ensinar. Se lhe permitir discorrer sobre este tema, ficará argumentando a favor de sua atitude pelo resto do dia e durante toda a noite. O que nos trouxe até você foi o desejo de apertar a mão de um recém-chegado com características intelectuais da melhor categoria. Eufrásio nos colocou a par de suas falhas emocionais, à vista de não se lhe abrir a memória para determinados eventos. Por enquanto, não deve preocupar-se com os rumos que serão dados às aulas, em função da elaboração de currículo escolar específico para a resolução dos seus problemas. Você será remetido ao orbe, conforme a “Congregação dos Docentes” decidiu, mas deverá fazer-se acompanhar de três protetores escolhidos por nós dentre os mais experientes. Está claro que Margarida e Eufrásio estão livres para formarem na comitiva, mas não se aferre a eles. Antes, é preciso unir-se às vibrações dos monitores, de modo que toda a viagem lhe trará o conforto da insensibilidade sentimental, com exceção dos instantes em que se encontrar com seus pais e outras pessoas queridas, com estas tão-somente se as suas reações lhe permitirem manter-se equilibrado. Você não vai correr o risco de ser seqüestrado por eventuais infelizes, porque manteremos a guarnição da colônia de sobreaviso. Explico-lhe como trabalharemos com você para firmar a garantia de que, qualquer venha a ser o resultado das entrevistas, retorne para cá mais consciente daquilo que precisará assimilar para principiar a percorrer os caminhos do socorrismo de nível superior. Deseja levantar alguma questão?

A pergunta era cediça. Marcelo apenas queria dar a vez a outro para responder, uma vez que grande parte de sua exposição se fez na resolução das perguntas íntimas de Deodoro.

— Gostaria de saber a razão de tantos cuidados.

Mário respondeu:

— A nossa experiência resulta, muitas vezes, da aprendizagem apoiada no princípio do erro e do acerto subseqüente. O sistema referendado pela casa constitui mera providência de rotina, fundamentado na prudência. Nem sempre as equipes são capazes de se esquivarem das turbas que habitam a crosta terrestre. Enfrentá-las com armas de contenção energética nem sempre repercute em suas consciências como um ato de simples conservação. Recorda-se dessa lei explicada em “O Livro dos Espíritos”?

— Encontra-se registrada a partir da questão de número setecentos e dois: “Constitui o instinto de conservação uma lei da natureza? — Sem dúvida, ele foi concedido a todos os seres vivos, seja qual for o nível de sua inteligência.; em uns, ele é puramente maquinal, e em outros, ele é racional.”

— Note que a resposta se refere a “todos os seres vivos” e nós estamos aplicando a mesma lei aos desencarnados. Quer saber como é que se correm riscos neste nosso caso?

— Se não for pedir demais...

— Pois os socorristas seriam prejudicados se se permitissem alhear-se dos sofrimentos dos malfeitores. Podem afastá-los mas a sua formação provoca-lhes profundo mal-estar, pela impotência diante do necessitado.

— Mas a guarnição a que Marcelo se referiu não promoverá essa mesma insatisfação nos que forem rechaçados?

— Receba uma primeira lição, meu filho. A guarnição é de apoio energético aos ofensores, de sorte que têm eles, momentaneamente, esclarecidos os atos que praticam à luz da moralidade cristã. Os que se envergonham e se arrependem, o que muito dificilmente acontece, são trazidos para a colônia ou encaminhados para algum setor assistencial de emergência mais adequado para os primeiros socorros. A maioria fica perplexa com o repentino gesto de amizade e retrai-se de volta ao local de onde saíram, confusos ou agastados consigo mesmos pela fraqueza demonstrada.

Acostumado a concentrar-se nos pensamentos que se constituíam em novidade, Deodoro iniciou o seu processo de recolhimento consciencial mas foi impedido por Eufrásio:

— Não queira, absorto amigo, deixar-nos aguardando os seus devaneios filosóficos ou noéticos. Têm os mestres mais que fazer. Aprenda a guardar as impressões subjetivas para posterior reflexão sobre elas.

Deodoro não se apertou:

— Eis que recebo a segunda lição.

Margarida intentou justificar a atitude do companheiro:

— Noventa e sete anos de vida devem ter representado, pelo menos, uns vinte e tantos de aposentadoria, de sorte que o hábito da meditação está arraigado em sua mente.

— Obrigadíssimo, querida, agradeceu o Monsenhor, demonstrando na aura a confusão de sentimentos de que foi assaltado, entre os de envergonhar-se pelo socorro feminino perante pessoas tão importantes e o de reconhecer-se em falta pela indelicadeza da subtração da personalidade espiritual da reunião promovida em seu favor.

Foi o Professor Joaquim quem pôs os pingos nos is:

— É de todo louvável que as pessoas adquiram os hábitos concernentes à reflexão. Toda atividade instintiva é sábia, mas, quando um átimo de hesitação se interpõe, levando a pessoa a questionar a reação espontânea, dá-se a possibilidade de a atuação não corresponder exatamente à necessidade do momento. É o que se passa nos movimentos peristálticos que levam o bolo alimentício pelas vias digestivas ou o sangue pelo sistema de irrigação dos tecidos. Toda interrupção, num e noutro caso, tende a ser prejudicial ao organismo. Então, se o indivíduo se habituou a considerar os novíssimos conhecimentos à luz dos retrospectos de toda natureza armazenados no repositório de saber da memória, vai inclinar-se a uma prudente atitude, qual seja, a da avaliação de todos os aspectos pela coerência geral da hipótese que se transformará em tese e se evidenciará na síntese a ser assimilada e integrada à personalidade, constituindo-se em mais um elemento para a futura apreciação das informações. Não vemos como Deodoro nos possa ofender, se imergir em si mesmo, no momento mesmo em que tenta “digerir” os conhecimentos ou “oxigenar” os tesouros de sabedoria que possui. Mas, como diz Eufrásio, é também de todo plausível que estabeleça, desde logo, o princípio de aprendizagem da contenção das respostas imediatas. Claro está que o mergulho que se iniciava nos meandros mais profundos do intelecto tinha por objetivo retornar aos problemas levantados, através de opinião melhor conceituada, segundo a firmeza consubstanciada nos recursos retóricos eivados da mais rigorosa lógica, padronizada, sem dúvida, pelos critérios evangélicos de Jesus e pelas notações doutrinárias de Kardec. Para os encarnados, principalmente quando se vêem na premência da captação dos ensinos dos professores e mestres ou quando estão entretidos nos estudos com os livros e os dados das pesquisas, releva o conceito de tempo para se harmonizarem os objetivos em vista. Para nós, que repudiamos a imperfeição, porque cada pequenino aprendizado tem de merecer o cunho da verdade, autenticada pela comprovação dos fatos e não apenas dos silogismos, a espera dos equacionamentos e das resoluções de todas as lições curriculares é naturalíssima, porque sabemos que, sobre todos os fatores psicológicos, incidem os vetores históricos de cada existência. Se os meus dizeres trazem alguma novidade para o amigo, dê a si mesmo a segurança de melhor configuração mental das explicações, permitindo ao cérebro revolutear em paz em torno dos elementos recém-implantados, equilibrando-se na área emocional, não se deixando influenciar pela ânsia de tudo poder aprender de imediato, confiando em que o desenvolvimento é lei de Deus que serve a todas as criaturas. Mas esforce-se para a compreensão do que lhe está sendo proposto, desde que a forma expresse o conteúdo com correção e propriedade. Tal análise, a realizar-se em tempo hábil, reflete, sempre, a condição atual dos seres a que se dirige. Caso contrário, passará despercebida, como se daria no caso de eu mesmo expor estas idéias a uma criança de dois meses de idade.

Deodoro desejou inquirir, a respeito do livro que imaginava escrever, se deveria fazer constar as palavras do professor. Joaquim, imperturbável, prosseguiu nessa linha:

— Meu amigo, sabemos que Kardec visitou e presenteou o grupo com um volume de cada obra espírita que publicou. Para nós, isto é definitivo. Resta saber se o Codificador permaneceu no século dezenove ou se, de lá para cá, sofreu o impacto de novos conhecimentos na área da divulgação do ideal emanado das fontes superiores. Aliás, a pergunta deveria estender-se para encarnações anteriores dele, se se tratava de um espírito gabaritado para o serviço que lhe foi solicitado, e aqui faço referência à programação de vida que recebeu antes de ser enviado à carne. Que pensa o sacerdote?

— Não posso responder na qualidade de filiado à Igreja Católica, como também não posso vestir a pele do cordeiro espírita, meio lobo que ainda sou. Mas resolvo a questão, pelo que sei de mim, que o futuro Professor Rivail, aceitou o encargo, reconhecendo a extraordinária responsabilidade da empresa, com a condição da sublime assistência que terminou por receber. Sei também que não poderia recusar, tendo em vista a forte perspectiva de ser bem sucedido, o que lhe daria (como deve ter dado) pontos positivos em acréscimo ao seu “tesouro de sabedoria” (apropriando-me de sua feliz imagem), levando-o, no etéreo, a ocupar posição de maior destaque, considerando a lei da evolução, que ele chamou de “Lei do Progresso”. Penso que citar o tópico oitocentos e um de “O Livro dos Espíritos” possa ser pretensioso de minha parte, mas não resisto à tentação, segundo a tese de que o tempo, para nós, é elástico e não nos obriga ao apressamento das conclusões. Eis o que desejaria enfatizar: “Por que os Espíritos não ensinaram o tempo todo o que ensinam hoje em dia? — Vocês não ensinam às crianças o que ensinam aos adultos nem oferecem ao recém-nascido um alimento que ele não consiga digerir.; cada coisa tem seu tempo. Eles ensinaram muitas coisas que os homens não compreenderam ou que desnaturaram, mas que são capazes de compreender agora. Através de seu ensinamento, mesmo incompleto, eles prepararam o terreno para receber a semente que hoje vai frutificar.” Não é verdade, Joaquim, que você está insistindo comigo num ponto em que deveria ser eu emérito, pela leitura, pelo exame e pelo estudo da obra kardeciana? Você deseja, também, que lhe traga os subsídios da origem do nome Allan Kardec, referindo-me à obra “Previsões Referentes ao Espiritismo”, inserta entre as que se publicaram sob o título de “Obras Póstumas de Allan Kardec” e que me foram por ele cedidas. Pois tenho as minhas suspeitas de que o espírito Zéfiro, que lhe revelou a existência na antiga Atlântida, tenha cometido uma indiscrição, porque o pôs em cheque perante a própria consciência, mal de todas as ditas revelações particulares.

Nessa altura, o Professor Mário interrompeu, para observar:

— Tenho notado sua forte tendência às conclusões desabilitadas de veracidade histórica. Concordo que o mesmo poderia dizer a respeito da crença cega do Professor Rivail quanto às notícias de Zéfiro. Mas quem me diz que Kardec aceitou como verdade e não deixou a referência ao antigo nome, sob a mesma suspeita que você levanta?! Outras encarnações são atribuídas ao espírito de Kardec. Devemos levar em conta, por exemplo, que tenha sido ele o espírito que se sacrificou por um ideal de humanidade na pele do John Huss, condenado à fogueira pelo Concílio de Constança? Se for assim, cabe a você decifrar que relacionamento possa ter existido entre a vida dele e a sua e qual o futuro que aguarda por você, tendo em vista o desempenho mais do que canônico do mártir do século quinze. Resta considerar se os padres que se hospedam no mosteiro a que você foi conduzido teriam recursos conceituais para compreender todo este arrazoado que temos desenvolvido a partir dos princípios espíritas. Com que finalidade? A de dispô-los na condição de divulgadores das teses que já contrariaram pelas convicções católicas que enfronharam em suas personalidades.

Despertou Deodoro para a profundidade das considerações dos professores. Levantavam problemas para os quais não poderia oferecer resposta imediata. Mas percebeu que o sentido geral da primeira sessão de ensino se referia ao fato de obrigá-lo a saber que alguns mistérios se escondiam dentro dos limites da dimensão espiritual que não foram expostos nas obras do Codificador. Queriam que ele se habituasse a pensar de forma espírita, para conduzir os silogismos adequadamente dentro dos parâmetros existenciais do etéreo. Deveria, concluiu, deixar de raciocinar e de se emocionar segundo os preceitos religiosos incrustados em sua mente e em seu coração. Espontaneamente, relembrou outro ponto levantado em “O Livro dos Espíritos”, mas o fez para que todos percebessem que estava entendendo a lição:

“802. Desde que o espiritismo tem de assinalar um progresso para a humanidade, por que os Espíritos não apressam esse progresso através de manifestações tão gerais e tão evidentes que a convicção se dê entre os mais incrédulos? — Vocês estariam querendo milagres.; mas Deus os semeia a mancheias sob seus passos e vocês possuem ainda homens que os renegam. Convenceu o próprio Cristo seus contemporâneos através dos prodígios que efetuou? Não vêem vocês hoje em dia homens negarem os fatos mais evidentes que se passam sob seus olhos? Não têm vocês os que dizem que não creriam mesmo quando vissem? Não.; não é através de prodígios que Deus deseja reconduzir os homens.; em sua bondade, ele deseja deixar-lhes o mérito de se convencerem por meio da razão.”

O Professor Marcelo contemporizou, tendo em vista a patente desobediência de Deodoro relativamente ao conselho de deixar as reflexões para depois:

— Se existe um hábito sadio, é o da busca da verdade, mesmo que as normas de trabalho sejam quebradas. Veja, querido amigo, que os professores presentes agem de maneira introspectiva quase mecânica, segundo a exemplificação peristáltica de Joaquim. Você haverá de adquirir o recurso muito em breve. Estou dizendo-lhe isto para que, ao recordar-se do mal-estar de há pouco, não venha a envergonhar-se de novo. Devo afirmar-lhe que, se todos os nossos discípulos se comportassem pelo mesmo diapasão, haveria tal harmonia em nossa orquestra que a “Escolinha de Evangelização” passaria a chamar-se “Universidade do Evangelho”.

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