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Erotico-->AS AVENTURAS DO PADRE DEODORO EM CAMPOS ETÉREOS — XXXII -- 18/08/2003 - 06:06 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Nessa altura, Deodoro havia terminado a transmissão, exultando com a “performance” do amigo encarnado. Mesmo em estado de encantamento, pôde verificar que todos os infelizes já haviam sido levados embora, restando somente Antônio Rodrigues, fortemente atado em cordéis fluídicos, e um assistente na platéia, amparado por três entidades, todos admitidos naquele exato instante para presenciarem o último ato da sessão. Ao ser quase desfalecido ligava-se um cordão luminoso que se perdia para fora do anfiteatro.

Haverá tempo para perguntar quem é o sujeito em pauta?

Respondeu-lhe à inquirição mental João, que não saía de seu lado:

— É um internado na unidade de terapia intensiva de um hospital aqui perto, em agonia de morte, que precisa saber, o quanto antes, que merecerá o beneplácito do auxílio dos amigos que o receberão no etéreo. Nada melhor do que demonstrar-lhe como são tratados os mais perigosos, para que não se evada, assim que se reconhecer na condição de falecido. Não lhe conheço a história, mas deve ser digna da pena de algum romancista, porque emite uma série completa de informações telepáticas, cheias de lucidez e de terríveis e contrastantes sentimentos de culpa. Você é capaz de traduzir algum elemento que lhe chegue aos aparelhos sensitivos do perispírito?

— Vejo que tem medo e que espera sobreviver aos ferimentos de bala no abdômen. Mas não vou interessar-me por sua vida, se você, meu caro João, desejou incrustar-me na mente o desejo de retratar os feitos de semelhante criatura.

— Mais tarde, vou explicar-lhe por que agi assim. Agora, vamos prestar atenção aos trabalhos que se concentram no obsessor do suicida. Observe que Francisco está operando através de Salgado e que Tomé busca intensificar os fluidos energéticos de contenção da voluntariedade do atendido. Por outro lado, Eugênio está com enormes dificuldades para encontrar o ponto de contato entre o fluxo de onda do médium e do espírito, tanto as ondas se distanciam, porque é muito difícil de achar no meio espírita uma pessoa capaz de liberar o seu organismo perispiritual para a transmissão sacrificial dos pensamentos e sentimentos dos seres mais infelizes.

— Agora estou entendendo verdadeiramente por que demoramos tanto para chegar até aqui. Os preparativos deviam prever várias consultas a respeito da categoria do ser que se aprisionara. Não é trabalho de pequena monta, por certo.

— Em todo caso, não estão precisando de nós dois ou já teriam solicitado que calássemos, apesar de não estarmos, de forma alguma, interferindo, quer na imantação, quer na mediunização, quer na doutrinação. Veja que o médium percebeu que vai ser tomado por vibrações muito intensas e busca atenuar os efeitos morais que esse conhecimento lhe provoca. Sabe que sua participação é muito importante, conhece o valor evangélico do serviço que presta e procura ajudar da melhor maneira, temendo, todavia, que suas forças sejam insuficientes para agüentar o choque contra o padrão energético a que está habituado. Conheço o rapaz e sei que muitas vezes prestou relevantes serviços à causa socorrista, mas este assistido, particularmente, está numa faixa de atuação mental muito próxima do desespero só provocado pelas grandes iras, pelas tremendas vinditas, pelas absurdas iniciativas da maldade. Quer conhecer um pouco da história do relacionamento entre obsessor e obsidiado?

— Dá tempo?

— Como sempre o tempo é relativo. Somos capazes de desenvolver uma velocidade próxima daquela da luz, se nos concentrarmos nos pontos de interesse. Caso contrário, levamos os nossos espíritos no diapasão oferecido pelo emprego energético orgânico dos mortais, segundo as tarefas que estão sendo desenvolvidas pelos médiuns e pelo orientador da sessão. Você decide.

— Da mesma forma que não aceitei o enredo do que está vivo, não vou querer saber o que se passou entre os desencarnados, ainda que a perseguição tenha sido originada há dois mil anos, quando um soldado romano invasor raptou a mulher e as filhas de um pobre gaulês, dando-lhe morte perversa, lucrando com a venda delas no mercado das escravas brancas.

— Bom, uma parte dos acontecimentos você já descobriu. Mas como você não se interessa pelo desenvolvimento da ação...

— Desculpe, amigo João, mas não está na hora destas tertúlias quase literárias, ainda que tenha corrido muito sangue. São peripécias que não atraem um teólogo empedernido. Prefiro saber como é que se irá convencer o malvado... Afinal, Antônio Rodrigues é o gaulês ou é o romano?

João não conteve um sorriso compreensivo e informou:

— É o gaulês, que se encheu de ódio e vem perseguindo o outro desde seu primeiro regresso ao etéreo.

— Mas, em dois mil anos, não teria havido tempo para a reconciliação?

— Tempo, sim.; vontade, não. Você não deve esquecer-se das paixões raciais, dos revides, dos atos de justiça pelas próprias mãos, do sofrimento que se renovou a cada encarnação. Você ouviu as recomendações ao suicida, quando de seu tratamento há pouco?

— Perdi, entretido com outros aspectos da reunião.

— Não tem importância. Tudo poderá ser rememorado auditiva e visualmente pelo método de transmissão telepática ou por projeção etérea. Mas foi fundamental para ele que aceitasse acompanhar os socorristas para internação em hospital para tratamento das infecções perispirituais provocadas pela supressão da própria vida, mesmo quando sob intensa influência de inimigos do nosso plano.

Todo o diálogo não levara mais do que alguns segundos, tempo destinado por Francisco para acomodação do espírito de Antônio Rodrigues para o ato mediúnico.

Ao contrário do que se poderia esperar de quem anteriormente demonstrara bastante afabilidade no trato com o pessoal do socorro fraterno, agora, prestes a receber o influxo energético que o impulsionaria para a mesma freqüência do médium, ajustamento produzido por todo o grupo sob orientação de Eugênio e sob a tutela da turma de Tomé, Antônio Rodrigues pôs-se a vociferar, com o claro intuito de ser repelido pelo médium. Entretanto, aplicada lhe foi boa dose de anestésico, que é o produto análogo entre os mortais, para que atenuasse a força e se sentisse mais tranqüilo, principalmente no sentido da promessa latente de que seria libertado assim que obtidas fossem as informações para tratamento de algumas nódoas bastante visíveis em seu perispírito, depois que transgrediu as normas da hospitalidade superior que vinha recebendo.

— Vocês estão sendo sinceros quando me afirmam que não pretendem forçarem-me a apertar a mão daquele safardana? — perguntou diretamente a Francisco, referindo-se ao suicida.

— Promessa, para nós, como dizem os humanos é dívida de honra. Iremos deixá-lo livre tão logo seja dispensado pelo dirigente da sessão.

— Esse aí sabe menos do que eu. Por que não fazem vocês mesmos as tais perguntas?

— Primeiro, queremos instruir o amigo Deodoro nas técnicas mediúnicas, bem como oferecer aos encarnados mais uma oportunidade de ajudar-nos. Absolutamente não estamos desejosos de comparações entre os seus conhecimentos e os dele. Responda às perguntas que lhe fará, simplesmente.

— E se quiser saber coisas que não têm nada que ver com o exercício da função mediúnica?

— Aí, na qualidade de orientador geral dos trabalhos, interferirei. Digo mais, vou postar-me junto a ele, para induzi-lo apenas às perguntas essenciais que nos interessam para os serviços de benemerência que prestamos à comunidade dos irmãos sofredores.

— Eu sou sofredor...

— Todos somos, num grau ou outro. O que aguarda por você é um momento de paz, se se resignar a nos orientar naquilo que lhe pleitearmos.

Vendo que Rodrigues desejava adiar o mais possível a transmissão dos pensamentos e sentimentos, Francisco cortou-lhe a capacidade de falar, empregando-lhe uma mordaça vibratória, acompanhada de fricção fluídica sobre o ponto correspondente ao “chacra” coronário, para acalmar-lhe a reação de rebeldia.

Percebendo que estava nas mãos da pequena milícia armada e que os apelos aos de fora não surtiram efeito, Antônio submeteu-se à corrente que o prenderia aos órgãos perispirituais do médium, correspondentes à audição e à elocução coerente dos pensamentos, sendo contido, contudo, em grande parte, no que dizia respeito às vibrações emocionais.

Coube-lhe a primeira fala, por meio do aparelho fonador do médium:

Médium: Cá estou.

Salgado: Deus o abençoe, irmão! Qual é o seu nome?

Médium: E isso importa?

Salgado: Faz parte das boas maneiras.

Médium: Boas maneiras, “uma ova”! Estou aqui todo amarrado e sedado. Meus amigos foram impedidos de entrar. Querem, isto sim, é me torturar.

Salgado: Posso perguntar por que fariam isso com você?

Médium: Perguntar você pode. Responder são “outros quinhentos”!

Salgado: Nesse caso, se você tem alguma pergunta que deseje fazer, nós procuraremos atendê-lo.

Médium: Não sei se vocês teriam condição sequer para entender o que vou perguntar. Em todo o caso, lá vai. Quem é mais sábio destes dois: Jesus ou Kardec?

Salgado: Se eu lhe responder Jesus, você vai dizer que os conhecimentos científicos de Kardec, pelo menos os demonstrados em sua obra, estão muito mais avançados do que os que se encontram nos quatro Evangelhos. Se eu responder que é Kardec, vai me dizer que estou ofendendo o Senhor, que, nem por não ter escrito nada, não seria menos desenvolvido que Kardec em nenhum aspecto. Mas vou dizer-lhe, afirmando categoricamente, que a sua questão revela que você conhece o cristianismo e tem noções do espiritismo. Sendo assim, estou a perceber que existe muita malícia em sua proposta. Será isso fruto da meditação que levou a cabo a respeito das lições de Jesus e dos ensinos de Kardec?

Médium: Ainda bem que você é esperto o suficiente para não cair em minha armadilha.

Salgado: Por que cairia? Você veio com o intuito de me provocar. Pensa que não sei que você sabe que não temos mais do que três quartos de hora de reunião e pretende levar a conversa em banho-maria, até esgotar-se o tempo, saindo daqui do mesmo modo que entrou?

Médium: Se você for bom observador, irá verificar que eu falei bem menos. Você é quem está se estendendo...

Salgado: Então, me responda a uma simples pergunta. Você está preso porque, se não estivesse, iria fugir ou perturbar as comunicações dos irmãos que o precederam?

Médium: Pelo menos uma coisa devo reconhecer: você não me trata como um ignorante qualquer. Respeita a minha desenvoltura intelectual, a minha inteligência. Quando estiver sozinho, vou propor-lhe que entre no meu time. Você vai ver que terá um cargo que corresponde ao seu valor.

Salgado: E qual o preço que deverei pagar?

Médium: Quase nada. Basta estar preparado para ir trabalhar nos locais que eu indicar.

Salgado: Posso saber aonde deverei ir?

Médium: Gosto desses circunlóquios dos posso, devo, gostaria etc. Revela que você tem tato.

Salgado: Agradeço o elogio mas devo preveni-lo de que estou acostumado com esse tipo de cortina de fumaça para me desviar da função de pregador da moralidade segundo os preceitos cristãos. Sendo assim, vou dizendo-lhe, desde já, que as portas desta casa estão abertas para quando você quiser estudar as boas maneiras de quem respeita os semelhantes e ama a Deus acima de tudo. Você atribui algum valor a essas idéias e aos sentimentos correspondentes? Ou vive imerso em profundo ódio, cheio de preguiça diante da necessidade de contornar os caminhos dos malfeitos? Veja que estou falando de forma bastante atenuada, procurando não ofendê-lo, conquanto tenha a certeza de que você é o sujeito que induziu aquele companheiro à pratica do atentado contra a própria vida. Se isso não for perversidade, então desconheço as ações vis dos que apenas prejudicam os semelhantes. Se você quiser responder-me exatamente à questão que lhe propus, pode falar. Se quiser vir com rodeios astuciosos para me engodar, então fique calado, ouvindo a prece que realizaremos em sua intenção, solicitando aos benfeitores espirituais que o ajudem a superar esta fase de profundo vilipêndio da obra do Senhor.

Sem dar trela a que o outro pronunciasse palavra, Salgado orou um pai-nosso, rogando intimamente que Francisco lhe desse as coordenadas para que pudesse, pelo menos, encasquetar na cabeça do sofredor que estava agindo em prejuízo de seu próprio desenvolvimento espiritual.

Francisco: você está indo bem. Deve apenas enfatizar o fato de que Jesus curou os leprosos e os insanos. Ele entenderá que existe remédio para os seus males.

Deodoro (a João): Não está havendo excesso de condescendência para com espírito tão desequilibrado? Não teria sido melhor empregar palavras mais diretas, apontando as falhas dos conceitos morais, dando os verdadeiros nomes às ações malignas do outro? Não me resta dúvida de que é falso, mentiroso, raposa, odiento...

João (a Deodoro): Se você prestou atenção no pedido do doutrinador, reconhecerá que o trabalho de evangelização desse espírito (como, de resto, de todos nós) deve iniciar-se por uma mudança íntima provocada pela própria pessoa, depois de avaliar os prejuízos que tem de arcar por perseguir os irmãos que tem na conta de inimigos.

Terminada a prece, prosseguiu o diálogo:

Médium: Agradeço a sua reza, mas duvido que alguém possa fazer alguma coisa por mim.

Salgado: Vamos pensar de forma absurda. Se Jesus viesse em seu socorro, você teria ou não certeza de receber ajuda?

Médium: Jesus lá está preocupado comigo?

Salgado: Posso entender a sua resposta como de respeito ao poder de cura do Cristo?

Médium: Eu não vi nenhuma cura praticada por ele.

Salgado: você só acredita naquilo que seus olhos vêem? Você conhece a passagem bíblica relativa ao apóstolo Tomé que só acreditaria que Jesus havia ressuscitado, se visse o Mestre e lhe tocasse as feridas?

Médium: Não siga por esse caminho. Nós ficaríamos discutindo a noite toda e você não tem tempo para isso.

Salgado: De novo, devo reconhecer em sua observação um sim, ou seja, que você só acredita vendo, mas conhece a passagem a que me referi?

Médium: você pergunta e você mesmo responde. Por mim, pode continuar assim.

Salgado: Então preste atenção. Vou dizer-lhe que Jesus não consegue atender a todos que lhe pedem ajuda ao mesmo tempo, porque são bilhões de seres entre encarnados e desencarnados. Mas possui mensageiros credenciados, seres de muita evolução, que trazem a mensagem de amor de Deus, apaziguando os ânimos caudalosos dos que se sentem injustiçados, porque não conseguiram realizar todos os intentos, ainda que se constituíssem de maldades contra o próximo. O irmão suicida tem do que se queixar, porque você o atormentou a ponto de enlouquecê-lo, ferindo fundo em sua psique através de sutis sugestões de que estava sendo traído pela esposa e pelos amigos. Encheu-o de ciúme, encegueceu-o, para depois lhe dar o empurrão de cima do viaduto.

Médium: você não estava lá pra ver.

Salgado: Quem só acredita vendo é você. Eu não preciso ver pra crer. Jesus disse: “Bem-aventurados os que não viram, e creram.” Está em São João, capítulo XX, versículo 29. Você acha que todos os acontecimentos desde a criação do mundo devem ser testemunhados por nós, para que firmemos os nossos conceitos a respeito do Universo?

Médium: Esta conversa não leva a nada.

Salgado: Engano seu. Em primeiro lugar, leva-me a considerar que os argumentos contra o meu discurso são paupérrimos, apesar de seu brilho intelectual. Em segundo lugar, obriga-me a desenvolver a minha perspicácia, quanto ao tratamento que devo dar a pessoas como você, que vêm até aqui, amarradas ou não, apenas para tumultuar os trabalhos. Em terceiro lugar...

Médium: Vejo que você está preocupado só com o que você consegue. Em meu favor, não apresenta nenhuma conclusão favorável? Não foi para isso que me trouxeram até aqui?

Salgado: Para que você possa tirar proveito de nossa conversa, que me pareceu muitíssimo civilizada, pelo que lhe agradeço a boa vontade de me ouvir, deve meditar a respeito do que Jesus fez pelos pobres, sendo ele mesmo muito pobre.

Médium: Pobre por opção, porque era rabi, ou seja, mestre ainda maior que os doutores da lei.

Salgado: Veja como você apresenta condições de explicar com clareza os tópicos em que eu mesmo me perderia. Mas, se ficar correndo atrás dos que você considera seus inimigos, vai acabar nas mãos de seres muito ignorantes, que não têm nem um por cento de seus conhecimentos, conquistados, vamos lá saber, durante muitas encarnações em que se utilizou da erudição para fazer o mal ou para proveito próprio, no âmbito da ambição, da ganância, da espoliação, da fraude, do roubo oficializado pelas manobras de governante ou de administrador dos bens públicos, como vemos tantos homens no exercício do poder político ou econômico. Eu não lhe peço para ser “bonzinho” nem para abandonar as correrias atrás dos infelizes que não têm os mesmos recursos intelectuais. O que lhe peço é que aplique a sua força mental na decifração dos prejuízos que está acarretando à sua própria existência. Apenas para encerrar, você, por certo, não sabe por onde andam os seus entes queridos, porque eles estão em patamares evolutivos mais elevados. No entanto, no mesmo instante em que você manifestar o sincero desejo de resgatar alguns dos males a que deu causa, acredito que um ou mais deles irá aparecer-lhe, para abraçá-lo e dar-lhe o conforto da esperança de progresso e da fé na redenção. Aos espíritos bons jamais faltará a virtude da caridade, sem a qual não existe salvação. Se você quiser, fique mais um pouco, mas não espere de mim nenhuma outra palavra de incentivo, porque me sinto cansado, que a minha doação energética a você extraí do fundo do meu organismo alquebrado pelos anos e pelas lutas. Se tudo lhe faltar, ao menos leve a lembrança de alguém que pretendeu, em nome de Jesus, fazer-lhe um bem. Vou proceder à leitura de uma prece especial, dentre as que se encontram na coletânea ao final de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

Sem esperar que Rodrigues respondesse, foi Salgado, com muita calma, acionar o interruptor da lâmpada central do salão, abriu o volume à sua frente sobre a mesa e leu, tentando esconder que se sensibilizara com o discurso que sabia inspirado pelos guias da casa, no capítulo XXVIII, item 43, a oração destinada aos espíritos em aflição:

— “Meu Deus, cuja bondade é infinita, digne-se suavizar o amargor da situação de Antônio Rodrigues, caso possa ser essa sua vontade. Bons Espíritos, em nome de Deus todo-poderoso, eu lhes suplico para assistirem-no em suas aflições. Caso, no interesse dele, elas tenham como ser-lhe aliviadas, façam-no compreender que são necessárias para seu adiantamento. Concedam-lhe a confiança em Deus e no porvir, o que as tornará menos amargas para ele. Concedam-lhe também a força para não sucumbir ao desespero, o que lhe faria perder o fruto das aflições e tornaria sua situação futura ainda mais penosa. Conduzam meu pensamento até ele, para ajudá-lo a sustentar sua coragem.”

Notou o assistido que seu nome foi pronunciado integralmente? Deodoro ficaria sem saber, tão emocionado estava com o desenrolar do processo de elucidação do sofredor, tendo perdido ainda toda a parte final da reunião. Quando despertou para a realidade ambiente, não havia mais nenhum encarnado no centro. Lá só se encontravam Francisco, Tomé, Eugênio, João e os seis parceiros de viagem.

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