por Agnaldo Del Nero Augusto – General de Divisão Reformado
Implicado com o “silêncio dos intelectuais” o Ministério da Cultura promoveu um seminário com esse título. Neste a filósofa Marilena Chauí, historicamente ligada ao PT, afirmou que não se pronunciou sobre a crise – o escândalo de corrupção no qual chafurda o PT - porque ainda não conseguiu compreendê-la. É difícil e penoso para um “ïntelectual engajado” fazer a exegese da crise. Na parte que parece compreender o faz de maneira confusa. Na sua versão, os dirigentes do PT que chafurdaram na lama, eram pobres coitados “vítimas de um truque dos adversários, das más companhias e da perversidade do sistema político. Pobres coitados somos nós. Haja paciência.
Nesse seminário a citada “filosofa” disse que o “verdadeiro engajamento exige muitas vezes que fiquemos em silêncio”. Dei graças, pois o silêncio às vezes, como no seu caso, diz muito. Revela uma mentalidade que jaz sob os escombros do que o século XX teve de pior. Dei graças porque, quando não se escondem no silêncio, os militantes, digo “ intelectuais” engajados num dos mais bárbaros totalitarismos da história, não se envergonham, em benefício da “ causa” mentem escancaradamente.
Não é sem razão que o escritor francês François Furet ao contar como se criou a mitologia da URSS e do comunismo na opinião pública em geral, comentando a atuação dos intelectuais escreve: “não implica que os intelectuais, na medida em que formem um grupo social distinto, escapem à cegueira e vejam o futuro melhor do que seus contemporâneos: a história do século XX tenderia, até, a provar o contrário, tanto eles se engajaram,numerosos e entusiastas, em causas deploráveis” . Diz mais ”O espantoso não é o intelectual compartilhar do espírito de seu tempo. É ele ser presa deste, em vez de tentar dar o seu toque. Os do século XX se submetem às estratégias dos partidos e, de preferência, à política dos partidos extremos, hostis à democracia. Neles desempenharam um papel acessório e provisório de figurantes, manipulados como todos e sacrificados quando necessário à vontade do partido”.
Todavia, deixo um pouco nossa “filosofa”, para demonstrar algo que considero mais importante porque mais abrangente e que é objeto de minhas pesquisas atuais: como os fanáticos militantes comunistas mentem com a maior desfaçatez em benefício da “causa”e às vezes a mentira é, por coincidência, por omissão.
“ Mais do que nunca a história é atualmente revista ou inventada por gente que não deseja o passado real, mas somente um passado que sirva a seus objetivos. Estamos hoje na grande época da mitologia da história” Uma história revista ou inventada para atender as conveniências de pessoas, de grupos ou de ideologias – e os adjetivos empregados nesse conceito dizem tudo – é na verdade uma mentira, diria uma Grande Mentira Há muito tenho essa visão, porque esse conceito se adapta perfeitamente à história que vem sem construída em relação a um período crucial de nosso país, as décadas de 1960 e 1970 do recém findo século XX.
O conceito antes expresso é de ninguém menos que do consagrado historiador marxista e militante comunista Eric John E Hobsbawn (Tempos Interessantes e Era dos Extremos- ambos da Companhia das Letras) Ele e um grupo de historiadores ingleses reuniam-se numa espécie de clube para difundir a ideologia comunista e louvar as ações soviéticas fossem quais fossem e nesse sentido a mentira era não só admitida como louvada e o mentiroso admirado. Existem muitos exemplos em apoio ao que venho afirmando, mas num artigo cito apenas um, contado pelo próprio Hobsbawn, que caracteriza bem esses historiadores comunistas e que é comum a todos eles, estrangeiros e nacionais.
Diz ele: Palme Dutt, o guru ideológico do Partido Comunista e integrante do Grupo de Historiadores do PC britânico, lhe deixara eterna admiração por sua mente aguda e a convicção permanente, ao lhe confidenciar, que a “verdade não lhe interessava, pois seu intelecto era utilizado exclusivamente para justificar e explicar a linha do momento, qualquer que fosse.” Entenda-se a linha do PCUS ou da Internacional Comunista.
Como se constata, a verdade não interessa a esses historiadores. É mesmo um caso, senão de eterna, pelo menos de grande admiração, de causar pasmo. Porém, a questão só é bizantina para quem não conhece o fanatismo comunista e as artimanhas do universo do marxismo-leninismo. Mas o leitor, creio, compreenderá perfeitamente o que pode esperar desses “intelectuais” quando está em jogo a “causa” comunista, não se envergonham, mentem escancaradamente.
Não somente a mentira é aceita como o mentiroso é louvado e admirado, no caso, por esse consagrado “historiador”. Foi usando esses instrumentos – a mentira e técnicas psicológicas de indução, que construíram uma Mitologia Histórica dos anos 60 e 70 vividos por nosso país... Mas essa é outra história......
Voltando à intelectual-símbolo do PT. No ato inaugural do movimento pela “refundação” do Partido, na segunda-feira (12) à noite, em São Paulo, um dos motivos que chamou a atenção, foi seu pronunciamento embebido em emoções. Como noticiou “O ESP” comenta: “Agora, imaginando talvez que o verdadeiro engajamento exige muitas vezes que se maltrate a verdade em alto e bom som, ela fez algumas colocações.... Com a inteligência até hoje obnubilada pelo que Raymond Aron chamou de o ‘ópio dos intelectuais’, a pensadora terminou sua alocução citando um brado de luta, 'No pasarán” - que comoveu os democratas do mundo inteiro quando o nazi-fascismo em ascenção esmagava a Espanha republicana, na guerra civil de 1936 a 1939.
Ocorre que a palavra de ordem, lançada pela comunista Dolores Ibárruri, lembra também, inexoravelmente, que foi na Espanha ensangüentada que alguns dos mais luminosos – e honestos- intelectuais do Ocidente tiveram contato direto com a verdadeira fase do stalinismo As violências cometidas pelo PC Espanhol, a mando dos generais vindos de Moscou, contra os próprios republicanos, a começar do extermínio dos aliados anarquistas, estilhaçaram as últimas ilusões de autores engajados ... Por serem íntegros e lúcidos, não tergiversaram com a verdade..... muito menos silenciaram, sabendo embora que seriam estigmatizados pela máquina de propaganda da URSS......
Guardadas as proporções, eles equivalem aos brasileiros que eram democratas quando ajudaram a criar o PT, enquanto outros continuaram sendo o oposto disso: combateram o regime militar não para restabelecer as liberdades “burguesas”, mas para substituí-lo por um regime ainda mais ditatorial São os que consideram democrático o regime da ilha onde o grão-petista José Dirceu gosta de passar férias. Pertencesse Marilena Chauí inequivocamente ao primeiro grupo, não invocaria Dolores Ibárruri.
A nossa imprensa está mudando, embora de forma light. O que é mais ditatorial senão um regime totalitário? Ainda há receio de dizer as coisas com todas as letras. Mas Francis Bacon tinha razão: o tempo é o senhor da verdade. Nosso tempo parece que vai chegando e talvez mais rápido do que se esperava possamos restabelecer a VERDADE HISTÓRICA em nosso país.