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Ensaios-->A Bolandeira - José de Abrantes Gadelha -- 07/08/2004 - 18:56 (Lucas Tenório) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A Bolandeira* – José de Abrantes Gadelha**

O dia surge. O sol levanta-se do horizonte, percorrendo com seus raios cor de sangue as Campinas verdejantes – aquecendo-as do orvalho da noite.

O lugarejo tranquilamente dormitava – desperta movimentado, barulhento. É domingo. Como todos os domingos da Paraíba: o dia reservado para as negociações nas maiorias de vilas, povoados, cidades.

Lastro possui também aos domingos a sua feira: Dia de compra e de venda, da troca e dos fiados e em especial o dia dos empréstimos.

As casas comerciais estão localizadas na Bolandeira – propriamente dita. Nas laterais e nos fundos, interligando-as uma enorme coberta que serve de abrigo aos comerciantes ambulantes e feiristas, contra as intempéries do tempo. Mais à frente, com distância de vinte metros à porta que dá acesso ao povo, situa-se nova fila de casas comerciais, de mais destaque do lugarejo. É lá que vendem tecidos e remédios – para os males do corpo e da alma.

Sim! A Bolandeira de Lastro, antes inerte, silenciosa e morta, surge repleta de vida, movimentada e irrequieta com o acesso de pessoas, das mais variadas classes sociais e de condições de vida diferente, que vão à feira objetivando melhores transações comerciais.

Na maioria, são pessoas pobres, analfabetas, sem visão de futuro, sem capacidade de desenvolvimento, que vão à feira à procura do meio quilo do toucinho de porco, farinha e raspadura, para temperar as panelas na semana que se aproxima, enganando a fome que maltrata, oprime e suplicia, dia após dia, noite após noite e anos infindos.

Passam homens, mulheres, crianças. De todas as idades. Uns a cavalo ou em lombos de burros e jumentos, outros seguem a pés descalços ou calçados de tamancos e currulepos. São vendedores de vassouras, de balaios, de cestos feitos de palhas de carnaúba. São vendedores de doces, de cocadas e raspaduras; são louceiros que passam com potes e panelas de barro – transportando nas mãos, nas cabeças e por baixo dos braços os produtos fabricados na região, para vender – trocar. São os produtos que chegam e saem comprados: feijão, milho, arroz, farinha, raspaduras, melancias, gerimú e macaxeiras, carne de boi, de porco, de bode, bacias, lamparinas, marmitas, potes e pinicos.

Barracas vendem aluá – feito de cascas de abacaxi, doce de côco e raspaduras – chamado quebra-queixo, café e pão doce vindos da cidade de Sousa.

Na feira de Lastro de tudo tem um pouco prá vender. Tem repentista também, que de improviso exalta louvando ritmicamente com seu ganzá aos presentes, numa cantoria alegre e divertida, despertando gargalhadas e palmas de todos que o cercam.

O dia da feira no sertão é o dia dos passeios, dos flertes e dos namoros como também das brigas, das cachaças nos balcões das bodegas. Sai gente, chega mais gente, continuadamente o dia todo – tornando festivo o domingo e o próprio lugarejo.

O sol do alto, forte, causticante, queimando tudo e todos, assinala o meio dia. São doze horas. O cantador de repentes pára seu ganzá consultando o estômago, e sai em seguida em direção à hospedaria pertencente a Bebe de Antônio Dita, única no lugarejo. As pessoas saem, dispersam-se. (...)


*Fragmento deste capítulo do livro
“Sangue, Terra e Pó”,
Época – O Cangaço
Local – O Sertão Sangrento.
Relato-Romanceado – Documentário,
de José de Abrantes Gadelha, pp. 23-24.
A União Cia. Editora, Sousa-PB – agosto de 1983.

(Extraído do exemplar de Jodeílson Gomes de Andrade, parente do autor.)
_______________________________________________

**Gadelhinha, como prefiro chamar a José de Abrantes Gadelha, nasceu em 1942. Não viu de viva vista, mas viveu de vivo ouvido, convivendo com diversas personalidades, cenas da vida sertaneja.

No coronel Manoel Gonçalves, seu avô, elegeu parte de sua personalidade: forte, simples e amigo.

Teve a felicidade de participar da interiorização da universidade, bacharelando-se em Direito pela Fundação de Ensino Superior de Sousa, hoje Universidade Federal da Paraíba – CAMPUS VI.

Antes porém, foi prefeito municipal de Lastro-Pb, eleito em pleito muito disputado, exercendo o seu mandato com brilhantismo, enfrentando, contra sua pessoa, a hostilidade de adversários, em muitas oportunidades, mesquinhos.

Sempre gostou da arte teatral, tendo dirigido e apresentado algumas peças, o que fez com segurança e talento.

Atualmente [esta é uma das apresentações introdutórias do livro] é advogado de ofício, cargo que exerce utilizando sua maneira de sentir a dor, o sofrimento, a bravura e a alegria do nordestino, tipo muito bem absorvido por sua forma de viver e pensar.

“SANGUE, TERRA E PÓ”, denotam com grande precisão seus sentimentos, revelando um estilo simples e agradável, fatos e comportamentos de uma época, bem como a grandeza espiritual do homem que encarna o autor.

José de Abrantes Gadelha, ingressa no mundo literário, com o seu mundo sadio e muita esperança.

Jonas Abrantes Gadelha




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