Austriclínio Ferreira Quirino. Este era o esquisito nome de batismo do poeta popular Austro-Costa (com hífen mesmo). A origem do pseudônimo é desconhecida, mas há a hipótese de ele ser uma referência à cidade do Recife, situada ao sul de Limoeiro, terra natal do escritor. Austro significa vento do sul , ao mesmo tempo em que é apelido advindo do primeiro nome; Costa remeteria à posição geográfica da capital pernambucana. O hífen enfatizaria o elo.
Austro-Costa talvez tenha sido o poeta com maior popularidade que Pernambuco já teve. Um grande figurão, faceta evidente na famosa foto, tirada em 1936, na qual ele aparece com um cachimbo inglês e de monóculo. Boêmio, aventureiro e de muitos amores, fazia o tipo lírico e excêntrico e, ao que os poucos estudos indicam, encantava a todos por onde passava. 'O príncipe da vida', como era conhecido, costumava inflamar-se em poemas e discursos, muitas vezes improvisados, marcados por uma expressividade autêntica, à flor da pele. Boemia e improvisação são bem ilustradas na história retirada da antologia Meio-Dia Eterno, organizada pelo também poeta e crítico literário Paulo Gustavo:
'numa roda de boêmios na rua do Imperador, Ascenso Ferreira (diga-se de passagem que Ascenso e Austro se davam bem) acabara de escrever uma quadra sobre o mármore de uma mesinha de bar. Tal quadra intitulava-se 'Epitáfio do Poeta' e dizia: 'Aqui jaz o Austro-Costa/Um poeta sem segundo/Morreu atolado em bosta/Na pior bosta do mundo'. Ainda gargalhava-se quando Austro apareceu em cena e, na mesma mesinha, escreve replicando: 'Na pior bosta do mundo/Não morri, fiquei suspenso/Pois antes de ir ao fundo/Peguei no chifre de Ascenso.'
O lado satírico marcou parte de sua poética, que era contrabalançada por uma espécie de cantoria simbolista , na qual beleza, pureza, amor e outras virtudes e sentimentos ganhavam tônus de transcendência, sendo grafados com maiúsculas, como se fossem deuses. Havia também uma oscilação na poesia de Austro-Costa no tocante ao uso das palavras e ao tratamento mais ou menos sofisticado dos versos. Se por ora, empregava termos simples, próprios da sua condição de poeta do povo , recorria em contrapartida a construções mais rebuscadas para impressionar um determinado métier e mostrar que também sabia compor poemas com maior erudição.
Dentre as publicações, destaque para Mulheres e Rosas (1922) e Vida e Sonho (1945). Austro-Costa morreu novo, aos 54 anos, em outubro de 1953, de forma inimaginável e banal. Cortejador das damas, ofereceu seu lugar a uma mulher e passou a viajar de pé. O veículo chocou-se violentamente contra um poste e Austro foi a única vítima fatal do acidente. A gentileza prestada, romanticamente, lhe custou a vida.