Fui à sua página e li alguns de seus poemas. De longe não sou crítico literário e minha bagagem na matéria é escassa, a despeito da qualidade do pouco que já conheci.
'Convite à Flor', bem comportado, mais convencional, mais comum, mais sereno – a explosão do gesto, a primazia do gesto.
'Habitação', uma experimentação, pareceu-me mais sentimental que sensorial, a passagem dos dentes às mãos, aos olhos, aos ouvidos, ao sentimento mãe-natureza-interior-síntese, às mãos novamente. Mãos que escreviam o poema? Estaria você enfim no 'continuum' da dimensão metafísica do próprio poema, encarnado pela mão?
'Mergulho', um eloquente galanteio daquele sertanejo brabo que
maneja tão bem o facão de mato, a enxada, quanto embala, acalanta, no braço-colo a filharada.
'Do Belo-Belo', as belezas do próprio poeta que se rende à força da empatia com o sentimento (modelo) do outro. Há uma ruptura, tensionamento, interessante, achei, quando se passa à beleza ('nenhuma beleza maior, porém') dos dois dentes, ruptura com a visão de beleza do esteta, ruptura com o arquétipo do belo. Seguiu-se a isso, vi, uma ágil (reconciliação), costurada com a inserção da criança-filho e todos seus predicados. Uma singela e bonita homenagem rendida à mãe.
E 'Lua de Março' - considero o melhor dos que li (depois de Habitação) - obriga-me a ficar em silêncio, não só pelo comentário do César Leal, como pela sua transcendentalização. Um belíssimo poema.
'Não é aqui não', não sei.
Você compõe versos livres, o que o nosso Manuel Bandeira fazia como ninguém. Tem um tirante a intimista e, em parte, metalinguístico (o poema, o poema em prosa, que se comenta a si mesmo enquanto se faz, se reporta (tema-locus-tempo) a suas partes num processo de
auto-fragmentação construtiva. É poeta dos bons, é poeta português, usando a expressão de um comentário que fizeram sobre a minha modesta lavra.
Bom, acho que é isso, e me perdoe pelas besteiras que tenha dito.
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