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Ensaios-->A Teoria dos Três Verbos -- 04/12/2003 - 17:38 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MERCADO, ou: A Teoria dos Três Verbos
(Junho de 2002)

Por Nelson Lehmann da Silva (*)

Instigado pela repetida afirmação esquerdista de que nós liberais prestamos culto ao 'deus mercado', e de que o mercado, deixado a si mesmo acarretaria a autodestruição da Civilização, tento formular a questão pela via antropológica, anterior à econômica, da maneira o mais sintética possível. O mercado sempre e em toda parte existiu, superada a fase tribal. A tribo nada mais sendo do que a grande família, onde o 'meu' e o 'teu' ainda se encontram pouco distintos. Propostas de extinção ou restrições ao mercado sempre vêm revestidas de apelos com conotação familiar; 'fraternidade', 'irmandade'. Ou seja, retorno à família. Artistóteles já a isso se referia.

Entre comunidades não consangüíneas, porém, relações de mercado se estabelecem . E sempre se alternam com hostilidades. Seriam afinal as duas alternativas existentes. Ou a guerra ou o mercado. Ouso portanto avançar a tese de que todas as possíveis relações humanas seriam redutíveis à três verbos : TOMAR – TROCAR – DOAR.

O Tomar: Pelo uso da força, ou da fraude, alguém se apropria do que não lhe é próprio. No âmbito individual é o roubo, o assalto, o estupro, a falsificação, o plágio. No âmbito coletivo é a guerra de conquista, o genocídio. Todos os sistemas ético-religiosos o condenam.

O Trocar: Este universal e múltiplo comportamento aplica-se a muito mais do que ao estritamente econômico. Compreende toda sorte de intercâmbio de interesses, materiais, intelectuais, afetivos. Aqui é a esfera da razão, ou 'ratio', que compara e avalia. Trocam-se VALORES. A medida do valor é o mérito. O critério do mérito é a contribuição para o bem alheio. Todos os sistemas éticos apontam escalas de valores comparativos, priorizam, hierarquizam. (* Autores Prêmio Nobel de Economia, como James Buchanan e Gary Becker, trabalham a tese acima, da universal relação de troca de interesses em todas as esferas sociais)

O Doar: Situado acima do cálculo racional (ratio) e designável como Amor, ou Caridade, parece ser uma outra alternativa a explicar o natural comportamento humano. Protótipo desta relação seriam as existentes entre Pais e Filhos (ver família, acima), Herói e Pátria, Mártir e Fé, Amante e Amada. Pretendem ser relações desinteressadas. Todos os sistemas éticos exaltarão tal comportamento. Cínicos, ou realistas, dirão que trata-se aqui também de uma troca. Ainda que de valores de gêneros diferentes, de materiais e temporais por espirituais e eternos.

A palavra grega CARIS, raiz de nossos vocábulos Caridade, Carismático, e Graça (Por graça de Deus) passou significativamente da Teologia para a linguagem comum, no português e espanhol apenas, como dom, doação. A expressão 'é de graça', significa que algo não se troca, nada custa, é dado. Mas a doação como tal só pode ser voluntária. À imagem da relação Criador- Criatura. Ou Redentor – Redimido. O doar, portanto, está eticamente situado acima da troca racional. Toda a utopia socialista, impregnada na 'Teologia da Libertação', seria perfeitamente aceitável, se apenas trocasse a palavra Justiça por Caridade. O vício da motivação socialista está neste equívoco, apresentar-se como 'caridade compulsória'. O esboço teórico acima pretende apenas despertar interrogações. Tal reducionismo nas relações humanas seria aceitável? Na complexa realidade das relações humanas tais verbos se sobrepõem, se intercruzam, se arranjam, se combinam. A troca, este amplíssimo leque de interação, é certamente condicionada por valores culturais, epocais, individuais. Impossível esquematizá-la. Mas a tarefa da filosofia sempre foi encontrar, na multiplicidade variável, a unidade permanente. Talvez Platão tenha bem definido a síntese universal dos valores e sua hierarquia: Prazer, Honra (autonomia) e Verdade. O Mercado é expressão do comportamento natural humano.


(*) Nelson Lehmann da Silva é professor emérito (PhD) da Universidade de Brasília (UnB) e diretor-executivo do Instituto Liberal de Brasília. É autor do livro “A Religião Civil do Estado Moderno”, Thesaurus, Brasília, 1985, com prefácio do embaixador José Osvaldo de Meira Penna. A mesma obra mereceu citação no mais importante livro de Olavo de Carvalho, 'O Jardim das Aflições'.





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