Terá António Gedeão, em repensada congeminação ao conceber 'Pedra Filosofal', considerado muito mais a criança do que a bola?... Todavia, tal como elaborou o conteúdo de 'Lágrima de Preta', dá-me ideia que dominava pleno a interligação do 'espiritual-físico' logo que colocou o busílis no multicor tubo de ensaio da Poesia.
A título de observação auxiliar e complementar, estendendo aqui duas pérolas terreno-astral da língua portuguesa e poemas-mor de Rómulo de Carvalho, também professor de Físico-Químicas, poderão a Leitora e o Leitor decerto melhor estabelecer a relação que sobre o titulado tento exalar em raciocínio.
PEDRA FILOSOFAL
Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer, como esta pedra cinzenta em que me sento e descanso, como este ribeiro manso, em serenos sobressaltos, como estes pinheiros altos, que em verde oiro se agitam, como estas aves que gritam em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho é vinho, é espuma, é fermento, bichinho alacre e sedento, de focinho pontiagudo, que força através de tudo num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho é tela, é cor, é pincel, base, fuste, capitel, arco em ogiva, vitral, pináculo de catedral, contraponto, sinfonia, máscara grega, magia, que é retorta de alquimista, mapa do mundo distante, rosa dos ventos, Infant, caravela quinhentista, que é cabo da Boa Esperança, ouro, canela, marfim, florete de espadachim, bastidor, paço de dança, Colombina e Arlequim, passarola voadora, pára-raios, locomotiva, barco de proa festiva, alto-forno, geradora, cisão de átomo, radar, ultra-som, televisão, desembarque em foguetão na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida e sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança!...
LÁGRIMA DE PRETA
Encontrei uma preta que estava a chorar, pedi-lhe uma lágrima para a analisar.
Recolhi a lágrima com todo o cuidado num tubo de ensaio bem esterilizado.
Olhei-a de um lado, do outro e de frente: tinha um ar de gota muito transparente.
Mandei vir os ácidos, as bases e os sais, as drogas usadas em casos que tais.
Ensaiei a frio, experimentei ao lume, de todas as vezes deu-me o que é costume: nem sinais de negro, nem vestígios de ódio... Água... Quase tudo e cloreto de sódio.
António Gedeão / Rómulo de Carvalho
Ora, após este magnífico deslize sobre neve em fogo-rosa - se bem sentiram o esplêndido efeito à flor dos olhos - para porventura lograrem transportá-los ao cume racional que evento, imaginem-se concebendo que pontos determinarão o ínfimo e o máximo esferóides. Eu estou persuadido que esses ilógicos e racionais pontos se fundem num só ponto de 'partida-e-chegada', imbrogliado 'tudo-e-nada' do processo que nos impõem face ao mistério de todos os tempos... DEUS... 'Esse-existe-e-não-existe' que os longínquos dealbantes sábios implantaram no seio do raciocínio universal e por si se aspergiu nos diversos deuses que hoje lideram a diversidade das religiões.
Pois... Caríssimas e Caríssimos, com azul ou sem azul, tomem a 'bolisfera', impregrenem-se de entusiasmante vontade em meditar e... Voem... Voem aquém e além de todos os limites, evitando, claro, regressar ao princípio. Quiçá sejam mesmo obrigados a voltar lá!...
Quanto a mim, o raciocínio que procura a limpidez por si mesmo, é inequivocamente mais positivo e proveitoso do que o nefando bruxedo... Isso que mete medo e tanto fascina os maldosos ignorantes inocentes. E escrevi que esta é só a minha concepção e nada tem a ver com António Gedeão, opinião que teço sob a regra de 'bemal', evidentemente.
Se necessitas de mim Para enfim fazer-amor Seja lá que amor for Nunca me imponhas um fim!...
E deste e por este modo que acabo de expor, ao cabo de três horas de labor consecutivo que apliquei em lugar de 'o que não tinha para fazer', antecipo-me com 'os todos os dias da criança' ao 'dia da criança', que considero uma farsa de predação nitidamente escusada.