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Ensaios-->Anti-ensaio sobre Cultura e Sociedade no Estado Novo -- 18/09/2003 - 14:52 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“LOS NUEVOS TIBARONES: anti-ensaio sobre Cultura e Sociedade no Estado Novo (1937/1945): alguns artistas e intelectuais diante da ditadura getulista de então.

José Luiz Dutra de Toledo (*)

“Num continente descoberto por acaso, é natural que o acaso impere.” Rosário Fusco, escritor modernista da Zona da Mata mineira (do grupo da revista Verde de Cataguases – M.G.) e natural da serrana cidade de São Geraldo – M.G. , onde nasceu em 1910. Citação pinçada do seu romance a.s.a - associação dos solitários anônimos – editado em Cotia/S.P. – pela Ateliê Editorial – em 2003. Rosário Fusco morreu em 1977 em Cataguases – M.G. mas viveu por muito tempo na antiga capital da República, Rio de Janeiro.

Talvez eu seja a última Dama das Camélias com força, amor, vida e poesia para morrer cantando “ai-lili-ai-lili-ai-lô”, me expressando, protestando ou denunciando, esperneando, desmaiando, vomitando sangue com vinho do Porto num travesseiro perfumado com essência de absinto. Agora eu só vou viver no seu coração (onde ninguém me verá). A arte? A arte é a vida, já mostrava Pasolini. O resto é só moldura. Você me atura? Ou já lhe saturei? O senhor do mar é o fazendeiro do ar? Minha matéria é o nada e só vejo a morte sem os mortos. Ou o meu espírito é o todo? Ou a vida não ressuscita os vivos que só morrem moídos como amendoins na máquina do mundo, ou no globo da morte cheio de motocicletas-moscas rastreando motos contínuos, imortalidades hercúleas ou as bostas do boi tempo que nos rumina e nos caga? Temo os que querem matar e esquartejar. Temo o Chico picadinho. Diante destes temos que ficar com as nossas bocas cerradas? Dancei num matadouro (com Enrico Vacca) onde eu me perguntava: cadê a cabeça da mula sem cabeça? A eternidade, nosso maior pesadelo ou mais apavorante fantasma, trava em nossos ancestrais maxilares inferiores o amargor das cinzas e da poeira que se esvaem do desafinado piano da família e dos fios de barbas e cabelos dos nossos bisavós, formando uma indesejável, mas humana montanha de fragmentos / rede de frustradas e frustrantes imortalidades/ sobrevivências históricas. A Microsoft devia aprender Português.


EXCERTOS SOBRE AS PROPRIEDADES TAUMATÚRGICAS DAS VERBORRAGIAS RETÓRICAS DOS REIS MEDIEVAIS, BARROCOS E PÓS_MODERNOS:

“...daí a César o que é de Deus, a Deus o que é de César, depois cá faremos as contas e distribuiremos o dinheiro, pataca a mim, a ti pataca, em verdade vos digo e hei de dizer, E eu, vosso rei, de Portugal, Algarves e o resto, que devotamente vou segurando uma destas sobredouradas varas, vede como se esforça um soberano para guardar, no temporal e no espiritual, pátria e povo, bem podia eu ter mandado em meu lugar um criado, um duque ou um marquês a fazer as vezes, porém, eis-me em pessoa, e também em pessoa os infantes meus manos e senhores vossos, ajoelhai, ajoelhai lá, porque vai passando a custódia e eu vou passando, Cristo vai dentro dela, dentro de mim a graça de ser rei na terra, ganhará qual dos dois, o que for de carne para sentir, eu, rei e varrasco, bem sabeis como as monjas são esposas do Senhor, é uma verdade santa, pois a mim como a Senhor me recebem nas suas camas, e é por ser eu o Senhor...” (...) “Anda o Corpo de Deus passeando-se na cidade de Lisboa, sacrificado cordeiro, Senhor dos exércitos, contradição insolúvel, sol de ouro, cristal e custódia derrubadora de cabeças, divindade devorada e até às fezes digerida...” José SARAMAGO – Memorial do Convento – Rio de Janeiro – Editora Bertrand do Brasil – 1989 – sétima edição – entre as páginas 155 e 157. (...) Só Deus poderá impedir que se cumpra o nosso grande destino patriótico!... Eu sou o Messias, eu sou Antonio Conselheiro, gente!... E, para a minha surpresa, apesar de estarmos numa democracia, tem muita gente contra nós, cuidado!...


BOÉCIO NUNCA FOI BEÓCIO.

Uma questão de ordem ou de organização textual, companheiro!... É o seguinte: Fábio Lucas nunca escreveu um posfácio ao livro associação dos solitários anônimos (organizado e digitado com esmero e dedicação por Aricy Curvello para a Oficina do Livro e escrito pelo injustamente desconhecido Rosário Fusco). Irreverente, surrealista, “marginal” ou literato marcado pela escrita de Kafka? Acho que Rosário Fusco foi muito mais além destes enquadramentos e classificações. Quando ainda vivia, seu último livro publicado foi Dia do Juízo (lançado em 1961). Mas ainda temos inúmeras obras inéditas (ou com edições inviabilizadas em nimbos editoriais), vários escritos usurpáveis ou não traduzidos, mas expressos por este raro escritor das Minas Gerais (ou carioca do brejo). Entre estas cito vários romances, peças de teatro, um livro de viagem, diários, correspondências e um apetitoso livro de poesia erótica intitulado Creme de Pérolas.

Ridicularizado ou até desvalorizado por Carlos Drummond de Andrade ou estigmatizado por ter trabalhado na editoria da revista do Departamento de Informação e Propaganda da ditadura getulista do Estado Novo (1937 / 1945) quando quase todos os escritores, artistas e intelectuais mais respeitados ocupavam altos cargos políticos naquele governo autoritário (exemplos: o filme O Descobrimento do Brasil dirigido pelo cineasta de Cataguases – M.G. Humberto Mauro; o projeto arquitetônico de Lúcio Costa para o edifício-sede do MEC no centro do Rio; o samba-exaltação Aquarela do Brasil do mineiro/ ubaense acariocado Ary Barroso; Rodrigo de Mello Franco, diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Carlos Drummond de Andrade, chefe de gabinete do Ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, mais tarde senador da Aliança Renovadora Nacional, força política que servia de suporte parlamentar aos governos militares entre o fim do mandato de Castelo Branco e o fim do governo Geisel). Outros artistas como Heitor Villa-Lobos, Cândido Portinari e, se não me engano, até Oscar Niemeyer participaram ou contribuíram com a orientação cultural getulista do Estado Novo. Mário de Andrade? Talvez sim... Sobre esta possibilidade de Mário de Andrade ter se envolvido com as autoridades gestoras da política cultural do Estado Novo getulista vale a pena ler e consultar as seguintes obras: Mário de Andrade – Cartas de trabalho – Correspondência com Rodrigo Mello Franco de Andrade – (1936 / 1945) – Brasília – MEC- SPHAN/ Pró-Memória – 1981 e Rodrigo e o SPHAN – Rodrigo Mello Franco de Andrade- Brasília- MINC/ SPHAN- Pró-Memória- 1987.

Além dos intelectuais e artistas acima citados, nomes como os de Plínio Salgado( que em dado momento até se exilou em Portugal), Gustavo Barroso, Abel Rafael Pinto, Miguel Reale e San Thiago Dantas(chanceler no governo Jango) e muitos outros também podem estar relacionados com projetos e idéias importantes no plano nacional de Cultura embrionado e desencadeado durante a ditadura getulista que perdurou de 1937 até 1945. Getúlio Vargas (enquanto ditador) esteve rodeado e foi assessorado por integralistas/fascistas (como Filinto Müller, Raimundo Padilha, etc.), por stalinistas, por populistas/corporativistas e até por artistas e intelectuais renomados, por que não? Alguns até seriam mais tarde consagrados ou canonizados (como Vinicius de Morais, Gerardo de Mello Mourão e D. Helder Câmara). E, mesmo tendo sido assessorado ou contado com os serviços de muitos outros, só Rosário Fusco levou a fama (embora tenha ingressado no serviço público federal por concurso). Menosprezado por outras figuraças e beldades do “metier” literário nacional, Rosário Fusco, até a sua morte, esbanjou saudáveis mordacidades, sarcasmos, irreverências e hilariantes sacações estético-literárias classificadas até hoje como “marginais”.

Mas deixem isto para lá. (...) Meu ego nasceu no mar Egeu. Hoje não existe mais pecado, é tudo uma questão de mercado. Eu só escrevo manifestos contra os “felizes”. “Boécio foi um dos poucos filósofos da chamada Idade Média na Europa. Durante muitos anos foi ministro do rei ostrogodo da Itália, Teodorico. O convívio com o poder naquelas cortes bárbaras deve ter lhe deixado boas recordações. Certo dia, uma conspiração lançou-o à prisão. Enquanto aguardava a execução, Boécio escreveu que, em cada adversidade da sorte, o tipo mais infeliz de infortúnio é o de ter sido feliz.” (Bertha Maakaboun – página 2 do jornal Estado de Minas – Belo Horizonte – MG – Brasil em sua edição do dia 2 de Junho de 2003).

O atual governo federal parece-me cada vez mais paulista: tem até sede regional na Avenida Paulista!... O nascente e o poente no mesmo lado? Por que o leste e o oeste a cada dia mais se confundem? Por que cada vez mais “direita” e “esquerda” se igualam? Perguntas que me inquietam no retorno (em ônibus) de Minas Gerais. Eclipse lunar me é um evento quase banal. Afinal, o que é uma lua crescente se não um eclipse lunar quase total?

Pedro Nava seria o Marcel Proust da zona da Mata mineira à esquerda? Rosário Fusco teria sido o Conde de Lautréamont da mineiridade modernista obscurecida (ou ignorada pelos lusco-fuscos das celebridades canonizadas / legitimadas por um sistema literário- intelectual pouco conhecido e menos ainda criticado?). Se o poeta francês Arthur Rimbaud chegou a ser um traficante de armas na Etiópia, eu não passei de um mísero traficante de livros!...

LIBELO CONTRA OS ASSALTOS PERPETRADOS PELOS BANQUEIROS CONTRA O POVO.

“Durante as primeiras investigações, que visavam a desmantelar a ubíqua quadrilha, operante em todo o território nacional, a polícia especializada (dada a semelhança dos processos e a rapidez cronometrada dos assaltos) chegou a supor, por insinuação de certa maliciosa imprensa, haver algo de cumplicidade do sindicato dos banqueiros com o sindicato dos arrombadores. (...) Até cartões perfumados com informações sobre os assaltantes eram oferecidos às datilógrafas do estabelecimento – “vítima”. (...) Resumindo: o que importava e importa é a responsabilidade do Tesouro. Mais alarmado do que os interessados (uma questão de marketing oficialesco), o “governo resolveu finalmente intervir no assunto nomeando comissões interventoras nos Bancos e grupos de trabalho para apurar, no exterior, o “que está havendo entre nós”, se as matrizes dos bilhetes eram solenemente inutilizadas após cada emissão”. (Confira em: ROSÁRIO FUSCO – Associação dos Solitários Anônimos - Cotia/SP – Ateliê Editorial – 2003 – entre as páginas 268 e 271.).

Como eu sempre digo, o mesmo dizia Rosário Fusco: “nem pólo norte, nem pólo sul. E mais, nem corpo nem alma, nem macho e nem fêmea, nem prêmio e nem castigo, nem FLA – FLU ou qualquer tipo de competição orbital entre astronautas ou outros tipos de navegadores perdidos. Como sabeis, “ não é comida que se oferece aos condenados à morte (o pior momento na visão dos imbecis, que se consideram eternos). O tempo voa e a poupança Carmelindus continua numa boa. O tempo voa e ainda não dispomos de poderes para detê-lo. “Entre caridade e fidelidade a primeira virtude é mais fácil. A caridade é sádica. Sempre detestamos quem não depende de nós. Só a miséria é solidária: quem não tem gosta de dar. Dois despossuídos têm mais do que um que tenha”.(Cf. in: FUSCO Rosário – obra citada – página 264).

A maior liberdade só a vivemos plenamente quando nos permitimos mandar as criaturas à merda. E quer saber de uma coisa? Confundo vísceras humanas com miúdos de porco e excito-me com a barba cerrada acompanhada por um higiênico bigode imperial. Machuco minhas feridas até sangrar. Sangrando secam e secando curam. Adoro estar num grupo de nus em exuberante banho de rio!... Com os intervalos as palavras ganham significados. Só quem duvida exige provas. Uma mantegueira, pães, geléias, frutas numa bandeja com bule eram as diversões e as sobremesas dos mosquitos das barrigas pálidas, fartos dos salgados de ontem!... Há muito não vejo uma escarradeira-cinzeiro-tripé!... Vivemos na era do chulé em tênis, cara!... A lei não proíbe as paixões, nem as mais “imorais”!...

Os nossos melhores amigos são aqueles que nos conferem novas identidades. Merecerá minha memória ao menos uma vela de sebo? Minha mão assassina (todos somos assassinos, dizia Sartre) assinou minha própria sentença de morte: eu peixe, morri pela minha própria boca!... Nem todo o real é existente. Rosário Fusco pode ter sido também um precursor do universo ou do imaginário teatral e literário de Nelson Rodrigues. Pedro Nava (de Juiz de Fora, zona da Mata mineira), deslocando-se como médico errante e exilado pelo interior / norte paulista , acabou suicidando-se no centro glorioso do Rio de Janeiro, onde freqüentou sabadoyles e outros saraus não bem antiacadêmicos. Pedro Nava, mesmo consagrado e canonizado, era um dos membros da a.s.a. (Associação dos Solitários Anônimos)!...

O médico escrevia, escrevia para enxergar o que se avultava numa neblina sem tréguas balsâmicas para as suas feridas e ânsias. Nunca conseguiu distanciar-se deste campo de lágrimas!... O dia subia enquanto desfilavam as marafonas em férias nas boléias das carretas de leiteiros ou dos caminhões de legumes (cenouras...) e as sucessivas vagas nuvens de moscas especializadas em sangue coalhado. Filas para entrar no mictório e barrigas cabeludas se esfregando nos untados mármores dos balcões dos bares!... Mãos bêbadas coçavam , de leve, os tampos das mesas. Olhos de um no focinho másculo do outro. Uma eufórica atmosfera de arrotos (inspirados pela nazista e bisonha cara larga e vermelha do quase suíno alemão tropicalizado e transformado em dono de bar / negociante hábil e generoso com os policiais que lhe davam cobertura) fez-se o hálito daquele antro carioca da bunda choca.

Cessada a chuva, o céu era um desperdício de estrelas faiscantes. O relógio trabalha feito juros de agiota. Os assaltos dos banqueiros são legais e rendem aos cofres governamentais. Fora de casa somos solteiros, em nossas casas somos cornos ou viúvos? Tanto faz. Camarão com farofa de dendê e arroz branco com um ovo frito mole são algumas das minhas delícias. Baforadas em cachimbos e evoladas de charutos lembravam-me algumas visitas que eu e meus pais fazíamos (aos domingos) ao meu bisavô Cícero Antonio Dutra.

Oh, lembrei: “O Brasil vai bem mas o povo vai mal.” – presidente – General Emílio Garrastazu Médici. Prenúncio veemente de escândalo. Tachos de ferro ou de cobre azinhavrado ferventando chouriços com o fogo de sabugos de milho em brasa. A mulher que o trem matou morreu. Morreu pela primeira vez!... Um mar manso acolheu minha verde alma. Nas campinas pré-celestiais verifiquei que uma víbora só se revela à hora do bote. “Se sabe o que eu sei , pensando que eu não sei o que você sabe, isto significa que não sabe nada.” ( FUSCO, R. – op. cit. – pág. 230).

O mundo apresenta-se em vazio moral, com ausência de escala de valores, e a completa incapacidade dos educadores criou uma geração fechada sobre si mesma. Uma humanidade juvenil onde coexistem seres muito diversos num magma indiferente. E esta indiferenciação, amorfa e opaca, provoca e incita , de repente, alguns jovens a matarem os próprios colegas por uma simples diversão. Não por ódio, não porque haja neles qualquer malformação, não por algum motivo sociologicamente explicável, nem por doença extirpável!... Por pura diversão!... Ih menino, espanta estas moscas da jarra de flores artificiais e estica a toalha mal estendida desta mesa, anda!... _Foi ele, foi ele sim, foi ele que jogou o pó em mim, foi ele, foi ele sim!... Vem cá seu guarda, bota pra fora este moço que está no salão brincando com pó de mico no bolso!... Foi ele, foi ele sim, foi ele que jogou o pó em mim!...

O meu principal defeito positivo é ser sincero e deliberadamente obsessivo. Confiar na perenidade dos segredos é coisa de néscio. Entre abrir e fechar a cova, adeus segredo!... Ajoelhai a tempo no genuflexório dos apavorados, amigo. Nossas academias já abrigam até alguns nostradamus de porões de cargueiros e nenhum fantasma do tipo Herman Melville ou Walt Whitman ronda os mausoléus dos nossos tropicais imortais. Miau! Miau! Miau! Alá o gato preto do Edgar Allan Poe, gente!... Hummm, que cheiro de asa!... Em 2004 ainda sairei no corso dos enxutos, você vai ver. Com uma garrafa de caninha da pura te consagrarei e lhe saudarei em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, saravá! E engulo bagos de cereja, de boca a boca, pensando nos coágulos de Christo. As charangas do circo, com os seus tambores alucinantes, em plena noite na terra da cantora Maria Alcina, nos chamam a atenção para os riscos mortais. Sinto, aos 52 anos de vida, o cheiro do meu velocípede vermelho ganho no Natal de 1955!...

A filha anã de um jogador profissional de víspora pegou o marido debaixo de um carapina e nunca mais o perdoou: até a noite em que se desencarnou dormiu em cama separada!... Maria de Lurdes casou-se com o brancão e altão Ezequiel. Luiz Carlos, irmão de Maria de Lurdes, casou-se com a morena Gilda. Um dia Ezequiel e Gilda fugiram e deixaram o casal de irmãos desacompanhados e aturdidos. Aí o Luiz Carlos virou-se para a irmã Maria de Lurdes e perguntou-lhe: “E agora?” E ela respondeu-lhe, com tranqüilidade: “Caga na mão e joga fora, irmão. E depois passa a mão no chão e sai correndo.” (...) Como diria Nelson Rodrigues, Rosário Fusco foi enfático: nem todo anormal é criminoso.

A Capitania dos Portos avisa aos navegantes e vaqueiros de todos os Tristes Trópicos durante A hora do Brasil : viver é perigoso mas tem os seus gozos. E estipulata est: “fornecer pretexto à imprensa para hostilizar o poder é esculhambar a ordem constituída”.

Se uma religião é sempre uma sociedade anônima, nem sempre a sociedade civil é uma religião: é mais os braços e as pernas do cérebro estatal. George Orwell tinha razão. Rosário Fusco foi um dos leitores de Marques Rebello, lhe garanto. Os médicos existiam antes da medicina, os aviadores antes dos aviões e os ditadores se travestem de Messias ou de psicólogos. Os estatísticos são manipuladores obsessivos em suas tramas e tentativas de eliminar casuais riscos e certezas.

Quando falamos não nos entendemos. Nossos incômodos pares de fundas para deterem nossas hérnias inguinais são próteses ciber/pré-genitais espantosas!... Cordas dos badalos, banquinho para a ordenha de vacas, tesoura de coxas sacanas e vôos desencontrados de trágicas ou acidentais andorinhas. Cegonhas e marrecos colhem carrapatos em bois e vacas que pastam à beira do lago de Furnas- Minas Gerais. Não conheço Xanxerê /S.C. e nem sou mais um inseminador. O país de São Saruê perdeu um notável semeador.

As festas da Academia nascem do ventre da morte. Repetindo dados esquecidos, pouco ressaltados ou considerados sem importância, sem relevância: Carlos Drummond de Andrade foi o chefe de gabinete do Ministro da Educação e Saúde Gustavo Capanema durante a Ditadura getulista do Estado Novo – 1937/1945 e ninguém fala nada a respeito deste fato. Só apontam a presença de Rosário Fusco na editoria da Revista do Departamento de Informação e Propaganda deste governo autoritário. Esquecem-se ou minimizam a importância da colaboração de Cândido Portinari, Oscar Niemeyer, Rodrigo Mello Franco, Heitor Villa Lobos e quase todos os intelectuais e artistas mais conceituados durante o período ditatorial getulista (1930/1945 e até o governo Dutra). Salete é um salgadinho delicioso. E Lanúcia? É uma dentuça amordaçada pelos bem pensantes? Como denunciava Pasolini em 1975: o fascismo continua.

Gustavo Capanema, mais tarde, chegou a ser Senador da Aliança Renovadora Nacional (M.G.), conluio nacional de forças políticas que apoiavam os governos militares que se sucederam no Planalto do fim do mandato do Marechal Castelo Branco até o fim do governo do general Ernesto Geisel.

Nossos tesouros e segredos ficam debaixo dos nossos rabos presos ou entre as palmilhas e os nossos pés. Raimunda, que rima com bunda; Maricona, que rima com Madona e Maroca que rima com piroca, cantavam na Barão de Mesquita: “Nêga, teu subaco fede manteiga, mete a bunda no cimento pra ganhar mil e quinhento”. E Jerusa, exalando suor de carne em febre, declarou à sua Santusa : “I love you.”

Criminosos de todos os crimes, mesmo desunidos,, jamais foram vencidos. Vivem em busca da seiva da vida e fundam fábricas de títulos protestados, concursos de misses, lojas que vendem lixas para calcanhares, topázios sintéticos, hebdomadários dialéticos, sardinhas e pomadas ou cremes para faces enrugadas, trajes de missa, espartilhos, até próteses de calcanhares!... Tudo isto num cantinho do céu da Lapa carioca dos anos getulistas mais cigarros, anéis de Vênus para todas as grossuras, massageadores transistorizados para pênis, perfumes baratos bem como rapaduras de cidra e outros acessórios para o teatro da vida. Talvez W. Shakespeare tenha escrito Romeu e Julieta inspirado na tragédia do rei português D. Pedro I e a camareira de sua esposa, a galega Inês de Castro!...

AOS INVERTIDOS EM PANE.

Cabelo ou peruca? Eis a questão. Com uma brasa viva (mora?) tracei-a com mais um Cinzano com limão e lhe apliquei um rabo de arraia deixando-lhe um galo na testa . Desfechei-lhe um tapa na cara. Deixei-a com um existencialista “pega-rapaz” de Françoise Sagan. Entendeu-me? Nunca o meu falanstério esteve tão movimentado, cara, hummm!... Aquele ali é contrabandista de drogas, bebidas, baralhos pornôs, ervas e perfumes carnavalescos. A qualidade dos hóspedes da nossa cabeça de porco era indiscutível e caribenha. À nossa volta a zona marítima era só alegria. Em terra, dispensando regas, as rosas entumesciam, desabrochavam, sangravam, murchavam e renasciam mais belas todos os meses. Dispensando adubos!...

Mesmo que os gonzos gemessem como almas penadas. No portão do jardim baldes enferrujados e cheios de lavagem chamavam as moscas varejeiras azuis, verdes e cor de cobre que esvoaçavam lépidas como colibris. Adoro tanajuras fritas amassadas em farinha de mandioca e esmagadas em farofa de amendoim torrado e moído. Uma paçoca deliciosa!... Não é mesmo, Maria Alcina?!... Você riu como uma coruja , linda!...

Bagagem intelectual oficial (chapa-branca) nunca foi garantia de aluguéis atrasados, não é mesmo Ascendino? A noite baixava com relâmpagos e estrondos de raios. Sem a culpa de ter nascido com uma vagina mas, condenada aos íntimos sacrifícios de compensar a ambicionada quebra da invisibilidade do falecido, borrifava-se com uma dessas águas de colônia para massagens anticelulite à base de clorosos lírios virginais de lodaçais. Só de uma galinha algo sai sem ter entrado? Sebosos baús infectos não conservavam os cheiros dos cerumes e nódoas das terças feiras gordas com suas alegrias, vulvas, ânus, pênis e gemidos soltos nas ruas e nos quartos de hotéis ou em outros palcos de surradas promessas de romances misteriosos e remotamente perduráveis!...

Mestres das solidões e das luxúrias, vossos futuros são de mártires!... Purgada a carne, faminta de fricções e vitaminas seminais, um arlequim debruçava-se sobre sua nostalgia de mictório, suas reminiscências de colchões de capim nos quais rolou em êxtases de pardieiros ou espeluncas chamadas “pensões”. Só o C. Bornay sobreviverá. Excesso de prova é confissão de culpa. A soma dos delitos de cada um nos suscita soluços de dor e de alívio. No fundo somos ignorantes espíritos medievais filhos de monjas demoníacas. Ou nascemos e crescemos em latas de lixo. Numa sessão espírita uma alma penada (desencarnada há 30 anos) gritava pela boca do seu cavalo: “Eu quero é um cu, eu quero é um cu, gente! É isto mesmo, um cu!...” Aflito, o espírito sem corpo esclarecia: “não é mandacaru, nem angu, nem tutu, nem molungú, nem Pitu, talvez um pouco de cuscuz mas eu quero mesmo é um cu”.

Este guloso espírito de porco sem vergonha (e d’aí?) bateu asas e voou. Caí numa de “épater le bourgeois”? Ai que cheiro de morcegos, cruz credo!... O bicheiro e seus michês também tinham bichos de pé? Ah, sei lá, compre a chave do quarto da roxa e deixe o arremate do tricô por minha conta, neguinha!... Sabe o que é godê em linguagem naval (sem navalha)? Quer dizer tesão de viagem. Entendeu? A maçã da Bíblia era uma ova de esturjão, ouviu ô pau d’água? O pai d’égua entrou na cabeça de porco, olha lá!...

Ele escolhe suas companhias pelos modos, maneiras, palavras e cheiros do freguês. Comia a sardinha ao seu jeito. Além disso são os vivos que inventam os seus mortos. Por favor, puxe a corrente da descarga da latrina, senta e cheira um falso ácido úrico como se fosse chulé e relaxe. Será que Rosário Fusco não teria sido também um Proust de metrópole portuária tropical, ô Fábio Lucas?!...

Leia Sodoma e Gomorra em La Recherche e confira. Seu pênis está mais murcho do que um dedo de salsicha dormida, olhe querido!... Será que assim você se animará para uma soiré no Albergue da Boa Vontade ou para um por do sol no clube das ex-alunas do Colégio Spes ou do Sacré-Coeur de Marie? Acho que mandarei benzer e defumar a nossa casa com abre-campo na primeira sexta-feira do próximo mês. Gatos e gatas em cios incontroláveis aumentam a venda de um mofado elixir afrodisíaco na Pharmácia do Sr. Marinho. Fluidos subalternos entram em repelentes conflitos de taras. A indústria dos flagrantes deixara de interessar como especialidade pelo lerdo mecanismo do recolhimento de dados...

Clics e insights, clisteres, bombas para lavagens vaginais (com água mineral sem gás) e até flores, toalhas higiênicas, escutas de idílios telefônicos, etc. ... A mentira sempre começa na verdade da primeira prova. Tudo se resume a jogos, já dizia Huizinga. Jogos do bicho, do amor, da morte, jogadas políticas e sócio-econômicas (repasses de riquezas), etc... “Quem poderia supor que uma rainha fosse trair o soberano num colchão respingado de esperma anônimo e manchas de pulgas reais?” (FUSCO, R. – obra citada – página 86). Rosário Fusco é um pouco de Henry Miller, de Tennessee Willians, de Truman Capote, de Harold Hobbins, de Charles Bukovski e de muitos outros. O homem é o lobo do próprio homem? Ou um molusco minúsculo apegado a um chão ou à morada dos seres reais inexistentes?

DEITADA, NUA E COM A LUZ APAGADA.

Depois foi verter lágrimas e urina na privada do Clube de Bridge, onde falsas amigas a esperavam. Bicicleta parando cai. Pelo menos era o que aconteciam aos ciclistas da era pré-ergométrica. Mulher insatisfeita é uma viatura sem freio. Prazer e dor se manifestam por exclamações iguais. Nem as aves do céu ou os bichos do mato distinguem bem a aurora do crepúsculo. Nunca soletramos sem inveja ou ódio os nossos segredos nos ouvidos de cera dos outros. O céu de segundos dá a luz reveladora da terra (muitas vezes milenar) da qual não decolamos.

“É um perigo esse climatério dos que não fizeram tudo na mocidade por contenção forçada: falta de tempo, dinheiro, pão-durismo, debilidade fisiológica e covardia psicológica inatas.” (FUSCO, R.- obra citada – página 93). O impulso sexual transcende e despreza a fé, a esperança e a caridade (virtudes divulgadas pelos espíritos tridentinos). O mais amado é sempre o que mais dá? Não!...

Os teólogos são doutores impotentes e peidorreiros viciados em chocolate ou pedófilos clandestinos (ou tudo isto a um só tempo). Nossas provisórias penugens e asas são algumas formas embrionárias do anjo que nos aguarda no futuro. Somos / fomos ovos postos num charco pelas mãos do Senhor, entre lírios, flores e sapos untados de esperma. Mais tarde seremos engolidos e vomitados pelos bares e restaurantes do mercado. A vida é uma chantagem cronometrada e amealhada por banqueiros e governantes por taxas de spread nunca divulgadas. “Meu reino é deste mundo e o meu mundo é o cais.” (Cf. in: FUSCO, R.- obra citada – página 106).

Minha biblioteca são as minhas viagens. Vou dar um giro por aí para ver as modas, ok? E leio num jornal, na banca da praça mais próxima: “Exigimos do governo cubano (há mais de 40 anos encabeçado por Fidel Castro) a imediata libertação de todos os dissidentes, que desejam a soberania e a democracia de seu país, e demandamos que pare a repressão contra a oposição pacífica.”. Entre os signatários deste manifesto publicado por El País de Madrid figuram a minha assinatura e as de Pedro Almodóvar, Jorge Castañeda, Mario Vargas Llosa, Günter Grass, Harold Bloom, Caetano Veloso e de Jorge Edwards.

Os desatualizados leninistas ainda são muito poderosos no Brasil. A memória do tempo é mais exigente e onerosa do que a memória do espaço/cenário/ paisagem. O tempo dói e os espaços são mudados. É tão complexa esta questão quanto o problema conjugal consistente na conjugação do macho inadequado com a fêmea lésbica. Minha prima amigou-se, então, com o rei do ferro velho que, ao morrer, deixou-a coberta de ouro em elegantes transatlânticos em cruzeiros pelas Antilhas (paraísos de ditadores e de depósitos bancários misteriosos). No Caribe esta minha prima fez-se devota do Santo Rosário François do Vudú!...

Às vezes, pela mentira, os homens fundam uma verdade. E alguns títulos protestados são resgatados nas camas e não em cartórios. O resto é só falatório. Primeiro a gente engole. E, depois, rumina, certo? A lei dos homens me nega a liberdade de ser eu. Crime é o que o rei decreta. Ô malandro, ouviu?

Gripado, o homem leva vírus às estrelas. Só Deus dispensa provas: a justiça as fabrica. Dos orifícios da porca matéria humana jorra, escorre ou exala ou adentra o inconfessável. Não sei onde foi parar aquele beldroegas e caçá-lo seria como procurar um prego num paiol com mais de três milhões de espigas de milho. O segredo devia morar no cais, ou seja, no mundo. Pois o mundo, repetindo, é um cais.

Adoro um angu à moda baiana. E das baianas só como o acarajé. Meus palpites políticos e minhas preferências por cantores de rádio, artistas de cinema, comidas, bebidas, devoções, performances e poses são a minha marca registrada, o meu código de barra, o meu ego-mercadoria.

Há trinta anos o governo alardeia as mesmas promessas e sempre com novas palavras-chave (agora a moda é o termo “compromisso”) – mas não as cumpre nem assume. Água, casa, comida, transporte, remédios, colégio e livros pros meninos, trabalho, dignidade, justiça, etc. Protestemos e caguemos para o azar de levar umas borrachadas e outros flagelos sem motivos reservados aos pobres revoltados. Vamos ao “happy-hour” na churrascaria da chinoca linda que escrevia horóscopos para o Correio do Povo?

O oceano cabe numa gota do mar. Do lixeiro às violeteiras, dos viciados em maconha aos viciados em esperma, todos têm cu e querem viver ou sobreviver. E isto será possível? Até quando? Só quando tivermos a receita da grande pílula universal de alfa - ômega!...

Ainda não temos nem o indigente querosene das lamparinas que nos guiariam até o fim do túnel cavernoso que nos detém ou nos retém (reflexão de Platão). “Os estilos e costumes de um tempo – dos móveis aos bidês, dos cinzeiros às escarradeiras, passando pelas regras de comportamento, trazem as marcas dos poderosos da época.

Obcecados amigos, ainda seremos celebrados em Aldebarã (onde pecado, crime, perdão ou castigo nunca existiram ou não existem)”. - FUSCO, R. – obra citada – páginas 160 e 161. Os dedos das nossas mãos são desiguais e diferentes mas todos seriam cozidos se mergulhados em água fervente. Vivamos e salvemo-nos, irmãos!... Amém!... (8 de Junho de 2003).


(*) José Luiz Dutra de Toledo, 51 anos e meio; historiador e escritor nascido em Tabuleiro- MG e radicado na região de Ribeirão Preto/SP desde 1984; Mestre em História pela UNESP-Franca/SP desde 1990; Prêmio Clio- 1992 da Academia Paulistana da História; professor e bibliotecário aposentado.”



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