É bem significativa a palavra árabe islam (islã). Ela é derivada de aslama e significa 'submeter-se', 'entregar-se'. No caso, entregar-se a Alá. Muslim (muçulmano) tem o mesmo sentido. Significa 'aquele que se submeteu a Alá'.
O profeta Muhammad (Maomé) nasceu por volta de 570 d.C. e era da tribo dos coraixitas, que guarneciam a Caaba, em Meca, na atual Arábia Saudita. Maomé entrou para o serviço da rica Cadidja, com quem se casou quando esta ficou viúva. Embora iletrado, como se pode comprovar no verso 49 do capítulo 29 (Al-Ankabut) do Corão, essa nova situação permitiu a Maomé fazer algumas viagens e conhecer melhor o povo árabe e outros povos vizi-nhos.
O Corão, segundo a tradição islâmica, é o conteúdo da revelação verbal feita a Maomé pelo Arcanjo Gabriel, durante um período de aproximadamente 20 anos em Meca (610-622) e Medina (622-632). A mensagem era: fé num único Deus, Allah (Alá), crença na ressurreição dos mortos e na felicidade eterna. Os primeiros versos (aiat) revelados foram os de 2 a 6 da sura (surata ou capítulo) 96 (Al- Alaq): 'Recitai em nome de vosso Senhor, Que criou todas as coisas. Ele criou o homem de um coágulo de sangue. Recitai, porque vosso Senhor é o Mais Be-néfico, é Quem tem ensinado através da pena (escrita), ensi-nado ao homem aquilo que ele não conhecia'. O último capí-tulo revelado no Corão foi o de nº 110 (Al-Nasr), que contém 4 versos. Ao todo, o Corão tem 114 capítulos e 6.216 versículos. Todos os capítulos principiam com as palavras: 'Em nome de Alá, o Misericordioso e Compassivo'.
Primitivamente, os textos corânicos eram escritos em madeira, couro, peças de cerâmica, ossos, pedras brancas, pergaminhos e até papiros. Esse trabalho era feito pelos discípulos de Maomé, que transcreviam as recitações do Profeta, já que o mesmo era iletrado. Só mais tarde a Mus haf foi desenvolvida, ou seja, os textos corânicos foram acondicionados em forma de livro, a partir do terceiro califa, Otomã.
A pregação das revelações divinas recebidas através do Arcanjo Gabriel encontrou oposição violenta em Meca e a 16 de julho de 622 Maomé deixa a cidade, com parentes e amigos, e parte para Yathrib, que a partir de então passa a se chamar Al-Madinat Al-Nabi (a Cidade do Profeta), ou apenas Medina. Aquela data, a Hijra (Hégira ou Emigração), marca o ponto de partida da era islâmica e é o ano 1 muçul-mano.
Para assegurar a vida material de sua comunidade, Maomé permitiu que seus membros atacassem e pilhassem caravanas no deserto, principalmente de judeus. Há até uma data festiva muçulmana que lembra aquela época de imposição da in-cipiente religião que brotava.
Em 630 Maomé retorna a Meca. Não há combates e os che-fes coraixitas se submetem ao Profeta, que ordenou a des-truição dos ídolos da Caaba. Até hoje, os muçulmanos não têm estátuas dentro das mesquitas, nem desenhos de criaturas humanas. É proibido a mimese, a imitação da figura humana. É para lembrar que há um só Deus, Alá, e somente Ele deve ser adorado.
Caaba (em árabe, Ka aba, 'Casa de Alá') é aquele cubo ne-gro, coberto de seda, que contém um pedaço de meteorito ne-gro, que seria proveniente da mesa de pedra onde o profeta Ibrahim (Abraão) quase imolou seu filho Ismail (Ismael), que teve com uma escrava egípcia, Agar. Se-gundo a crença dos muçulmanos, Ismael é que quase foi sacri-ficado. No Antigo Testamento lemos que Abraão esteve prestes a matar Isaac. Como se vê, cada um puxa a brasa para sua sardinha.
Fica uma dúvida. O islamismo é contra a exposição de estátuas e imagens em seus templos, temendo que elas sejam “adoradas”. Por que, então, essa veneração toda em torno de um bloco de pedra, de um monolito, de uma “estátua” tosca, que é a Caaba?
Uma expedição bélica de Maomé contra a Síria, sem su-cesso, marca o início da era das conquistas. Quando Maomé morre, não deixa filhos homens e também não estabelece re-gras para sua sucessão. Isso provoca, desde o início do is-lamismo, o cisma da religião e muitas heresias.
Os 4 primeiros califas foram: Abu Bakr (sogro de Maomé), Umar Ibn Al-Khattab (Omar, um partidário de Maomé), Uthman (Otomã, omíada de Meca) e Ali Ibn Abi Taleb (casado com Fátima, filha de Maomé).
Ibn é uma palavra muito comum na formação de nomes pró-prios árabes. Significa 'filho', indicando a genealogia da família. Às vezes, em um mesmo nome, muito extenso, a pala-vra Ibn pode aparecer duas ou três vezes. Assim, Ibn Al-Khattab significa 'filho de Al-Khattab'.
O kalifa (califa, que quer dizer 'sucessor', do profeta Maomé) não era um chefe autocrático. Não era um profeta, porque não recebia revelações. Não era o 'papa' dos muçulma-nos, uma vez que não lhe foi outorgado o poder de legislar nem de definir dogmas. A autoridade era exercida por um Conselho de Notá-veis.
Aos poucos, o califa vai perdendo sua importância, res-trita a funções religiosas, enquanto o poder real é transfe-rido para as mãos do sultão. O califado é abolido em 1924 pelo regime de Mustafa Kamel, o Atatürk, líder nacionalista turco, que instituiu um poder laico no país alguns anos após o desmoronamento do grandioso Império Otomano.
O califa Abu Bakr começa o expansionismo muçulmano, to-mando toda a Península Arábica. Porém, Omar é o verdadeiro fundador do império árabe: tomou a Pérsia (atual Irã) em 634, a Síria e a Palestina em 635 e Jerusalém em 638. Em 639, seu general Amr Ibn Al-Ass invadiu o Egito.
Esse fácil expansionismo pode ser explicado pela união de todas as tribos árabes da Península Arábica em torno da religião islâmica e pela fraca resistência do inimigo: o Ocidente bizantino estava divi-dido, 'discutindo o sexo dos anjos'; a Pérsia esgotada com as guerras contra Bizâncio; e nas províncias havia ressenti-mento contra a administração persa e bizantina.
A jihad (guerra santa) prossegue quando Mu awiyya foi proclamado califa, em 660. Este transforma o califado em um cargo hereditário, iniciando a dinastia dos omíadas (da fa-mília Ummayad), que duraria até 750, com sede em Damasco, na Síria. Por volta de 710, todo o norte da África estava nas mãos dos árabes.
Em 711, o árabe Tariq Ibn Ziyad, de ascendência berbere (povo do norte da África), subjuga a Espanha, enfraquecida pelas disputas dinásticas. Portugal também caiu sob o poder árabe e herdamos desse povo muitas palavras e costumes. Quando estivemos em Lisboa, em abril de 1992, conhecemos o castelo de São Jorge, que é o melhor belvedere da cidade, sobre a enseada do Rio Tejo. O castelo foi construído pelos romanos e ampliado depois pelos árabes. D. Afonso Henriques, posteriormente, o libertou das mãos dos mouros.
O nome 'Gibraltar' vem de Gibal Al-Tariq, 'Monte de Tariq', nome do general árabe que conquistou aquela encosta rochosa da Europa, hoje uma colônia da Grã-Bretanha. O nome 'Algarves', província portuguesa, deriva-se de al-garb (o poente). O mesmo sentido, 'ocidente', tem a palavra al-marhrib (o maghreb), conjunto de países do noroeste afri-cano: Argélia, Tunísia e Marrocos.
A partir de 720, os árabes começaram a cruzar os Piri-neus e a assolar o sul da França. Em Poitiers, Carlos Man-tel, em 732, obteve importante vitória, afastando os invaso-res para o lado ocidental dos Pirineus. Aquela batalha foi decisiva para a manutenção do cristianismo na Europa. Caso os árabes vencessem, todo o Ocidente, hoje, pode-ria ser islâmico.
O império árabe estendia-se do Atlântico à China, com ataques à França e à Itália, onde dominaram Palermo e a Si-cília, além de oferecer perigo a Roma e Nápoles. Durante 2 anos, o Papa teve que pagar impostos aos árabes.
A extensão do império árabe concorreu para seu enfra-quecimento. Em 750, a dinastia dos omíadas foi substituída pela dos abássidas, com sede em Bagdá, Iraque, que iria se manter até 1258. O último omíada destronado e expulso de Da-masco se refugiou em Córdoba, na Espanha, onde fundou o ca-lifado omíada do Ocidente. Nesse período, o império se frag-mentou.
O Império Otomano
Em 969, o 4º califa fatímida Al-Mu izz conquistou o Egito e fundou o Cairo (Al-Qáirah). O Egito passou, então, a ser governado pela vertente xiíta do islamismo.
Nessa altura, a autoridade do califa ortodoxo (sunita) se restringe à Pérsia e à Mesopotâmia (na atualidade, Irã e Iraque, respectivamente). O poder não lhes pertencia de fato: generais persas e capitães turcos tomaram o título de 'emir dos emires' (príncipe dos príncipes) e governavam Bagdá, embora o califa mantivesse prestígio espiritual.
Em 1171, o grão-vizir (espécie de 1º Minis-tro) Saladino tomou o poder no Egito. Substituiu a dinastia fa-tímida pela dinastia dos aiúbidas e apossou-se da Arábia e da Síria, expulsando os cruzados de Jerusalém (1187). Resta-beleceu, assim, o comando sunita de Bagdá sobre toda aquela região. Depois, em meados do século XIII, a dinastia fundada por Sa-ladino é destronada, dando lugar aos sultões mamelucos, que eliminaram definitivamente os cruzados da Terra Santa.
Sob Maomé II, os turcos otomanos se apossaram de Cons-tantinopla, em 1453 (fim da Idade Média), onde, posteriormente, a Basílica de Santa Sofia foi transformada em mesquita. Como compensação, para nós cristãos, a Grande Mesquita de Córdoba, na Espanha, é hoje uma catedral cristã.
O Império Otomano atingiu seu apogeu sob Suleyman I (Salomão I), o Magnífico, que tomou Belgrado e chegou a sitiar Viena. Os turcos haviam tomado Kosovo, em 1389, massacrando todos os nobres sérvios. Poe-mas épicos e canções sobre a queda de Kosovo vieram a se tornar parte vital da cultura sérvia. Em 1459, o Sultão oto-mano Mehmed II completou a anexação de toda a Sérvia. Os turcos governaram pelos próximos 400 anos, estabeleceram o serviço militar aos jovens sérvios, exterminaram os nobres e impuseram pesados impostos ao povo. A Igreja Or-todoxa Sérvia ficou sob controle dos patriarcas gregos. Isto tudo explica o ódio tribal que se observou na guerra da Bósnia-Herzegovina, onde os cristãos sérvios promoveram uma 'limpeza étnica' e promoveram barbaridades de toda espécie contra os muçulmanos após o fim da Iugoslávia. Não se justifica essa estupidez. Mas se ex-plica.
Suleyman reconstruiu as muralhas de Jerusalém que podem ser vistas hoje em dia. Até por volta de 1700 os turcos iriam representar uma ameaça constante à Europa cristã. A famosa Batalha de Lepanto, em 1571, foi mais uma vitória mo-ral do que prática para os aliados cristãos, devido à infe-rioridade de sua esquadra.
As razões da decadência do Império Otomano deveram-se à extensão do mesmo, à poligamia - muitos filhos geravam conflitos na sucessão -, à corrupção no harém, com o capri-cho das mulheres, e à tarefa de governar, que o sultão entre-gava a seus vizires.
No século XX, os turcos otomanos cometeram um genocídio de proporções semelhantes ao holocausto judeu promovido por Hítler. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando se aliaram à Alemanha, os otomanos assassinaram cerca de 1,5 milhão de armênios que moravam na Turquia. Uma autêntica 'limpeza étnica'.
Sob Muhammad Ali, o Egito se libera da tutela otomana, mas a independência que conheceu, com vitórias na Arábia Saudita, na Grécia e contra os turcos, não durou muito: a abertura do Canal de Suez, em 1869, passagem importante dos ingleses para a Índia, selou o destino do Egito. De uma forma ou de outra, os ingleses exerceram domínio sobre o Egito, em geral, e sobre o Canal de Suez, em particular, principalmente durante as I e II Guerras Mundiais e durante a guerra árabe-israelense de 1956, quando Násser nacionali-zou o Canal.
São 21 os países que formam o mundo árabe, se conside-rarmos a Palestina, germi-nando como nação em Gaza e no enclave de Jericó: Egito, Sudão, Eritréia, Arábia Saudita, Jordânia, Síria, Iraque, Kuwait, Bah-rein, Qatar, Omã, Somália, Líbia, Argélia, Tunísia, Líbano, Emirados Árabes Unidos, Mauritânia, Marrocos, Iêmen e Pales-tina. A Turquia e o Irã, apesar de suas populações serem predominantemente muçulmanas, não são países árabes.
A Liga Árabe, com meio século de existência, é a principal organização política dos países árabes. Porém, como o chamado 'mundo árabe' não é monolítico e os países que compõem aquele organismo tem mais diferenças a discutir do que semelhanças a implantar, a organização ganha muito em retórica e quase nada na prática.
Há países muçulmanos bastante liberais, de um lado, como o Egito e a Turquia, que sofrem grande influência do Ocidente e, de outro lado, países muito mais conservadores, como o Irã, a Arábia Saudita e o Sudão. Há, ainda, os ricos países produtores de petróleo da Penín-sula Arábica, que formam o Conselho de Cooperação do Golfo, para promover interesses apenas próprios, inclusive de segu-rança conjunta, sem se importar com os outros pobres países árabes vizinhos, onde a miséria campeia solta, a exemplo da Jordânia, Egito e Sudão.
Os fundamentos do Islã
O islamismo não é uma religião original. Formou-se com base nas religiões judaica e cristã e sua cultura nasceu do encontro das civilizações altamente desenvolvidas da Grécia, Pérsia, Egito e Crescente Fértil. O Crescente Fértil envolvia as ricas terras da Palestina, do Líbano, da Sí-ria e da Mesopotâmia, atual Iraque. Na parte cultural, os conquistadores foram subjugados pelos conquistados. Os con-tos Alf Laylah wá Laylah (As Mil e Uma Noites) eram origi-nalmente persas, não árabes. Os persas escreveram os mais importantes livros da Hadith (Tradição), tanto da seita xiíta quanto da sunita. Contribuíram também na formação de cientistas como o físico e filósofo Avencina (Ibn Sina), formado nas universidades ocidentais.
Porém, a cultura árabe floresceu esplendidamente durante a Idade Média, enquanto o 'período das trevas', ocasionado pela Inquisição, colocou a Europa na mais completa escuridão cultural. Devemos aos árabes a conservação da cultura grega e muitos aspectos culturais europeus inspiraram-se em costumes árabes. Alguns consideram que a concepção da cavalaria, na Europa, a arte bélica desenvolvida em volta do cavalo, foi uma noção que veio do islã.
Paradoxalmente, os muçulmanos preservaram a cultura grega para o Ocidente, que mais tarde iria ser o fermento do Renascimento, quando os cruzados levaram aquela cultura e as ciências árabes para a Europa. Enquanto isso, os árabes permaneceram fiéis aos rígidos ensinamentos do Corão, sem desvio de rota.
Lendo-se o Corão, observa-se que as idéias centrais são repetidas dezenas e dezenas de vezes, como o sermão de um pároco que discorresse sobre um só tema. As ilustrações são diversas, os ensinamentos são veementes, nobres e profundos. O livro sagrado dos muçulmanos afirma como verdadeiras as primeiras revelações divinas: 'Verdadeiramente, nós lhes enviamos a Torá, cheia de ensinamento e luz' (5: 45). O Corão relaciona os pecados a serem evitados e as virtudes a serem seguidas.
O Corão prega a liberdade de consciência. É taxativo quando diz que a fé é uma questão de consciência de cada um e não pode ser imposta: 'Proclame: Esta é a verdade de seu Senhor; então deixe quem quiser, que creia, e deixe quem quiser, que não creia' (18: 30). Porém, há enunciados corânicos que vão contra os cristãos e judeus, como veremos adiante. Isto, certamente, deve ser a causa da intolerância de muitos muçulmanos frente à civilização ocidental.
O livro dos muçulmanos lembra continuamente as responsabilidades do homem e da mulher, que devem ser tolerantes com as pessoas nas desavenças. O Corão lembra aos filhos que eles foram gerados com a dor da mãe, que os carregou no ventre por mais de 30 meses. Assim, quando a mãe atingir a maturidade, por volta dos 40 anos, o filho deve retribuir a dádiva que recebeu ao vir ao mundo. Ao pai idoso o mesmo cuidado deve ser concedido.
Socialmente, o Corão é mais evoluído em um aspecto que a Bíblia: o divórcio. Em nossa sociedade ocidental, o divórcio está cada vez mais presente em nosso cotidiano, inclusive entre os cristãos, mesmo que os Evangelhos não o permitam.
Como foi escrito numa época em que o sistema patriarcal era absoluto, quando na antiga Arábia até as meninas muitas vezes eram enterradas vivas porque o pai preferia homens, a mulher no Corão tem uma posição inferior. Os religiosos muçulmanos, no entanto, interpretam a posição secundária da mulher não como uma humilhação, mas a necessidade de ela precisar do amparo e da assistência do marido, principalmente na vida material, e da custódia contra o abuso de outros. O problema todo é o choque dos ensinamentos rígidos do Corão frente à vida moderna, na entrada do século XXI, quando presenciamos no Ocidente a banalização de todos os conceitos morais e religiosos.
Por isso, não deve causar estranheza que o Corão tenha se cristalizado naqueles princípios que então regiam as sociedades, já que o livro sagrado dos muçulmanos, escrito na língua dos anjos, não pode jamais ser modificado. Para os religiosos islâmicos, não pode haver uma 'revisão' do Corão, assim como houve a Reforma Protestante - um movimento religioso contra a Igreja Católica estática e corrupta da época. Da mesma forma, as exortações veementes, a rígida moral, os castigos extremos - como a pena de morte para os que renegarem sua religião, ou o corte das mãos dos ladrões -, tudo isso decorre da época em que vivia Maomé.O Antigo Testamento, com a Lei Mosaica, não era menos rigoroso em seus ensinamentos. A pena de morte era prescrita com bastante freqüência.
Assim, de acordo com o rigor que os muçulmanos interpretam seu livro sagrado, observamos as várias nuances no mundo árabe e muçulmano, com países mais liberais de um lado, como o Egito e a Turquia, e de outro lado países mais conservadores, como a Arábia Saudita e o Irã.
A Sharía (Charia ou Lei) significa 'caminho do bebedouro', o 'caminho que leva a Alá'. É a crença ou doutrina islâmica, além do ritual religioso e a moral social, que deve ser aplicada a toda a sociedade muçulmana. Quatro são os fundamentos da Charia: o Corão, a Sunna, o Ijima e o Quias.
Al-Quran ('o Corão' ou 'o Alcorão') significa 'discurso', 'recitação' e é também chamado de Kitab Allah (Livro de Alá). Eterno e imutável, considerado a língua dos anjos, o Corão não pode sequer ser traduzido. Para a unanimidade dos ulema (teólogos muçulmanos), a tradução do Corão para qualquer outro idioma não se considera mais Corão e sim 'tradução dos significa-dos dos versículos corânicos'. Para os fundamentalistas muçulmanos, devem ser cumpridas todas as determinações do Corão, sem possibi-lidade de contestações, revisões ou interpretações livres em qualquer época da história humana.
A Sunna (caminho do Profeta) é o conjunto de aconteci-mentos da vida de Maomé, reunidos na Hadith (Tradição), para preencher as lacunas do Corão, que é imutável. A Hadith começou a ser reunida desde a época omíada.
O Ijima ou 'consenso universal' é qualquer crença ou prática, mesmo não contidas no Corão ou na Hadith, que se tornam justificáveis, desde que aceitas pela comunidade mu-çulmana.
O Quias é a base de interpretação da Charia. É um ra-ciocínio analógico, através do qual novas crenças e modos de conduta são deduzidos. Os conservadores limitam tal princí-pio, pois pode levar à livre interpretação.
Na doutrina islâmica, convém destacar, ainda, o papel dos religiosos na atualidade.
O mufti é o intérprete máximo da Sharia, a lei islâmica. No antigo império islâmico, a administração das províncias previa o cadi e o mufti. O cadi julgava as questões judiciais e sua autoridade era apenas inferior à do chefe de Estado. Hoje, o Grande Mufti do Egito é a maior autoridade religiosa do país e trabalha em conjunto com o Grão-Sheikh da Mesquita Al-Azhar.
O alim é um sábio religioso. Os ulema (plural de alim) são os teólogos muçulmanos, os profundos estudiosos e intérpretes do islamismo.
O sheikh é um estudioso da religião e, junto com o imam, normalmente dirige uma mesquita. No Egito, destaca-se o Grão-Sheikh da Mesquita Al-Azhar, importante centro de teologia não só do Egito mas de todo o mundo muçulmano. Quando moramos no Egito, tínhamos um amigo oriundo de Paranaguá-PR estudando na Universidade Al-Azhar para ser um sheikh (xeque).
O imam (imã, sacerdote muçulmano) está associado com uma mesquita em particular, onde lidera as orações, principalmente das sextas-feiras ao meio-dia, quando profere 'sermões'. É como se fosse o 'vigário' da Igreja Católica.
As obrigações do muçulmano
São 5 as principais obrigações do islamita: a shahada, que é o recital do credo 'Alá é o único Deus e Maomé o seu profeta'; a salat, que consiste em orar 5 vezes ao dia, vol-tado para Meca; a zakat, que é o pagamento de doações, espé-cie de dízimo, para ajudar os pobres; a siam, jejuar no mês sagrado do Ramadã; e fazer, ao menos uma vez na vida, uma peregrinação a Meca, a hajj.
Já cedinho, de madrugada, os alto-falantes das mesqui-tas chamam os fiéis para a oração: 'é melhor rezar do que dormir'. Antigamente, era o muezin que chamava, do alto das mesquitas, os fiéis para a oração. Hoje, várias vezes du-rante o dia e à noite as fitas gravadas e os alto-falantes fazem esse serviço.
A abertura da televisão é feita com leitura de trechos do Corão. Várias vezes durante o dia, na hora do chamamento dos fiéis para a oração, a programação da televisão é interrompida para a leitura do Corão. Da mesma forma, ao sair do ar, a televisão apresenta algumas orações extraídas do livro sa-grado.
A 6ª feira é o Yum Al-Guwah, o 'Dia da Reunião', o dia por excelência da oração. Nesse dia, o imam sobe ao púlpito e profere dois sermões. Com-parando, seria a missa dos católicos nos domingos e dias santos. O horário é por volta do meio-dia e podíamos ver, em todas as mesquitas do Cairo, o povo aglomerado do lado de fora, aque-les que não conseguiram lugar dentro da mesquita, acompa-nhando as orações pelos alto-falantes. Todos os fiéis vão chegando com seu pequeno tapete para as orações. Alguns, na falta do tapete, improvisam jornais para ficar em pé ou ajoelhado em cima dos mesmos, como prevê a tradição.
A oração a Alá deve ser feita em um local limpo, por isso a necessidade do uso do tapete. Ao entrar em uma mes-quita, o fiel muçulmano deve deixar os sapatos do lado de fora. Na maior parte das mesquitas a entrada é somente per-mitida aos homens. Os estrangeiros também têm acesso, mas somente em algumas mesquitas são permitidas fotografias ou filmagens. Cada mesquita tem seu mihrab, o nicho indicador da direção de Meca, para onde o fiel muçulmano deve se voltar durante as orações.
Os religiosos muitas vezes admoestam os fiéis, que trocam a mesquita pela televisão, principalmente quando jogam o Zamalek e o Ahli, do Cairo, um clássico que pára a cidade. Seria uma espécie de Fla-Flu dos bons tempos. Ou de um Corinthians versus Palmeiras de tempos recentes.
Mas não é só nas mesquitas que o fiel faz suas orações. Nem só naqueles horários rígidos anunciados pelos alto-fa-lantes das mesquitas, pelo rádio ou pela TV. Em qualquer lo-cal e a qualquer hora o fiel muçulmano pode fazer sua oração. Para a oração, o fiel deve fazer a tagsil, a ablução do rosto e das mãos com água, ou o tayammum, ablução simbólica, que consiste em esfregar areia nas mãos na falta de água, como se segue:
'Para rezar, lavar as faces e as mãos até o cotovelo; passar as mãos secas sobre a cabeça; lavar os pés até o ar-telho. Se tiver tido relação sexual com suas esposas, tomar banho para se purificar. Se estiver doente ou em viagem ou vier da privada, ou tenha tido relação sexual com suas espo-sas e não encontrar água, há o recurso do pó limpo, tocando-o com as mãos e passando o pó no rosto e no antebraço' (5: 7-8).
Ajudar os pobres é outra obrigação do muçulmano. Não só oferecendo carne aos pobres no Aid El-Adha, a Festa do Sacri-fício, mas também contribuindo com gorjetas aos pedintes nas ruas. E qualquer favor prestado, o pagamento é obrigatório. A zakat, a contribuição purificadora, tem por objetivo a re-distribuição da riqueza, maneira de reduzir as diferenças sociais - ao menos em tese. É para purificar os ricos do egoísmo e os pobres da inveja. Se o bauab (porteiro), nor-malmente um beduíno analfabeto do interior, ajudar a levar as compras até sua casa, ou qualquer pessoa pobre prestar algum favor, você é obrigado a dar um bakshish (gorjeta). Na época do ramadã, os estrangeiros também são convidados a dar alguma contribuição ao bauab, ao carteiro, aos cobradores de energia elétrica e de gás canalizado.
Pudemos observar, numa telenovela em que entendíamos muito pouco, que os árabes até fazem humor com essa obri-gação de dar gorjeta aos mais pobres. Um homem rico, ao es-perar um elevador, tentou se esquivar do toque de uma pessoa mal vestida, que pedia uma esmola, para evitar a contri-buição de gorjeta. No primeiro descuido, o mendigo espanou com a mão uma sujeirinha do ombro do paletó do homem e este não conseguiu escapar da obrigação de dar um bakshish como paga-mento pelo 'trabalho' executado...
A siam é a 4ª obrigação do muçulmano, que consiste em jejuar no mês sagrado do ramadã. Como já visto anterior-mente, durante o ramadã, do nascer ao pôr do sol, o muçulmano não pode se alimentar ou ingerir qualquer tipo de bebida, a não ser em caso de doença, com receita médica. Também não pode fazer sexo.
A última das cinco principais obrigações do islamita é fazer, ao menos uma vez na vida, uma peregrinação a Meca, na Arábia Saudita. Na Hajj (Peregrinação para a Casa de Alá), o peregrino deve chegar à cidade de Meca no sétimo dia do último mês muçulmano, o mês de Dhu l-hijja, e participar de várias cerimônias até o 10º dia daquele mês.
A umra é a visitação aos lugares sagrados que o muçulmano deve fazer na Arábia Saudita, cum-prindo determinado ritual. Inicialmente, deve visitar a Al-Masquid Al-Haram (a Mesquita Sagrada), no centro da qual se encontra a Caaba. Deve rodear 7 vezes a Caaba, 3 vezes correndo e 4 vezes andando vagarosamente. Deve beijar a Al-Hajar Al-Asuad (a Pedra Negra), que é o meteorito localizado no ângulo leste da Caaba e que serviu de mesa para o sacrifício de Abraão. Deve beber água do poço de Zam-Zam e percorrer, 7 vezes, a distância entre os montes Safa e Marwa (405 m de distância). Esta caminhada, de quase 3 km, é para lembrar quando Agar, esposa do profeta Abraão, correu de uma a outra rocha em procura de água para o sedento filho Ismael. Finalmente, a água jorrou da fonte de Zam-Zam e é a mesma água que hoje é usada para beber, para a ablução e para lavar o santuário de Meca. Os muçulmanos atribuem poderes curativos àquela água.
Depois, o fiel muçulmano deve ir ao Monte Arafat e a Mina, para atirar pedras contra colunas baixas, as 'lapidações do diabo'. Por último, deve sacrificar um ani-mal, no Aid El-Adha, em memória de Abraão, considerado um dos grandes profetas, construtor da Caaba e pai dos árabes, para lembrar que Abraão quase sacrificou seu filho Ismael.
Não-muçulmanos são proibidos de entrar em Meca. Nos check-points são revistados todos os passaportes, para terem a cer-teza de que todos são muçulmanos. Mulheres são checadas para ver se estão acompanhadas do marido, irmão, pai, filho ou enteado.
Assim como é costume dos cristãos levarem água do Rio Jordão, como lembrança, os muçulmanos levam garrafas de água da fonte de Zam-Zam.
Em 1991, foi permitido o retorno de iranianos para a visitação a Meca, depois de ficarem 4 anos proibidos de entrar na Arábia Saudita. Em 1987, 400 iranianos, fortemente armados, morreram em choques com a polícia saudita.
Durante o Aid El-Adha pudemos ver rebanhos de ovelhas e carneiros sendo tocados por beduínos pelas ruas do Cairo. Aos brados, o beduíno anuncia o seu produto e as pessoas vão descendo de seus apartamentos para a compra do animal. Na rua mesmo, em frente ao prédio, sem nenhuma preocupação com higiene, o beduíno mata o animal, retira as vísceras e parte o bicho em muitos pedaços. Os mais endinheirados compram o animal inteiro, enquanto outros compram apenas alguns pedaços. Às vezes, devido à matança de grande quantidade de animais em um mesmo local, forma-se uma verdadeira lagoa de sangue na rua, com cães e moscas em volta. O sangue coalhado e as vísceras ficam dias na rua, ocasionando mau cheiro, até sumir de vez.
O mês do ramadã
Com 30 dias de duração, o nono mês do calendário árabe, o ramadã, é o mês das preces e do jejum. O fiel muçul-mano, durante o dia, fica proibido de comer ou ingerir qual-quer tipo de líquido, a não ser por ordem médica. O crente deve também se portar de modo mais pacato, conservar os olhos baixos durante o dia, para não 'sofrer tentação' ao avistar uma mulher. A relação sexual também é proibida du-rante o dia. Outros pecados que devem ser evitados nesse mês são a luta e a perda da calma. A guerra também deve ser evitada, como diz o Corão, embora ela possa ser feita por uma 'causa justa', como foi a Guerra do Ramadã Yom Kippur), de 1973, contra Israel...
O jejum pode ser quebrado com o anúncio dos alto-falan-tes nas mesquitas, ao anoitecer, ou então o fiel deve saber pelos jornais, rádio ou TV quando está apto a fazer a pri-meira refeição do dia, o ifthar. O horário, dia após dia, varia um pouco.
Como o calendário árabe é lunar, o início do ramadã é sempre uma incógnita. Pode ser num dia ou somente em outro. De-pende da acuidade visual do religioso para observar a ro ya, ou seja, a lua no início da fase do quarto crescente. Ao menos é isso que acontece em países mais conservadores, como a Arábia Saudita. No Egito, ficávamos aguardando, até próximo do início do ramadã, para que informassem a data precisa, embora os astrônomos, com muita antecedência, pu-dessem prever o aparecimento da lua quarto crescente.
No Cairo, uma característica única dentre os países muçulmanos, o anúncio do fim e do início do jejum, nos dias do ramadã, é feito com o disparo de um velho canhão alemão, que pode ser ouvido em muitos pontos da cidade. O canhão encon-tra-se numa colina perto da Cidadela de Saladino.
Como o descrito no jornal Al-Ahram nº 3 de 14 Mar 91, a tradição começou em 1811, por puro acidente. O canhão era tão velho que o Pasha (Governador) Muhammad Áli decidiu parar de usá-lo e fazer dele um monumento. Enquanto os soldados estavam limpando o canhão, este acidentalmente disparou um tiro. Os egípcios ficaram muito felizes, pois pensaram que era o sinal dado para a quebra do jejum, à tardinha. Os grandes sheikhs (xeques) foram agradecer ao Governador e este decidiu con-tinuar a disparar o canhão no início e no fim do jejum. Desde então, isto veio a se estabelecer como tradição. O ca-nhão também dispara em dias de festas e feriados nacionais.
O ifthar é a primeira refeição à noitinha, após o je-jum. Os mais pobres podem se servir em mesas que são arruma-das junto a muitas ruas da cidade. Cena interessante é você observar aquele povo humilde sentado à mesa, com mais de uma hora de antecedência, para garantir o lugar, com os talheres prontos para entrar em ação, como se fosse uma competição, e só iniciando a refeição com a devida autorização dos alto-fa-lantes das mesquitas.
Um ifthar tradicional começa com um prato de tâmaras embebidas em água ou leite, como o prescrito pela sunna (ensino religioso). Muitas famílias irão incluir no menu um prato de fuul (espécie de feijão com limão e óleo de oliva), assim como uma refeição normal que pode conter sopa, carne, ave, peixe e uma grande variedade de le-gumes.
Se durante o dia a barriga ficou a perigo, à noite, após o ifthar, outras refeições são feitas, até alta madru-gada. É a época em que mais se come no Egito - ao menos en-tre aquelas pessoas das classes mais altas - e muitos reli-giosos criticam isso, justamente por ser o mês do jejum. Açúcar e farinha de trigo você tem que fazer estoque em casa, para se prevenir contra a falta desses produtos em quase todos os armazéns da cidade.
O sohour, às 3 horas da manhã, é normalmente a última refeição, geralmente uma comida ligeira à base de iogurte e frutas, depois do que as pessoas vão dormir.
O brasileiro Zagalo, quando dirigia a seleção de fute-bol dos Emirados Árabes Unidos, teve um problema bastante difícil de resolver, ao assumir o trabalho na preparação para a Copa do Mundo na Itália, em 1990. Os treinos durante o ramadã só po-diam ser feitos à noite, pois, com a bar-riga vazia, os jogadores de modo algum se prontificavam a obedecer seu treinador...
Crianças do pré-escolar acreditam que o ramadã é uma pessoa, como Papai Noel, que virá trazer as lanternas e os doces, além dos presentes que são comuns nessa época.
A fanus (lanterna) é um costume unicamente egípcio e data da época dos fatímidas. Quando Al-Muz Lidin Allah Al-Fatimi transferiu a capital muçulmana para o Cairo, na sua chegada, à noite, os cairenses saíram às ruas para recebê-lo com lampiões coloridos para iluminar as ruas que o levaram até seu palácio.
No início, a lanterna era feita de vidro colorido e vela, com formatos hexagonal ou octogonal. Hoje, as lanternas utilizam pilhas elétricas e pequenas lâmpa-das para emitir luz através do material plástico. Durante o ramadã, pudemos observar os efeitos especiais dessas lanternas, com suas luzes coloridas em todos os pontos do Cairo, nas lojas, nas ruas, nas casas.
As crianças ficam impacientes em começar a jejuar e participar dos rituais do ramadã. Embora a idade 'oficial' seja de 9 anos, muitas crianças de 7 anos procuram imitar seus pais durante alguns dias. Muitos estrangeiros residen-tes no Cairo também jejuam alguns dias, durante o ramadã, in-dependentemente de sua religião. Que é, sem dúvida, bastante saudá-vel para o corpo.
Nas ruas e nos canteiros das avenidas são armadas muitas tendas, emolduradas com uma infinidade de pontos de luz para iluminar a noite do ramadã. Milhares de lâm-padas caem em cascatas do alto de alguns prédios, mormente hotéis. Árvores também são enfeitadas com lâmpadas multicoloridas, apresen- tando um espetáculo típico do nosso Natal. O ramadã é uma festa de som, luz e calor humano.
Na época do ramadã, durante o dia, o movimento dos veí-culos diminui muito depois das 14 horas. Porém, após a pri-meira refeição do muçulmano, à noitinha, a cidade do Cairo se transforma completamente. Todo mundo combina em sair ao mesmo tempo para as ruas e o leitor não pode imaginar o pandemônio que fica o trânsito da cidade.
Uma noite, durante o ramadã, fomos levar um amigo para-naense, Anwar El Tassa, até sua residência, no Khan Al-Khalili. Em um trecho que não se leva normalmente mais de 10 minutos de carro, ficamos presos no trânsito por mais de três horas.
Mas ninguém se incomoda com isso: todo mundo enche o carro, a família toda, cantando, a música no toca-fitas bri-gando com o volume das buzinas, e sai satisfeito da vida, enfrentando o trânsito infernal, até alta madrugada. Os mais pobres fazem piquenique nas praças e canteiros das aveni-das, com sacolas de comida, no estilo 'farofeiro' das praias brasileiras. Há muitos vendedo-res de milho assado na brasa, shai (chá) gelado, pipoca. As crianças andam no lombo de burrinhos. Ou correm atrás da bola.
O egípcio é fanático por fute-bol. O leitor não acredita o carnaval que fizeram, em 1990, quando conseguiram dois simples empates na Copa da Itália. Foi um buzinaço fenomenal que avançou madrugada adentro. Eles adoram o futebol brasileiro. Ima-gino que tenham vibrado muito com a nossa conquista do tetra.
No meio da confusão toda de automóveis, pessoas, burri-nhos, durante o ramadã pode-se observar, em todos os cantos da cidade, muitas charretes, parecidas com aquela que a ex-ministra Zé-lia Cardoso usou como táxi em Nova Iorque. No Egito, quando víamos uma dessas charretes (hantur, em árabe), a sugestão era imediata: 'Vamos andar no táxi da Zélia?'
O horário normal de trabalho, em todos os setores, é mais ou menos de 9:30 até às 15 horas. Durante o ramadã, o horário de trabalho encurta ainda mais, de 11 às 14 horas. A tarde é sempre utilizada para a sesta, tudo pára, nada funciona. O relógio biológico do egípcio é diferente do nosso: à tarde todos dormem, saem às ruas à noite e só dormem de madrugada, mesmo que não seja época do ramadã. O ritmo de trabalho normal do egípcio é muito lento. Durante o ramadã fica mais lento ainda. De certa forma, eles têm razão em não trabalhar muito. No verão, o clima é muito seco e quente, de torrar os miolos. Eu quero ver o leitor pegar no batente, no pesado mesmo, durante mais de 4 horas, com uma temperatura que, como medimos no Cairo, ultrapassava os 45 graus centígrados. O general Schwarzkopf não foi nada delicado ao chamar os soldados egípcios de 'tartarugas' nas operações militares que tiraram Saddam Hussein do Kuwait.
No final do mês do ramadã há a festa do Aid Al-Fitr, o Pequeno Bairã, 4 dias de feriado que servem como coroamento do sagrado mês do jejum e das orações.
O cisma muçulmano e o fundamentalismo islâmico
As heresias e os movimentos separatistas começaram logo após a morte de Maomé, fugindo da ortodoxia sunita (de Sunna ou 'Caminho do Profeta').
Maomé não tinha herdeiros homens. Isso o preocupava muito e, após a morte de sua mulher Cadidja, passou a ter várias mulheres, em um total de 8 ou 9, para conseguir um herdeiro masculino. Esse, talvez, um dos motivos da permissão da poliga-mia que foi autorizada, também, para seus seguidores, porém em um número máximo de 4 mulheres. Ou de 2 mulheres, para os escravos.
Áli Ibn Ábi Taleb era casado com Fathima, filha do Pro-feta, e assim, além de primo, tornou-se genro de Maomé. Áli era um dos discípulos mais queridos do Profeta e este uma vez dissera que 'para onde Áli for, todos devem ir também'. Pouco depois Maomé morreu, sem deixar filho para sucedê-lo e sem estabelecer regras claras de sucessão. Os homens mais chegados a Áli esperavam que este fosse proclamado sucessor do Profeta. Porém, Abu Bakr, sogro de Maomé, foi escolhido para ser o 1º califa.
O xiísmo formou-se com o partido chi a de Áli, que considerava o califa não um chefe execu-tivo mas como um imam carismático, apontado por Alá. Kufa, no Iraque, era sua capital. Áli acabaria sendo o 4º califa da linha sunita - a ortodoxia muçulmana -, embora tenha se separando dessa linha para ser o 2º ímã da linha xiíta.
A corrente principal do xiísmo é a dos Doze, assim cha-mada porque acredita que o 12º ímã, Al-Muntazar, desapare-cido em 878, continua vivo e reaparecerá, antes do julgamento final, para salvar o mundo. Al-Muntazar significa 'o Esperado', o mesmo que 'Messias'. O primeiro imam foi Maomé. Áli foi o segundo. O terceiro ímã foi Hussein, filho de Áli. Segundo os xiítas, todos os ímãs são destinados ao martírio.
Os xiítas introduziram algumas modificações na prática religiosa: peregrinação por procuração, visita a túmulos de santos e o casamento temporário, a muta. No Irã, ainda hoje o casamento é um contrato que poderá ser desfeito, caso um dos cônjuges assim o desejar.
Os xiítas concentram-se, principalmente, no Irã, Ira-que, Paquistão e sul do Líbano. Da raiz xiíta decorrem sei-tas dos caradjitas, ismaelitas e zaiditas.
Os ismaelitas formam a corrente dos Sete, pois reconhe-cem Ismail como sétimo imam e não seu irmão mais jovem, Musa, assim considerado pelos Doze. São ramos dos ismaelitas os drusos, a seita dos assassinos e os fatímidas do Egito. Fatímidas, como foi afirmado, tem o nome derivado de Fathima, filha de Maomé e mulher de Áli.
O Ayatollah Khomeiny, ao instaurar a Revolução Islâmica no Irã em 1979, proclamou o conceito de velayat-e-faqih, que lite-ralmente significa a 'guardiania do jurista religioso'. O conteúdo dessa doutrina é que um homem de destacado conhecimento da lei islâmica seja designado vali-e-fagih, sucessor do profeta Maomé. Khomeiny tentou, assim, restabelecer o sistema do califado otomano abolido por Mustafa Kamel, na Turquia, em 1924. O sonho maior dos xiítas iranianos é restabelecer o poderoso Império Oto-mano, comprovado nas palavras de Khomeiny: 'Não há frontei-ras reais entre nações islâmicas'. No entanto, o conceito de Khomeiny chocou-se com a tradição xiíta, fundamentada no messianismo do '12º Imã', e que não aceita o princípio da sucessão.
Deve-se destacar os antecedentes do fundamentalismo islâmico na atualidade. Antes de Khomeiny, no século XVIII, houve o wahabi (fundamentalismo) na Arábia Saudita, derivado do reformador islâmico Mohammed Ibn Abdel Wahab. Neste século, tiveram destaque as ações da Irmandade Muçulmana, fundada em 1928 pelo egípcio Hassan Al-Bauna, com grande influência atualmente em todo o Oriente Médio. Segundo os fundamentalistas, o Profeta usou a mesquita para orar, para a guerra, para a justiça e outros motivos mais.
Convém aqui acrescentar as palavras de John Laf-fin no livro The Arab Mind:
'A lei islâmica não reconhece a possibilidade de paz com descrentes e infiéis. A parte do mundo não-muçulmano é conhecida na teologia islâmica como território de guerra . A maior parte dos militantes muçulmanos acredita que a tarefa de Maomé não será bem-sucedida enquanto não-mu-çulmanos tiverem controle de qualquer parte do planeta'.
Messianismo semelhante havia antigamente quando a Igreja Católica, ainda sem os ventos ecumênicos de Roma, ti-nha por objetivo levar o cristianismo a todos os pontos da Terra, sentindo-se na obrigação de impor o Evangelho a todos os povos do mundo. Mesmo que fosse pelo terror, como aconteceu durante a Inquisição. Eu me lembro de um padre que conheci na adolescência, que se sen-tia muito desgostoso e arruinado por saber que havia mi-lhões e milhões de chineses pagãos, sem perspectiva de serem convertidos à fé cristã. O Concílio Ecumênico pôs um ponto final nessa apreensão e atualmente a Igreja Católica convive pacificamente com todas as outras religiões e prega que to-dos serão salvos, se levarem a sua religião a sério.
Algo semelhante à antiga postura da Igreja Católica ti-vemos neste século, com o Movimento Comunista Internacional, tentando impor um sistema econômico-social de abrangência planetária. Pudemos observar, nas últimas décadas, o esforço do comunismo em se estabelecer em todos os países do mundo, quer pela força das armas, quer por eleições livres, para depois aplicar o golpe. De grande apelo popular, por tentar acabar com todas as diferenças sociais, o que presenciamos na verdade foram regimes sanguinários que se estabeleceram à força em vastas áreas do mundo, a exemplo da União Soviética e da China. Nunca o mundo havia presenciado tamanha trucu-lência. Onde o comunismo foi implantado, o fra-casso foi estrondoso. Não conseguiram resolver o problema das desi-gualdades sociais. Igualou-se apenas a miséria.
Hoje, pode-se dizer que o fundamentalismo islâmico - ao menos aquele pregado por Khomeiny e outras correntes extremistas - substituiu o Movimento Comunista Internacional pela mesma ambição de implantar um sistema de vida único a todos os po-vos: os preceitos da Sharia. Como visto anteriormente, a parte do mundo que não é islâmica é conhecida na teologia muçulmana como 'território de guerra'. Assim, não causa estranheza a propagação do is-lamismo pelo mundo todo, já comportando milhões de adeptos também na Europa e nas Américas. E a jihad dos fanáticos nos atentados contra a Associação Mutual Israelita Argentina, em Buenos Aires (1994), e contra as torres gêmeas do WTC, em Nova York, e o Pentágono, em Washington (11 Set 2001).
Convém lembrar que a palavra 'fundamentalismo' não tem, necessariamente, conotação pejorativa. Significa 'fundamento', 'alicerce'. Segundo os religiosos muçulmanos, é 'uma volta à origem, à pureza e aos fundamentos do verdadeiro islã da época de Maomé'. O Papa João Paulo II não deixa de ser um fundamentalista quando não aprova o divórcio e não permite o aborto e o homossexualismo, porque isso contraria o que está prescrito nos fundamentos da religião cristã. Atualmente, o termo 'fundamentalismo' se tornou sinônimo de fanatismo islâmico extremado, ligado aos movimentos integristas que querem subordinar a vida dos muçulmanos à Sharia, a lei islâmica que integra Religião e Estado em uma única entidade. Nem que seja à base do terror.
Expansionismo muçulmano na atualidade
Segundo John Laffin, a história tinha se 'tornado certa' para os árabes há 14 séculos atrás, quando começou o expansionismo árabe. Segundo o raciocínio do autor, tudo o que o profeta Maomé tinha prometido a seu povo concretizou-se ra-pidamente: glória e domínio por séculos, em três continen-tes, a religião muçulmana estendendo-se da costa atlântica da África até a Índia, incluindo a Espanha e Portugal. O povo árabe era realmente o escolhido de Alá. A história - para os árabes - estava 'certa'.
Porém, com a saída dos árabes da Península Ibérica e, posteriormente, com a fragmentação do Império Otomano, a su-jeição de muitos países árabes ao imperialismo inglês e francês, a história tinha se tornado 'errada'.
Segundo a análise de Laffin, após a Guerra Árabe-Israelense de 1973, com o embargo do petróleo árabe às nações do Ocidente, os árabes estavam novamente em desta-que. O 'choque' do petróleo foi sentido em todo o mundo in-dustrializado, os preços mais do que quadruplicaram e seus efeitos se fizeram sentir também no Brasil de uma forma cruel, pois importávamos mais de 80% do óleo cru. Para os árabes em particular, e para os muçulmanos em geral, depois da 'guerra do petróleo', a his-tória novamente estava tomando rumo 'correto'.
Se anteriormente era dado destaque ao expansionismo árabe, dominando vários povos através da jihad, hoje deve-se dar destaque ao expansionismo muçulmano, que está se fortalecendo nas repúblicas da Ásia Central, após a queda da União Soviética, no sudeste asiático e na Oceania. Como se sabe, o islamismo, hoje, é a religião que mais cresce no mundo. Como disse Huntington, “o cristianismo cresce com a conversão, o islamismo com a conversão e a reprodução”.
Com a derrubada do Xá Rehza Pahlavi e a ascensão do Ayatollah Khomeiny ao poder no Irã, ocorreu o 2º 'choque' do petróleo. O preço do barril de petróleo chegou a atingir o valor estratosférico de 34 dólares. Khomeiny en-curralou os EUA, ao tomar reféns americanos na Embaixada dos EUA em Teerã, começou a expurgar seus desafetos, promovendo execuções sumárias e mostrou a que veio: seus seguidores promovem atentados em todo mundo, fazem tremer o coração fi-nanceiro do mundo ocidental - Nova York - e mandam 'evangelizadores' para to-dos os pontos do mundo onde haja comunidades muçulmanas, para pregar a 'revolução islâmica'. Pode-se dizer, como diria John Laffin, que a história para os muçulmanos, hoje, está mais 'correta' do que nunca.
Para comprovar isto, basta estender o mapa-múndi na mesa e examinar os conflitos atualmente existentes no mundo. Há em torno de 50 países com conflitos diversos, principalmente étnicos. Destes, pelo menos duas dezenas envolvem muçulmanos, que desejam implantar o fundamentalismo religoso no país ou pregam o separatismo de alguma província. Senão, vejamos alguns exemplos.
No Egito, a partir de 1992, se tornaram freqüentes os atentados de fundamentalistas islâmicos. O Egito sempre foi um país muito tolerante, coexistindo cristãos, judeus e mu-çulmanos na mais perfeita harmonia. Existem muitos templos coptas, às vezes ao lado de mesquitas, assim como diversas sinagogas. Na última década, essa harmonia foi quebrada pelo ataque dos fundamentalistas, que metralham as autoridades do país, os turistas estrangeiros e os cristãos coptas. Os ataques aos cristãos coptas dá-se principalmente no bairro cairense de Imbaba e em cidades do Alto Egito, como Assiut, ninho de fundamentalistas islâmi-cos. Em Assiut, em maio de 1992, ataques de extremistas causaram a morte de 14 cristãos coptas e 3 muçulmanos.
Em 1990, no primeiro ano em que estávamos no Egito, foi assassinado o Presidente do Parlamento Egípcio, Dr. Rifaat Mahgoud. Os autores do crime foram componentes do movimento fundamentalista Al-Jihad (Guerra Santa), o mesmo grupo que havia assassinado o Presidente Sadat em 6 Out 81. Em 1993, o Primeiro Ministro egípcio Atef Sedki também sofreu um atentado, porém teve mais sorte que o Dr. Rifaat.
Em 1991, extremistas islâmicos incendiaram uma igreja copta e várias lojas comer-ciais dirigidas por cristãos, no bairro de Imbaba. Além de seu mercado de camelos, Imbaba é conhecida por sua extrema pobreza, ruas sem asfalto, vazamentos de água que alagam tudo, altas taxas de analfabetismo, sem infra-estrutura e onde 600.000 pessoas se comprimem em 2 km² de área. O Governo não se faz presente no bairro e por isso Imbaba foi 'adotata' pelos fundamentalistas islâmicos. Basta dizer que após o terremoto que afetou o Egito em 12 de outubro de 1992 o auxílio dos fundamentalistas chegou a Imbaba muito antes do Governo. Isto mostra a fácil penetração de grupos extremistas em locais pobres, cuja população não tem nada mais a perder e tem na religião sua última esperança. Se o Governo nada faz, o povo clama por Alá. O Egito se ressente muito desses últimos atentados contra os cristãos coptas, contra o Governo e contra turistas, pois depois do Canal de Suez é no turismo que o Egito tem a sua maior fonte de divisas estrangeiras.
No Sudão observa-se uma 'faxina étnica' semelhante àquela observada na Bósnia-Herzegovina. O governo muçulmano, com apoio financeiro e pessoal do exterior, persegue os cristãos e animistas no sul do país, que a custo conseguem ainda se manter no território, sabe Deus até quando. Como é sabido por todos, depois do Irã e da Arábia Saudita, o Sudão também implantou a Sharia - a lei islâmica absoluta, que administra o país e seu povo conforme as regras estabelecidas no Corão.
Em Israel, os atentados terroristas islâmicos dificilmente terão fim, mesmo que seja criado um Estado palestino. Os grupos armados Hamás e Jihad Islâmica rejeitam qualquer tipo de acordo com o país judeu, pois são movimen-tos de resistência islâmicos que combinam a fé fundamenta-lista com o nacionalismo palestino. Não aceitam, sequer, a existência do Estado de Israel. Acrescente-se aos grupos citados a militância do Hezbollah, de origem iraniana, que atua no sul do Lí-bano, em confronto permanente contra os israelenses.
Na Argélia, um golpe militar impediu que os fundamenta-listas da Frente Islâmica de Salvação tomassem o poder no segundo turno das eleições livres de 1991. O país vive uma guerra civil que já matou milhares de contendores e dezenas de estrangeiros - normalmente estrangulados. Em 24 de dezembro de 1994, extremistas islâmicos seqüestraram um Airbus da Air France em Argel, para vingar o apoio francês ao regime militar da Argélia, resultando na morte de 3 reféns e dos 4 seqüestradores. Os extremistas pretendiam explodir o avião com todos os passageiros nos céus de Paris. (Teria sido uma amostra do que viria a ser os atentados contra o WTC.)
No Senegal, pessoas são obrigadas a fugir ou são mortas pelo governo controlado por muçulmanos e rebeldes.
Na Bósnia-Herzegovina, após a humilhação na Batalha de Kosovo, há mais de 5 séculos, os sérvios promoveram contra os muçulmanos, como vingança, uma 'limpeza étnica' nos moldes medievais, como já abordamos anteriormente. Hoje, com o Acordo de Daytona, dividindo o país em três grupos raciais, a intolerância islâmica contra os sérvios e os croatas segue seu fluxo normal.
Na Geórgia, pertencente à antiga URSS, os muçulmanos querem a independência da Abcásia, ou anexação à Rússia. Da mesma forma, a Ossétia do Sul, de maioria muçulmana, quer se unir à Ossétia do Norte. Na mesma região do Cáucaso há o conflito da Chechênia, de maioria muçulmana, que proclamou sua independência da Rússia em 1991, sem sucesso. A Inguchétia, também de maioria muçulmana, se opõe à Rússia devido à humilhante deportação de seus habitantes realizada por Stálin em 1944.
Na Nigéria, dentre os vários conflitos étnicos, des-taca-se o grupo husta, muçulmano, e os iorubás, cristãos.
Na Índia, que tem uma população de mais de 100 milhões de muçulmanos, o conflito mais grave dos últimos tempos ocorreu quando hindus incendiaram uma mesquita em Ayodhia, em 1992. O conflito se propagou pelo mundo todo, como rastro de pól-vora, ocasionando milhares de mortes em outros países, além da Índia. Em Bangladesh, até crianças foram queimadas vivas. Atentados contra templos hindus foram ob-servados em várias partes do mundo, inclusive na Grã-Breta-nha. A província de Cachemira, na Índia, de maioria muçulmana, luta por sua emancipação ou por sua anexação ao Paquistão.
Em Bangladesh há choques entre muçulmanos e budistas, na região das Colinas de Chittagong.
Na Birmânia mais de 250 mil muçulmanos fugiram para Bangladesh nos últimos anos, para escapar da ditadura militar.
Na China, em Xinjiang, o governo reprimiu uma revolta de muçulmanos de origem turca, em 1990.
Nas Filipinas - único país asiático de maioria cristã - observa-se uma guerra entre o governo e separatistas muçulmanos da Ilha de Mindanao.
Na Indonésia, há quase duas décadas houve muitos choques entre muçulmanos e o governo do general Suharto. Os muçulmanos ra-dicais se recusaram a aceitar a Pancasila, ideologia de princípios hinduístas. É bom lembrar que mais de 80% da população da Indonésia é muçulmana.
Podemos ainda acrescentar a perseguição muçulmana que os drusos sofrem na Síria, os curdos no Iraque e na Turquia, e os maronitas no Líbano, onde houve um atentado dentro de uma igreja pouco depois do massacre na Mesquita dos Patriarcas, em Hebron. Os maronitas são cristãos do Líbano que seguem a doutrina de São Maron.
A 'onda verde' (cor islâmica), antes apoiada pelos EUA para criar um cinturão de defesa na Ásia Central contra a 'onda vermelha' da antiga URSS, é um feitiço que virou con-tra o feiticeiro. A República Islâmica do Irã é a que está mais se empenhando em ocupar o vácuo do poder na região após a disso-lução da União Soviética. As ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central, como o Azerbaijão e o Cazaquistão, estão sendo intensamente 'evangelizadas' pelos mullahs do Irã.
O cientista político Samuel Huntington, conhecido por suas instigações intelec-tuais e previsões ousadas, em fa-moso artigo escreveu sobre 'conflito de civilizações' (depois transformado em um extenso ensaio). Garantiu o professor de Harvard que uma Terceira Guerra Mundial, se houver, será uma guerra entre civilizações. Dentre as várias civilizações hoje existentes no planeta, Huntington destacou a civilização ocidental e a islâmica.
Esta futura guerra poderia ser bem mais dramática que aquelas dos cruzados contra os árabes. As cimi-tarras árabes e as lanças dos cristãos poderiam dar lugar à jihad nuclear. Com o aumento de atentados de extremistas muçulmanos, não só o World Trade Center, mas a própria cidade de Nova Iorque poderá virar cinza, em futuro próximo, não com detonação de cargas de dinamite mas, quem sabe, com a explosão de uma bomba nuclear caseira.
Segundo Huntington, do confronto de duas civilizações surgem duas hipóteses vistas na história: ou uma se funde à outra, ou uma destrói a outra. Já disse o escritor Rudyard Kipling que 'o Ocidente é o Ocidente e o Oriente é o Oriente, e os dois jamais se encon-trarão'. Se isso for verdade, será mesmo que uma dessas civilizações irá destruir a outra? Muitos fundamentalistas islâmicos não têm dúvidas de que o terceiro milênio verá a consolidação do governo dos mu-çulmanos sobre todo o mundo – profecia prevista no Corão.
A intolerância islâmica
'Com certeza, a religião verdadeira na estima de Alá é o Islamismo, isto é, completa submissão a Ele, e aqueles a quem foi dado o Livro (judeus e cristãos) somente discordam em inveja mútua, após o conhecimento ter chegado a eles' (3: 20).
'Vós que credes, não tenhais os judeus e os cristãos como vossos amigos, pois eles são amigos uns dos outros. Se algum de vós os tiver como amigos, vireis a ser um deles' (5: 52).
Lendo os versículos corânicos acima, pode-se constatar a intolerância que há no islamismo, em relação às outras religiões. Por isso, talvez, o motivo de fundamenta-listas islâmicos não aceitarem a convivência pacífica com outros credos religiosos. Porém, há uma brecha para o ecumenismo, se traduzirmos 'Alá' por 'Deus', como se segue:
'Seguramente, sobre os crentes (muçulmanos), os judeus, os cristãos e os sabeus (de Sabá, atual Iêmen), aqueles que verdadeiramente crêem em Deus e no Último Dia (Juízo Final) e agem retamente, terão a recompensa de seu Senhor e nenhum medo se apossará deles ou lhes afligirá' (2: 63).
Este último texto corânico, como afirma Mohamad Ahmad Abou Fares em seu livro Jesus Cristo na Visão de um Muçul-mano, 'deixa patenteado que, qualquer que seja a seita, desde que se crê em Deus e no Juízo Final, e se pra-tiquem boas ações, as pessoas estarão a salvo: nada deverão temer, e nem ficarem apreensivos quanto à salvação'.
Como se pode constatar, depende do enfoque que um mu-çulmano faça ao ler seu livro sagrado para ele se posicionar frente às pessoas de outros credos. Poderá ser de uma into-lerância absoluta ou de uma convivência amigável. Muitos fa-tos, ao longo dos tempos, mostram que a intolerância islâmica tem-se manifestado freqüentemente, como podemos comprovar nos epi-sódios a seguir expostos.
Uma prova típica de intolerância é o observado na localização da Es-planada das Mesquitas, dentro dos muros da velha Jerusalém. Aquelas mesquitas impedem que, hoje, os judeus construam seu Terceiro Templo. Por que os muçulmanos foram construir as mesqui-tas justamente naquele lugar mais sa-grado dos judeus, onde antigamente havia sido erigido o Tem-plo de Salomão? Não seria o mesmo que, se a Arábia Saudita algum dia viesse a ser tomada por inimigos, e estes fizessem erguer seus templos justamente na praça onde fica a Caaba?
As muralhas da antiga Jerusalém tinham 8 portas que permitiam o ingresso das pessoas para o interior da cidade. Hoje, só 7 portas permitem o ingresso, pois uma foi lacrada, a Porta Dourada. Segundo a tradição judaica, um dia chegará o Messias, que irá entrar por aquela Porta. Para impedir que isso aconteça, os árabes lacraram a Porta Dourada com pedras...
Em Betânia, agora dentro da Grande Jerusalém, fica o túmulo de Lázaro. Para impedir que os peregrinos cristãos chegassem até aquele local, os árabes fecharam a entrada do túmulo, construindo uma mesquita em seu lugar. Posterior-mente, um frade franciscano construiu um outro caminho, den-tro da rocha, até as profundezas do túmulo, por onde os pe-regrinos hoje conseguem ter acesso até o seu interior.
O local onde - segundo a tradição cristã - Jesus subiu aos céus hoje comporta a Capela da Ascensão, que é na realidade uma pequena mesquita. Para a comemo-ração da Festa da Ascensão do Senhor, os cristãos recebem permissão para a celebração da missa e de outras cerimônias religiosas na Capela. Po-rém, enquanto os cristãos participam da festa, alto-falantes de outra mesquita, nas imediações, são colocados a volume máximo, tirando a concentração dos fiéis.
O leitor deve se lembrar do grave incidente que ocorreu depois que uma mesquita em Ayodhia, na Índia, foi incendiada por hindus, em 1992. Houve tumultos e depredações de templos hindus em todas as partes do mundo. Na realidade, os hindus estavam apenas querendo retomar o local onde antigamente havia um templo hindu, que marcava o local de nascimento do deus Rama, e que foi destruído para dar lugar à cons-trução de uma mesquita.
Na Arábia Saudita, há duas rodovias que ligam Jedah a Riad. Uma das rodovias é utilizada somente por muçulmanos; a outra, obrigatória para não-muçulmanos...
Para os árabes em geral, não existe o Estado de Israel. No Egito, os mapas geográficos nas escolas não trazem o mapa de Israel. Para os árabes, existe apenas a Phalistina (Palestina, nome originário de “filisteu”), subjugada por Israel, com apoio dos EUA.
Recentemente, na Nigéria, onde se realizaria um concurso de Miss Universo, houve choques violentos entre islâmicos e as forças de segurança, com cerca de 2 centenas de mortos. O motivo alegado foi uma jornalista local ter dito que o profeta Maomé certamente se encantaria com uma das candidatas. O concurso acabou sendo transferido para Londres.
No Sudão, escravos cristãos são “vendidos” à Christian Solidarity International (CSI), a 50 dólares (jovens) e 30 dólares (velhos) por cabeça, para serem libertados. Milhares de cristãos já foram soltos através dessa forma de barganha e calcula-se que há ainda cerca de 100.000 cristãos e animistas nesta situação. Muitos desses escravos são obrigados a seguir a religião islâmica, ou sofrem torturas, com arrancamento das genitálias.
Atualmente, no Paquistão, uma Lei sobre a blasfêmia, referente a quem insulta o profeta Maomé, leva os denunciados (em sua maioria cristãos ou hindus) a serem sumariamente assassinados, muitas vezes antes de serem submetidos a um processo. Os que conseguem evitar a pena de morte são obrigados a se exilarem no estrangeiro por medo de vinganças dos extremistas islâmicos.
No início da década de 1990, os muçulmanos construíram uma mesquita bastante próxima da Basílica de São Pedro, no Vaticano. O símbolo do hilal (lua-crescente) se fez representar, quase que lado a lado, junto a um dos maiores símbolos do cristianismo: a Igreja de Roma. Porém, será que os muçulmanos permitiriam que se construísse uma igreja católica ou algum templo protestante em Meca? Com certeza, isso eles jamais permitirão, pois os não-muçulmanos sequer têm autorização para ingressar naquela cidade. Mas eles se julgam no direito de construir templos onde bem desejarem, mesmo que seja em sítios sagrados de ou-tras religiões - caso do Templo de Salomão em Jerusalém e do templo hindu na Índia. Como dizem alguns teólogos islâmi-cos, a parte do mundo governada por não-muçulmanos é um 'território de guerra'.
Tomamos conhecimento das dificuldades dos aliados em convencer os sauditas a permitir a presença das forças oci-dentais em seu território para combater Saddam Hussein, na Operação Tempestade no Deserto, para a retomada do Kuwait. Muitas 'costuras' políticas foram feitas, muitas restrições superadas antes de permitirem o desembarque das tropas do general Schwarzkopf naquele ter-ritório árabe. Provavelmente, eles só devem ter permitido a presença dos 'infiéis' em seu país pela iminência de uma in-vasão iraquiana, o que Saddam poderia ter feito sem muita di-ficuldade, pois a Arábia Saudita não tinha força militar su-ficiente para impedir que isso viesse a ocorrer. Não custa lembrar que Osama bin Laden declarou guerra à América devido ao fato de os Estados Unidos terem tropas estacionadas no “solo sagrado” saudita – a promulgação da fatwa, que permite que islâmicos matem cidadãos americanos onde quer que se encontrem. A fatwa (decreto religioso) é normalmente emitida por um religioso do alto escalão, como um sheik ou um aiatolá, com formação superior em direito islâmico. Bin Laden, pelos “extraordinários” serviços já prestados à comunidade islâmica, pelo líder político que é, embora não seja formado em direito islâmico, passou a ter poder, não de direito, mas de fato, na promulgação de fatwas.
Um episódio narrado por John Laffin (“The Arab Mind”) é contundente: 'Na Guerra Civil do Iêmen (1962-65), na qual tropas egípcias estavam envolvidas, dois egípcios, um copta e um muçulmano, ambos membros bem conhecidos de famílias de classe alta e amigos de longa data, ficaram feridos num mesmo combate. A guarnição do caminhão tinha ordens de recolher os muçulmanos antes dos cristãos. Assim, o muçulmano foi salvo e o cristão morreu no campo, provavelmente trucidado por tribos iemenitas'.
Além dessa intolerância de muçulmanos contra não-muçulmanos, podemos acrescentar aquela violência de muçulmanos contra eles próprios, principalmente escritores e artistas que não se moldam nos ditames do islamismo ou que escrevem palavras julgadas ofensivas ao Corão.
Dentre as pessoas atingidas por essa intolerância podemos citar Salman Rushdie, um indiano naturalizado inglês, que escreveu o livro Versos Satânicos e ocasionou a ira do Ayatollah Khomeiny. Rushdie foi condenado pela fatwa islâmica e sua cabeça posta a prêmio: 3 milhões de dólares para o muçulmano que tirar sua vida ou 1 milhão de dólares se o autor do crime for um não-muçulmano (!). Se estivéssemos na época da Inquisição, e se o Papa João Paulo II se valesse do mesmo rigor, o escritor Gore Vidal seria condenado à fogueira por ter escrito palavras blasfemas contra Cristo em seu livro Ao Vivo do Calvário.
Outra pessoa perseguida é a escritora de Bangladesh, Taslima Nasrin, que fugiu de seu país e se refugiou na Suécia para escapar da perseguição de fundamentalistas islâmicos. Ela é acusada de distorcer o sentido do Alcorão ao propor direitos iguais entre homens e mulheres e de escrever temas relacionados a sexo, um tabu para as mulheres islâmicas.
Em junho de 1992, o escritor egípcio Farag Fouda foi morto por dois extremistas no Cairo e um porta-voz da Sociedade Islâmica, grupo fundamentalista do Irã, assim se pronunciou: 'Quem quer que advogue as idéias de Fouda merece ser morto de acordo com a norma do Islã'. E em 14 de outubro de 1994, o escritor egípcio Nobel de Literatura, Naguib Mahfouz - considerado a consciência do mundo árabe -, foi esfaqueado na garganta, após sofrer várias ameaças de morte por parte de fundamentalistas islâmicos. Seu romance Children of Gebelawi, pelo qual foi condenado à morte pelos zelotes islâmicos, passou a ser vendido 'como tortas quentes' - segundo afirmou o jornal Al-Ahram de 29 Dez 94 - 4 Jan 95.
Convém acrescentar que segundo Laffin, o profeta Maomé tinha, além de outras escravas, uma escrava cristã e uma escrava judia. É a intolerância islâmica transferida contra outras religiões, desde sua origem, para humilhá-las, neutralizá-las, reduzi-las ao pó, fato também observado durante o jugo comunista em vários países do mundo (na Rússia, uma forma de tortura comum para minar a fé dos cristãos era o empalamento).
Jahiliyyah ou “barbárie” é a definição que os fundamentalistas dão aos Estados laicos modernos, sejam islâmicos ou não. Também aplicado aos Estados modernos onde grandes quantidades de muçulmanos vivem sob regime não-muçulmano (Caxemira, Israel, China, Filipinas, Kosovo, Chechênia etc.). Enfim, segundo a teologia islâmica, território não-islâmico é um território a ser conquistado. “O Islã não pode aceitar qualquer convivência com a jahiliyyah. Ou permanece o Islã ou a jahiliyyah; nenhuma situação intermediária é possível” (Sayyid Muhammad Qutb, pensador islamita egípcio, autor de uma fatwa de agosto de 1995, em que conclama os muçulmanos às armas e à luta contra a jahiliyyah).
O final dos tempos
Para o islamismo, o apocalipse será antecipado pelo An-ticristo, falso Messias, que aparecerá entre o Iraque e a Síria. Cristo aparecerá para matar o Anticristo. Interes-sante é observar que o Apocalipse da Bíblia também cita o mesmo local como o cenário da última batalha que está por vir, a batalha de Armagedon, perto de Na-zaré, em Israel.
Só os profetas e os mártires terão acesso direto ao paraíso. Todas as outras pessoas que não sejam profetas ou mártires serão julgadas por Alá quando soar o chamado do anjo Israfil. Além de Maomé, último e maior de todos os profetas, há outros importantes profetas na religião muçulmana, como Adão, Noé, Abraão, Moisés, Je-sus.
'Não tenhais em conta como mortos aque-les que foram imolados pela causa de Alá. Em verdade, eles estão vivendo na presença de seu Senhor e estão pre-parados' (3: 170). Este é um dos principais apelos que os fundamentalistas islâmicos fazem a seus fiéis, para receberem um 'passaporte' dire-to aos céus, ao se imolarem pela causa de Alá, e receberem a recompensa do convívio de dezenas de mulheres virgens. Por isso não é de estranhar a auto-imolação dos fedayin, que carregam explosivos no próprio corpo ou em viaturas e, como kamikazes suicidas, se atiram sobre o ini-migo gritando o nome de Alá. A Al-Fatha (A Conquista), grupo armado da OLP de Yasser Arafat, durante muito tempo treinou seus fedayin no Oriente Médio para promover aten-tados suicidas contra os judeus. Como se sabe, a guerrilha dos fe-dayin (voluntários da morte) foi a resposta egípcia aos ataques de Israel a Gaza, em 1955. Em Israel, muitos muçulmanos, incluindo mulheres, se aproximam de guarnições ou patrulhas de soldados, entram em bares, discotecas e ônibus lotados, e acionam os explosivos escondidos sob suas túnicas.
No Líbano, durante a guerra civil, os EUA foram obrigados a retirar seus soldados do país depois que um carro-bomba - certamente com motorista suicida - matou quase 2 centenas de americanos em um acampamento militar. Acre-dita-se que um suicida muçulmano, dirigindo um furgão cheio de dinamite, também tenha feito ruir o prédio da associação judaica em Buenos Aires, no dia 18 de julho de 1994, matando em torno de 100 pessoas. Com a 2ª Intifada dos palestinos, iniciada em 2000, este tipo de terrorismo contra israelenses se tornou corriqueiro, e também é empregado pela Internacional Islamita em atentados mundo afora – a exemplo dos de Báli, Casablanca, Jacarta, Bagdá (ONU como alvo, em que morreu o brasileiro Sérgio Vieira de Mello).
Convém lembrar que o martírio era também incentivado, antigamente, pela Igreja Católica, por ocasião das Cruzadas para a libertação da Terra Santa, nas mãos dos árabes, a exemplo do que afirmou o Papa Urbano II: 'Agora prometemos-lhe guerras que trazem consigo a recompensa do martírio glorioso, guerras que garantem o direito à glória temporal e eterna'. São Bernardo também glorificava a matança de não-cristãos: '...sem recear ter pecado ao matar o inimigo, nem temer sua própria morte, visto que nem o ato de morrer nem o de causar a morte de outrem, quando for por Cristo, contém nada de criminoso; ao contrário, merece uma recompensa gloriosa' (Cfr. Templários: Os Cavaleiros de Deus, de Edward Burman). Será por sua 'valentia' que São Bernardo se transformou em nome de raça de cachorro?
O verso número 36 do capítulo 13 Al-Ra d (O Trovão) diz claramente que as descrições no Corão sobre o paraíso são simbólicas: 'O paraíso prometido para os retos é como se rios corressem por ele, com frutas intermináveis e também com sombra'. No céu, os eleitos muçulmanos encontrarão sempre som-bra, água potável, leite, vinho e mel, e terão a companhia de belas mulheres virgens, de grandes olhos brilhantes (37: 49-50). O paraíso terá, ainda, fontes perfumadas com cânfora e gengibre e conterá rios e jardins com frutas di-versas, como tâmaras, bananas, uvas e romãs. Os eleitos vestirão trajes de seda fina, enfeitar-se-ão com braceletes de ouro e utilizarão taças de ouro e prata.
Os culpados serão lançados no inferno, que tem 7 portões: os infiéis passarão por seis portões e os muçulmanos pecadores pelo sétimo. Dezenove anjos guardam o fogo do inferno e a comida dos pecadores será sempre muito quente ou muito ge-lada.
Já que escrevi sobre o fogo eterno, convém citar uma anedota sobre um inferno bem particular: o inferno militar. Um milico, ao ser levado por um diabo para o inferno, descobriu que havia um inferno para cada grupo dis-tinto de pecadores: políticos corruptos, comerciantes ladrões, traficantes de drogas e armas, as-sassinos, blasfemadores, tipos diversos de pecadores, e um inferno só para militares. Em todas as bocas do inferno havia guardas tomando conta dos condenados, para que não fu-gissem. O militar só estranhou que não havia nenhum soldado tomando conta do 'portão das armas' do inferno militar. O diabo então explicou: 'Não precisa, eles se puxam uns aos ou-tros para dentro do inferno quando alguém tenta fugir'.
Algumas prescrições corânicas
Em 1994, fez sucesso nas manchetes de todo o mundo o rapaz americano condenado a sofrer chibatadas, em Cingapura, devido à sua ação nefasta em pichar veículos naquele país. O mais interessante é que uma pesquisa nos EUA mostrou que os americanos aprovaram, em sua maioria, aquela punição hetero-doxa. No Brasil bem que poderíamos utilizar esse tipo de castigo para punir os pichadores de monumentos e igrejas.
No Corão, vários tipos de castigo prevêem o uso da chi-bata. 'Flagele a adúltera e o adúltero, a cada um deles, com 100 vergasta-das...' (24: 3). A pena para os caluniadores de uma mulher casta será de 80 vergastadas, caso não tragam 4 testemunhas para provar a acusação (24: 5).
Os ladrões devem sofrer rigoroso castigo: 'Corte fora as mãos do homem que rouba e da mulher que rouba, em retri-buição de sua ofensa, como uma exemplar punição de Alá' (5: 39).
Um homem casado pode deixar de ter relação sexual com sua mulher por um período de, no máximo, 4 meses, após o qual deverá se reconciliar com sua esposa ou divorciar-se (2: 227-228). A relação sexual é proibida durante a menstruação da mulher, durante o período de retiro na mesquita, durante o jejum, no mês sagrado do ramadã (durante o dia) e durante o pe-ríodo da peregrinação a Meca (2: 188-189).
'O homem é impetuoso por natureza' (21: 38). Talvez, por isso, pode ter até 4 mulheres, desde que as trate eqüa-nimemente: 'Você deve aprender de que não será correto ter relações com órfãs, se você casar com mais de uma delas, então case-se com outra mulher que seja agradável a você, 2 ou 3, ou 4; porém, se você sentir que não irá tratar cada uma delas com justiça, então case-se somente com uma, ou com aquela sobre a qual você tenha mais autoridade. Este é o melhor modo de você evitar a injustiça' (4: 4-5).
O Corão considera pecado dar apelido a alguém (49: 12). O político Leonel Brizola não seria um bom muçulmano, pelo seu esporte preferido de dar apelidos a seus desafetos, especialmente durante as campanhas para eleições pre-sidenciais: 'sapo barbudo', 'filhote da ditadura' e outros.
Para testemunhas, 2 mulheres valem 1 homem: 'Procure duas testemunhas dentre seus homens; e se 2 homens não esti-verem disponíveis, então um homem e duas mulheres, dentre os que você desejar como testemunhas, de tal forma que se uma das duas mulheres estiver em perigo de esquecimento, a outra refrescará sua memória' (2: 283).
No Corão não existe a noção de 'pecado original', como prega a religião cristã. Segundo o Corão, a natureza humana, originalmente, é pura: '... e siga a natureza determinada por Alá, a natureza conforme Ele tem criado a humanidade. Não se deve alterar a criação de Alá. Esta é uma fé eterna. Porém, muitos não sabem' (30: 31).
'Em caso de divórcio, as mães devem amamentar suas crianças por 2 anos inteiros, no local onde é desejado com-pletar a amamentação, e o pai da criança deve ser responsá-vel pelo sustento da mãe durante aquele período, de acordo com o costume' (2: 234). É óbvio que essa obrigação não é somente para as divorciadas, mas um lema para toda mulher muçulmana que tenha filhos.
'Povo do Livro, por que você rejeita os sinais de Alá, tendo sido testemunha disto? Povo do Livro, por que você confunde verdade com falsidade e afasta a verdade delibera-damente?' (3: 71-72). O 'Povo do Livro' são os judeus e os cristãos. Comumente, o Corão identifica o livro dos judeus como sendo a Torá e o livro dos cristãos como sendo os Evangelhos, o que não é de todo correto, pois não englobam todo o Antigo e Novo Testamento. As exortações, feitas com veemência, sempre têm como alvo o Povo do Livro. Por que não estão incluídos também, por exemplo, os budistas e os hinduístas?
A zakat é uma espécie de dízimo que os mais bem aqui-nhoados doam aos pobres, e é prescrito no Corão: 'Observai as orações e pagai a zakat, pois, pelo tudo de bom que der-des, antes de guardar para vós, encontrareis junto de Alá' (2: 111). A exemplo da Igreja Católica, que prega a doação do dízimo mas que não consegue incrementar o preceito, da mesma forma os vários países muçulmanos aplicam a zakat a seus fiéis, alguns com mais sucesso que outros.
'Abraão não foi nem judeu, nem cristão, ele foi sempre temente a Alá e obediente a Ele' (3: 68). Implicitamente, essa frase afirma que, para o Corão, Abraão é um muçulmano, já que o termo 'muçulmano' (muslim em árabe) significa o 'ato de se entregar', no caso, a Alá. Na verdade, as três religiões monoteístas - a judia, a cristã e a islâmica - originaram-se a partir de Abraão.
Quanto à obrigação da mulher casada ves-tir o purdah (véu islâmico), o Corão prescreve que somente os familiares mais chegados podem ver o seu cabelo, como o marido, o pai, o sogro, os filhos, as senhoras, os empregados que não têm desejo de sexo e as crianças que não têm conhecimento do relacionamento en-tre sexos (24: 31-32). A obrigação das mulheres muçulmanas solteiras vestirem o purdah foi uma imposição dos religiosos islâmicos, não do Corão.
A cobrança de riba (juro) para empréstimo de dinheiro é proibida. 'Aqueles que se devotam à usura ficam como aquele que satã tem ferido de insanidade. Isto se dá porque eles ficam di-zendo: O comércio de comprar e vender é também como empres-tar dinheiro a juros ; pois Alá tornou legal o ato de vender e comprar e tornou ilegal a cobrança de juros' (2: 276). Muitos muçulmanos encontraram uma forma de fugir desta regra e chamam os juros de 'aluguel'.
Alguns capítulos corânicos
Fatihah
O primeiro capítulo do Corão, Fatihah (que significa 'Abertura'), é também chamado de 'Sumário do Corão'. Em apenas 7 versos concisos esse capítulo resume toda a doutrina islâmica, que começa dizendo 'Em nome de Alá, o Misericordioso e Compassivo'. Segundo a Fatihah, Alá é o Mestre do Dia do Julgamento (Juízo Final), a quem somente se deve adorar e a quem o fiel muçulmano pede que mostre o caminho reto a ser seguido. Nas aberturas de cerimônias civis ou religiosas, na abertura e no encerramento das transmissões de TV, ou na formalização do noivado, a Fatihah é sempre recitada.
Maryam - Mãe de Jesus
O capítulo 19 do Corão chama-se Maryam (Maria), que em árabe quer dizer 'devota'. A Virgem Maria dos cristãos, mãe de nosso Salvador, tem destaque especial no livro sagrado dos muçulmanos. Nenhum nome de mulher é citado no Corão, nem a mãe de Maomé, nem sua filha Fátima. Maria, porém, é citada 34 vezes. Isto demonstra a veneração e a exaltação que o is-lamismo tem por ela.
No Corão, a concepção de Jesus ocorreu de modo muito parecido com o narrado na Bíblia, na passagem em que Maria indaga como é possível ter um filho se nenhum homem a tocou e ela continua virgem: 'O anjo disse: Assim seja, pois o Senhor disse: Isto é fácil para mim' (19:17).
Não é feita, no Corão, nenhuma citação de José, esposo de Maria. Quando Imran - o pai de Maryam - morre, Zacarias passa a tutelá-la.
Segundo o Corão: 'Jesus ensinou: Eu sou um servo de Alá, Ele deu-me o Livro (Bíblia) e me fez profeta' (19:31).
O Corão não admite o conceito de Trindade - Pai, Filho e Espírito Santo: 'Não está de acordo com sua Majestade Alá que Ele tenha junto a si mesmo um filho' (19:35).
Jesus é citado em outros capítulos do Corão, além do 19º. Segundo o Corão, Jesus não morreu na cruz, porém de morte natural e os judeus e cristãos continuarão a acreditar em sua morte (5:115). Ainda de acordo com o Corão, Jesus era um profundo conhecedor da Torá, os 5 primeiros livros do An-tigo Testamento, que conhecemos por Pentateuco (5:111).
Bani Israel
Bani Israel significa 'Filhos de Israel' e compreende o 17º capítulo do Corão. Nesse capítulo, destaca-se o Livro dado por Deus a Moisés, a Torá. Há várias exor-tações, como: 'Não se aproxime sequer do adúltero; verdadei-ramente, ele é uma coisa ruim e um mau caminho. Não destrua a vida que Alá tem declarado sagrada, salvo por justa causa. Não se aproxime da propriedade do órfão durante sua menor idade, exceto com o melhor propósito' (17:32-37).
Nessa passagem, podemos notar como é altamente perigoso a falta de definição do que seria uma 'causa justa' para ma-tar um semelhante nosso, ou o que poderia ser esse 'melhor propósito' para discernir sobre o destino dos bens de um órfão. Afirmações vagas desse tipo talvez expliquem as ações de grupos fundamentalistas muçulmanos em tirar vidas humanas em atentados que ocorrem todo dia. No caso, pela 'justa causa' de Alá. Vale lembrar, também, que Just Cause (Causa Justa) foi o codinome da operação americana que promoveu a invasão no Panamá, em 1989...
Em Bani Israel destaca-se a missão de Moisés em resga-tar os hebreus da tirania do faraó, levando-os para fora do Egito e atravessando o Mar Vermelho. A peregrinação pelo de-serto, durante 40 anos, como castigo divino, a chuva de maná, a idolatria do bezerro de ouro, tudo é muito seme-lhante ao que está escrito na Bíblia.
Nessa surata, deve-se destacar, ainda, o modo como o fiel muçulmano deve rezar: 'Observai a oração em diferentes tempos, entre o pôr do sol e a profunda escuridão da noite, e recitai o Corão prostrados. A recitação do Corão prostrado é especialmente agradável a Alá' (17:79). A atitude que o fiel muçulmano tem durante a oração - a prostração - é um costume antigo, também utilizado por nosso Mestre: 'E, adiantando-se um pouco, (Jesus) prostrou-se com o rosto em terra, orando ...' (Mateus, 26:39).
Além de Maryam e Bani Israel, outros nomes bíblicos dão o título a capítulos ou suratas do Corão. O capítulo 12 refere-se a Yusuf (José). Não é o esposo de Maria, porém o filho de Jacó, vendido por seus irmãos a mercadores do Egito. O capítulo número 14 é o de Ibrahim (Abraão), pai dos árabes e dos judeus. O capítulo 10 é o de Yunus (Jonas). Estes últimos são todos grandes profetas do islamismo, incluindo ainda Da ud (Davi), Dhul-Kifl (Ezequiel), Idris (Enoch), além de Adão, Noé, Elias, Jesus e outros.
2. INTERNACIONAL ISLÂMICA
Bush e a “democracia de cruzeiro”
“Há um tempo para construir e um tempo para destruir”, afirmou José Saramago em “Memorial do Convento”. Para o presidente dos EUA, George W. Bush, é tempo de construir a democracia no mundo, e é tempo de destruir toda forma de terrorismo existente sobre a face da Terra.
Ninguém, em sã consciência, é contra a democracia e a favor do terrorismo. A não ser os terroristas, como Osama bin Laden, e os ditadores, como Fidel Castro – antigo ídolo de Saramago. O problema é como conseguir que todos os países sejam democráticos e que o terrorismo seja extinto no mundo. E entender por que os EUA, com sua “Doutrina Bush”, seriam a nação escolhida por Deus para realizar obra de tal envergadura.
Uma pergunta hoje é freqüente: estaria somente o Iraque na mira do armagedon americano, ou também outras nações comunototalitaristas, como a Coréia do Norte, ou teototalitaristas, como o Irã, que também contribuem para a desestabilização da paz no mundo? Todos sabem o motivo por que os EUA não ameaçam o governo comunista da China, que trucida o Tibete e vende armas para o grupo al-Qaeda: ela possui um formidável estoque de bombas nucleares. Porém, Síria, Irã e Sudão poderiam ser os próximos alvos, já que tais nações foram denominadas por Bush de “eixo do mal”, Estados que seriam propagadores do terrorismo islâmico internacional.
Ultimamente, com a guerra no Iraque, tem havido muitas manifestações a favor da paz no mundo, as tais peaceniks que relembram os tempos da Guerra do Vietnã. Porém, há um paradoxo e uma ironia nesses movimentos “pacifistas”. Ninguém critica muitas das ações da ONU, ultimamente desmoralizada também por eleger a Líbia para a Comissão de Direitos Humanos, um país sabidamente promotor do terrorismo sob a ditadura Kadhaffi, cúmplice do atentado terrorista que derrubou um jato da Pan Am (Boeing 747) na Escócia, em 21 de dezembro de 1988, quando morreram 259 pessoas a bordo e 11 em terra. Por exemplo, o Conselho de Segurança da ONU, após a Guerra do Golfo, criou uma zona de exclusão aérea no norte e no sul do Iraque, onde o antigo governo de Saddam Hussein não tinha autonomia, por conta de uma alegada defesa dos curdos, no norte, e dos xiitas, no sul. Além disso, a ONU aprovou um draconiano embargo econômico contra o Iraque, que já dura 13 anos, só comparável ao que sofreu a Alemanha após a I Guerra Mundial, com o Tratado de Versalhes. Somente uma parte da capacidade produtiva de petróleo do país, que tem a segunda maior reserva do planeta, foi autorizada para a venda, em troca de comida e remédios. Com isso, o Iraque, anteriormente um país culto e rico, retrocedeu aos tempos medievais, com a pobreza tomando conta da maior parte da sociedade, enquanto Saddam Hussein e seus filhos construíam luxuosos palácios. O UNICEF calcula que, devido ao embargo, morreram em torno de 500.000 crianças no país, por falta de alimentos e medicamentos. Ou seja, a ONU critica a ONU por um crime contra a humanidade que ela mesma cometeu e os peaceniks apenas lembram em condenar os mortos e mutilados ocasionados pelos bombardeios da coalizão anglo-americana.
Finda a guerra no Iraque, resta a questão principal da “Doutrina Bush”: como os EUA conseguirão tornar aquele país uma democracia? Sabe-se que democracia não é uma palavra muito conhecida no mundo muçulmano. Basta lembrar que ainda antes do término da Guerra do Golfo, em 1991, muitos analistas apostavam que o Kuwait sofreria mudanças políticas sensíveis após o conflito. Porém, o que se viu foi a recondução do Emir ao poder, cuja dinastia governa o país há mais de 350 anos, sem que nenhuma reforma política fosse feita para benefício da população. Na Arábia Saudita, durante a Guerra do Golfo, muitas mulheres foram vistas dirigindo carros, dando a impressão de que conseguiriam alguns direitos até hoje negados a elas. Contudo, em pouco tempo as mulheres sauditas “liberadas” passaram a ser perseguidas, foram proibidas de dirigir carros e tiveram que voltar para os afazeres domésticos, longe da política e da contestação. A Arábia Saudita não é nada mais do que um país feudal, em que a família real detém 40% da riqueza do país. Assim, em um ambiente muçulmano onde predominam ainda conceitos teocráticos medievais, e uma corrupção generalizada, como conseguir que a democracia seja implantada?
O problema maior que Bush enfrentará no Iraque será o repúdio da população à ocupação estrangeira, por mais que Saddan Hussein tenha sido o déspota que foi. Afinal, foram chocantes as cenas de crianças e mulheres mutiladas, o desespero de pais que perderam toda a família e seus bens materiais em bombardeios. E nada impedirá que muitos destes muçulmanos, transtornados pelo ódio, se transformem em bombas humanas para atacar os conquistadores. Se Osama bin Laden declarou guerra à América simplesmente porque ainda existem tropas americanas no “solo sagrado” da Arábia Saudita, não será diferente o sentimento dos islâmicos em relação à dominação anglo-americana no Iraque.
Há um provérbio entre os beduínos do Sinai, em sua eterna luta para conseguir um pedaço de terra com vegetação e água, que diz o seguinte: “Eu contra meu irmão. Eu e meu irmão contra meu primo. Eu, meu irmão e meu primo contra o mundo”. Por mais que os muçulmanos briguem entre si, em desavenças tribais que nunca findam, eles passam a se unir quando a ameaça vem de fora. Foi assim na Campanha Árabe contra o Império Otomano, durante a I Guerra Mundial, muito bem descrito no livro “Os Sete Pilares da Sabedoria”, que deu origem ao épico de Hollywood, “Lawrence da Arábia”, com Peter O’Toole e Omar Sharif. Foi assim na guerra de guerrilhas do Afeganistão contra a ocupação soviética. Não será diferente agora no Iraque, ocupado pelos americanos e britânicos. Quanto mais rápido a coalizão passar o governo ao povo iraquiano, menos problemas terá com ataques guerrilheiros suicidas – os famosos “fedayin” –, atentados a bomba e toda sorte de sabotagem engendrados para expulsar os invasores.
O problema reside em saber qual o melhor momento para a entrega do bastão governamental ao povo iraquiano, sem riscos de que daqui a um ano a coalizão tenha que voltar para uma segunda “libertação” do Iraque. Ficando por longo tempo no Iraque, a coalizão não enfrentará somente o descontentamento da população (de maioria xiita, que no futuro poderá criar um regime nos moldes do Irã) e dos remanescentes simpatizantes de Saddam. Ela passará a enfrentar o Movimento Islâmico Armado (AIM), também conhecido como Legião (ou Brigada) Internacional do Islã, ponta de lança do terrorismo islâmico internacional, que congrega grupos fundamentalistas oriundos de países como Egito, Arábia Saudita, Iêmen, Síria, Irã, Sudão, Paquistão, Afeganistão, além do próprio Iraque.
O Movimento Islâmico Armado
O AIM foi implementado pela International Moslem Brotherhood - IMB (Irmandade Muçulmana Internacional), controlada pelo Irã e administrada pelo xeque Hassam Abdallah al-Turabi, líder espiritual do Sudão. Antes dos ataques de 11 de setembro contra Nova York e Washington, o IMB tinha controle sobre instituições financeiras que operavam no Ocidente, como a Islamic Holding Company, o Banco Islâmico de Dubai e o Banco Islâmico Faiçal. A criação do Banco Taqwa da Argélia foi visto pelo IMB como a “fundação de um banco mundial para o fundamentalismo” (Yossef Bodansky, in “Bin Laden – o Homem que Declarou Guerra à América”, pg. 85). A Internacional Islamita pretende concretizar o sonho do aiatolá Khomeini e sua revolução, para a união de todos os islamitas sob um novo califado.
Os terroristas de maior destaque da Internacional Islamita são conhecidos como “afegãos”, pois muitos deles foram treinados com os mujadins no Paquistão e lutaram no Afeganistão contra os soviéticos (depois contra os EUA, em 2001). As bases de apoio ficam no Sudão, Irã, Afeganistão e Paquistão, e há organizações ativas em todos os cantos do mundo onde haja muçulmanos.
Países como o Irã e o Sudão tiveram fundamental influência na criação e propagação do grupo terrorista Al-Qaeda, acusado de ter planejado e executado os atentados contra os EUA, no dia 11 de setembro de 2001. Junto com estes dois países, o Paquistão é o maior financiador de Bin Laden (além da Arábia Saudita, segundo fontes americanas). Por isso, é de se supor que os EUA não devem ter dado por encerrada sua luta contra o terrorismo islamita depois das campanhas contra o Afeganistão e o Iraque. Quem será o próximo país a conhecer a “democracia de cruzeiro” da Doutrina Bush, implementada pela “pax americana” dos mísseis “cruise” Tomahawk? Seria o estratégico Iraque utilizado pelos americanos como cabeça-de-ponte para futuros ataques à Síria e ao Irã?
Durante o Governo de Bill Clinton, já havia uma doutrina próxima à chamada “Doutrina Bush”, a “Doutrina Lake”. Propagada em 1996 por Anthony Lake, Assessor de Segurança Nacional de Clinton, essa Doutrina estabelece que as Forças Armadas americanas devem ser utilizadas em 7 circunstâncias: 1) para defender o país contra ataques diretos; 2) para conter agressões; 3) para garantir os interesses econômicos do país; 4) para preservar e promover a democracia; 5) para prevenir a propagação de armas de destruição em massa, terrorismo, crime internacional e tráfico de drogas; 6) com fins humanitários para combater a fome, desastres naturais e grandes abusos de direitos humanos; e 7) em defesa da ecologia e do meio ambiente. Não custa lembrar que os itens 5, 6 e 7 caem como uma luva para o Brasil, caso Uncle Sam chegue à conclusão de que a Amazônia está sendo devastada (“defesa da ecologia”), de que os ianomâmis estão sendo massacrados (“defesa dos ‘direitos humanos’ ”) e de que o narcotráfico tomou conta de nosso País (“prevenção do tráfico de drogas”). Resta saber se a Doutrina Bush também irá abranger tal leque de circunstâncias, ou se irá apenas se ater ao “terrorismo”.
O atual regime iraniano já nasceu terrorista. “O terror de Khomeini se voltou contra o antigo regime (do Xá), massacrando 23 generais, 400 outros oficiais do Exército e da Polícia e 800 funcionários civis; depois voltou-se contra os seguidores dos aiatolás rivais, 700 dos quais foram executados; e depois, voltou-se contra seus antigos aliados liberal-seculares, 500, e contra a esquerda, 100. Desde o início o terror organizou a execução ou assassínio de líderes de minorias religiosas e étnicas, matando mais de 1.000 curdos, 200 turcomandos e muitos judeus, cristãos, shaikhis, sabeus e membros dissidentes das seitas xiitas, assim como muitos ortodoxos. (...) As igrejas e sinagogas foram arrasadas, cemitérios profanados, santuários vandalizados e demolidos. (...) O tormento que causaram à minoria sunita iraquiana e as medidas recíprocas contra xiitas persas no Iraque levaram à guerra Irã-Iraque – guerra que se iniciou em 1980 e se estendeu até 1988. (...) Mantendo como refém o pessoal da Embaixada americana, que foi finalmente libertando em troca do pagamento de um resgate, o regime de Khomeini se identificou com o terrorismo internacional, e por algum tempo financiou grupos tais como a OLP” (Paul Johnson, in “Tempos Modernos”, pg. 597-8).
Khomeini havia escolhido o Iraque como primeiro alvo para exportar a Revolução Islâmica devido a dois motivos: o grande número de xiitas no sul daquele país e a presença, no Iraque, dos lugares mais sagrados dos xiítas: a tumba do Ímã Ali, o segundo ímã xiita (o primeiro foi Maomé), situada na cidade de an-Najaf, e a tumba de seu filho, Hussein, conhecido pelos xiitas como o “Senhor dos Mártires”, localizada na cidade de Karbala. Depois de Meca, Karbala é a cidade mais sagrada para os xiitas, a segunda ala mais importante do islamismo, depois dos sunitas. Ultimamente, multidões de xiitas, em festa, são vistas em peregrinação a Karbala, onde se açoitam até sangrar, após caminhadas de mais de 100 km. Há 26 anos não era vista esta alegria da peregrinação, proibida durante o regime de Saddam Hussein.
Vencendo o Iraque (na época, o 2º maior produtor de petróleo, após a Arábia Saudita), Khomeini acreditava que seria o trampolim para a exportação da Revolução Islâmica a toda a Península Arábica, à Turquia, ao litoral leste do Mediterrâneo (Palestina, Líbano), Síria, Jordânia e Egito. O “slogan” de Khomeini era: “Libertar Qods (Jerusalém) (2) através de Karbala”. Para os árabes, existe a “Phalistina” (Palestina, nome originário de “filisteu”)”, Israel é um nome nunca pronunciado ou escrito.
Mesmo após a morte de Khomeini (1989), o Irã ainda transferia US$ 100 milhões/ano para o Sudão, onde o governo local criou campos de treinamento para fundamentalistas da Argélia, Tunísia, Egito e, mais tarde, do Golfo Pérsico. Nos campos sudaneses também treinaram tropas do grupo Al-Qaeda (3), de Osama bin Laden, criado em 1992 naquele país.
O aiatolá Khamenei, sucessor de Khomeini, expandiu a campanha khomeinista a grupos xiitas, como: Hezbollah, no Líbano; Ahmed Jibril, da Frente Popular de Libertação da Palestina-Comando Geral; Muhammad-Hussein Fadhlullah, clérigo xiita libanês; e com os líderes do Centro do Clero Xiita (4), no Paquistão.
Em dezembro de 1991, o Presidente Rafsanjani, em visita ao Sudão, em companhia do Ministro da Inteligência, Ali Fallahian, do Comandante-em-Chefe do Corpo da Guarda, Mohsen Rezaii, do Ministro da Defesa, Akbar Torkan, e mais 150 pessoas, doou ao país US$ 17 milhões para “assistência financeira”.
Em meados de 1992, o Irã doou ao Sudão 30 milhões de dólares para aceleração de treinamento terrorista. A maior parte destes fundos foi transferido para contas em Londres, controladas pelo xeque Turabi, para financiar operações de terrorismo internacional.
O Irã também concordou em pagar à China US$ 300 milhões por armamento destinado ao Sudão. Em acréscimo, o Irã concordou em enviar 1 milhão de toneladas de petróleo ao Sudão, anualmente, sem despesa. Logo depois, o dirigente militar do Sudão, general Omar Al-Bashir, anunciou que as leis islâmicas seriam imediatamente impostas no país. A primeira obrigação: mulheres deveriam usar o turbante em lugares públicos. Na mesma época, um contingente de 1 ou 2 mil Guardas Revolucionários Iranianos foi enviado ao Sudão. Em 31 Mar 1992, veio a público a formação das Forças de Defesa Popular (FDP) do Sudão, nos moldes do Corpo da Guarda Revolucionária (Pasdaran): “Prontas para lutar uma “Jihad” (guerra santa), as FDP fazem o treinamento marchando com uma arma e recitando o Corão”.
A rigor, nada mudou na conduta fundamentalista e terrorista iraniana nestas duas últimas décadas. Vale dizer que, há poucas semanas, o Pasdaran reiterou a fatwa (decreto religioso) que havia condenado à morte o escritor Salman Rushdie, autor do livro “Versos Satânicos”, considerado ofensivo para os mulás iranianos.
Atualmente, muitos grupos terroristas muçulmanos integram a Internacional Islamita, destacando-se o al-Qaeda de Osama bin Laden; o al-Qods iraniano; o Hezbollah Internacional (iraniano, criado em 1996); o ISI paquistanês; a PIO (Organização Popular Internacional), criada em Cartum em 1991 e liderada pelo xeque Turabi; a Jihad Islâmica do Egito (ligada a Osama bin Laden, participou do assassinato do presidente do Egito, Anwar al-Sadat); Abu Sayyaf (organização terrorista das Filipinas) (5); o Comitê de Defesa dos Direitos Legítimos (com sede em Londres); o al-Jamaah al-Islamiyah (do xeque Omar Abdul Rahman (preso nos EUA, acusado do primeiro atentado contra o WTC, em Nova York, em 1993); a VEVAK (inteligência iraniana); o Grupo de Justiça Internacional (nome de cobertura adotado por agentes de segurança e inteligência treinados pelos iranianos e liderados por Ayman al-Zawahiri, no atentado contra o presidente do Egito, Hosni Mubarak, em 1995); o Exército de Maomé; o Exército Islâmico para a Libertação de Lugares Sagrados (IALHP) – Muqamat-i-Muqadassa (lugares sagrados); a Frente Mundial Islâmica para a Jihad contra Judeus e Cruzados; etc.
Internacional Islamita do Terror
Congrega movimentos islâmicos armados em todas as partes do mundo, destacando-se: o al-Qaeda de Osama bin Laden; o al-Qods iraniano; o Hezbollah Internacional (iraniano, criado em 1996); o ISI paquistanês; a PIO (Organização Popular Internacional), criada em Cartum em 1991 e liderada pelo xeque Turabi; a Jihad Islâmica do Egito (ligada a Osama bin Laden, participou do assassinato do presidente do Egito, Anwar al-Sadat); Abu Sayyaf (organização terrorista das Filipinas); o Comitê de Defesa dos Direitos Legítimos (com sede em Londres); o al-Jamaah al-Islamiyah (do xeque Omar Abdul Rahman (preso nos EUA, acusado do primeiro atentado contra o WTC, em Nova York, em 1993); a VEVAK (inteligência iraniana); o Grupo de Justiça Internacional (nome de cobertura adotado por agentes de segurança e inteligência treinados pelos iranianos e liderados por Ayman al-Zawahiri, no atentado contra o presidente do Egito, Hosni Mubarak, em 1995); o Exército de Maomé; o Exército Islâmico para a Libertação de Lugares Sagrados (IALHP) – Muqamat-i-Muqadassa (lugares sagrados); a Frente Mundial Islâmica para a Jihad contra Judeus e Cruzados; o Cisma Vermelho.
Em 1996, o príncipe Salman, da Arábia Saudita, mantinha contatos clandestinos com bin Laden em nome de Riad, para canalizar apoio saudita para as jihads islamitas em todo o mundo “A abordagem de Riad era cínica e pragmática – melhor manter os militantes islamitas sauditas e ‘afegãos’ envolvidos com jihads distantes, mesmo às expensas de Riad, que tê-los de volta agitando a população” (“Bin Laden”, pg. 220). A luta interna, pela sucessão ao trono do Rei Fahd, envolve os príncipes Abdullah, Sultan e Salman (da facção Salman-Nayif). Na explosão do caminhão-bomba em Dhahran, em 1996, houve envolvimento do príncipe Abdullah, junto com a Síria e o Irã, para mostrar quem é o mais forte. Na verdade, o exagero da explosão foi um recado do Irã a Riad, para mostrar que, “por direito”, o Irã era a maior força da região, podendo ocasionar grandes estragos caso seus interesses fossem contrariados. Na mesma época, uma rede xiita de base saudita, com apoio do Hizbollah e do VEVAK, contruiu pequena bomba no leste da Arábia Saudita e a levou a Manama, Bahrein, onde foi explodida perto do Hotel Vendôme. Na Grande Damasco há casas-fortes da Inteligência síria para cursos de espionagem de campo e segurança operacional.
Algumas ações da Internacional Islamita na última década. No dia 17 de março de 1992, um carro-bomba atingiu a Embaixada de Israel na Argentina, matando 28 pessoas e ferindo cerca de 100. O Hezbollah (“Partido de Deus”), com base no Sul do Líbano (Vale do Bekaa), responsabilizou-se pelo atentado. O Hezbollah é também suspeito de ter atacado a embaixada americana e o acampamento dos “marines” em Beirute, Líbano, em outubro de 1983, matando mais de duas centenas de americanos. O Hezbollah recebe ajuda financeira, treinamento, armas, explosivos e facilidades do Irã, onde treina seus militantes no Campo de Nahavand, em Hamadan, a Sudoeste de Teerã. Também é conhecido como Jihad Islâmica, Organização da Justiça Revolucionária, Organização dos Oprimidos Sobre a Terra e Jihad Islâmica para a Libertação da Palestina.
Em 26 de setembro e 3 de outubro de 1993, helicópteros UH-60 Blackhawk dos Estados Unidos que participavam da Operação “Restore Hope” (Restaurar a Esperança), da ONU, foram abatidos em Mogadíscio, Somália. Corpos de soldados americanos foram arrastados pelas ruas da capital. Só no 2º ataque, quando 2 UH-60 foram abatidos e um 3º chocou-se contra o solo no aeroporto, morreram 18 soldados americanos, 78 foram feridos e 1 helicóptero foi capturado (liberado 10 dias depois); 700 somális saíram feridos e cerca de 300 morreram. Esse choque causado aos americanos decidiu a rápida retirada de suas tropas do país; em março de 1994, grande parte das Forças americanas já haviam deixado a Somália. Análises comprovaram a melhoria do súbito “desempenho” somáli ao treinamento de somális e “afegãos” árabes treinados pelos iranianos e à participação direta do Comando Saiqah iraquiano nos combates. Típica ação da Internacional Islamita, que em junho de 1993 enviou terroristas de várias organizações para combater as forças americanas da ONU na Somália: iraquianos (Inteligência e F Especiais), Pasdaran iraniano, Hezbollah libanês, “afegão” árabes (principalmente egípcios) e islamitas locais, membros da Frente Islâmica Nacional do Sudão, do SIUP da Somália, da Organização da República Islâmica do Quênia, da Frente Islâmica para a Libertação da Etiópia e da Jihad Islâmica da Eritréia – num total de 3 mil terroristas e grande quantidade de armas foram secretamente destacados na Somália, com treinamento de Mohamed Atif (3º homem mais importante do al-Qaeda) e apoio financeiro de Bin Laden.
No dia 18 de julho de 1994, um carro-bomba matou 96 pessoas e feriu 156 na Asociación Mutual Israelita-Argentina (AMIA), em Buenos Aires. Os atentados foram atribuídos a grupos terroristas islâmicos orientados pelo Irã. Em fevereiro de 1993, houve um atentado contra o World Trade Center (WTC), em Nova York, realizado pelo kuwaitiano Ramzi Youssef (ligado a bin Laden), quando a explosão de um carro-bomba na garagem de uma das torres gêmeas deixou saldo de 6 mortos e mais de 1.000 feridos; preso, Youssef foi condenado a 240 anos de prisão.
A “Internacional Islamita”, com o apoio milionário da al-Qaeda, participou ainda de outras ações, principalmente contra objetivos americanos, tais como:
- atentados a bomba em embaixadas americanas na África (Nairobi, Quênia, e Dar as-Salaam, Tanzânia, ocorridos simultaneamente em 7 de agosto de 1998), ocasionando a morte de mais de 250 pessoas e mais de 5.500 feridos, na maioria africanos, esses ataques foram operações conduzidas pelo Hezbollah Internacional, comandado pelo Irã, com apoio do Sudão e do Paquistão; as ações de Osama bin Laden como líder político e Ayman al-Zawahiri como comandante militar foram decisivas para o sucesso dos ataques;
- ataque suicida contra o destróier americano “USS Cole”, no dia 12 de outubro de 2000, que deixou 17 marinheiros americanos mortos, no Porto de Áden, Iêmen; o atentado foi reivindicado pelo “Exército de Maomé”;
- atentado contra a vida do presidente do Egito, Hosni Mubarak, em 26 de junho de 1995, em Adis-Abeba, Etiópia, patrocinado pelo Irã e Sudão;
- em junho de 1995, houve explosões no metrô de Paris, promovidas por argelinos;
- atentado de 2 carros-bombas num centro de treinamento militar administrado pelos Estados Unidos, em Riad, Arábia Saudita, a 13 de novembro de 1995, quando houve 6 óbitos (sendo 5 americanos) e mais de 60 feridos; esta ação foi organizada por Teerã e Cartum, reunindo “afegãos” sauditas e partidários; a oposição islamita afirmou que sauditas espcialistas em bomas, “treinados pela CIA e pela Inteligência militar do Paquistão”, estavam fornecendo treinamento especializado a redes “afegãs” no Oriente Médio e na Bósnia;
- assassinato de Alaa al-Din Nazmi, o 2º diplomata egípcio mais importante na Suíça, no dia 15 de novembro de 1995;
- atentado com carro-bomba, com 400 kg de explosivos, na Embaixada egípcia em Islamabad, Paquistão, no dia 19 de novembro de 1995, matando 19 pessoas (incluindo o motorista suicida) e ferindo mais de 60 pessoas;
- explosão de um caminhão-bomba nas instalações americanas de al-Khobar, perto de Dahran, Arábia Saudita, em 25 de junho de 1996, matando dezenas de pessoas, entre as quais 19 militares americanos (em 7 de junho de 1996, em seu sermão de Sexta-feira, o líder espiritual do Irã, aiatolá Ali Khamenei, declarou que o Hezbollah deveria alcançar “todos os continentes e todos os países” – Cfr. “Bin Laden”, pg. 213); a explosão de Dahran mostrou ser uma “operação extremamente profissional e meticulosa. Uma longa fase de coleta de dados e de observação do local possibilitou selecionar os principais pontos para o posicionamento do caminhão-bomba tanto dentro como na retaguarda (no perímetro). A disponibilidade de um carrro para fuga e o imediato desaparecimento dos executores também comprovaram o profissionalismo da rede. A grande quantidade de explosivos para uso militar, o material incendiário de alta qualidade, a disponibilidade de fusíveis sofisticados e o próprio projeto e construção da bomba, tudo apontava para uma rede altamente sofisticada e profissional” (in “Bin Laden”, pg. 215). Para a fabricação da bomba, “os sofisticados equipamentos eletrônicos e fusíveis haviam sido contrabandeados da Europa Ocidental disfarçados como peças de computadores. Alguns dos principais carregamentos, inclusive de fusíveis, estavam endereçados à Guarda Real (Nacional) Saudita, onde islamitas simpatizantes os esconderam' (in “Bin Laden”, pg. 228);
- explosão do jumbo da TWA (vôo 800), em 17 de julho de 1996, sobre o Oceano Atlântico, perto da costa de Long Island; as evidências apontam para o terrorismo, pois houve um breve ruído, antes da explosão, idêntico ao ocorrido com o Boeing do vôo 103 da Pan Am, explodido sobre Lockerbie, na Escócia. A reconstituição dos últimos minutos do avião do TWA podem fornecer a chave de tudo, baseado em 3 componentes: 1) a caixa-preta, que grava vozes e as atividades eletrônicas da cabine; 2) o transponder, que transmite sua identificação quando ela é localizada por radar de solo; e 3) a detecção, pelo radar de solo, do eco ou do retorno causado por qualquer objeto grande. Como regra, deve existir perfeita relação temporal entre esses elementos; qualquer discrepância é indicador de que algo está errado. No vôo 800, todos os gravadores da caixa-preta emudeceram repentinamente, depois de breve ruído, idêntico ao ocorrido com o vôo 103 da Pan Am. “Os nitratos, principais componentes das bombas, são dissolvidos pelo fogo e pela água do mar – no caso do Vôo 800, ambos os elementos estiveram presentes. A possibilidade que qualquer resíduo seja encontrado é, portanto, mínima” (in “Bin Laden”, pg. 237);
- os atentados contra as torres gêmeas do World Trade Center (WTC), em Nova York, e contra o Pentágono, em Washington, no dia 11 de setembro de 2001, ocasionando a morte de quase 3.000 pessoas;
- atentado de terrorista suicida mata 21 pessoas em sinagoga na Tunísia no dia 11 de abril de 2002;
- carro-bomba mata 12 paquistaneses frente ao consulado americano em Karachi no dia 14 de junho de 2002;
- atentado contra uma discoteca de Báli, Indonésia, em 12 de outubro de 2002, matou 202 pessoas, incluindo um militar do Exército brasileiro que fazia parte da missão de paz da ONU no Timor Leste. Assumiu o atentado o grupo Jemaa Islâmica, fundado em 1993 por dois religiosos radicais, Abu Bakar Bachir e Abdullah Sungkar, que pretende fundar um Estado islâmico congregando os territórios da Malásia, Indonésia, Cingapura, o sultanato de Brunei, o sul das Filipinas e o sul da Tailândia;
- no dia 28 de outubro de 2002 foi assassinado um diplomata americano em Amã, Jordânia;
- em 28 de novembro de 2002 homens-bomba matam 16 pessoas num hotel de praia em Mombasa, Quênia;
- no período de 4 de março a 11 de maio de 2003, três ataques nas Filipinas – num aeroporto, num cais e num mercado – deixam cerca de 50 mortos;
- Terroristas suicidas atacam condomínio em Riad, Arábia Saudita, no dia 12 de maio de 2003, deixando 35 mortos;
- no dia 16 de maio de 2003, homens-bomba atacam alvos ocidentais no centro de Casablanca, Marrocos, deixando 44 mortos e 100 feridos;
- no dia 5 de agosto de 2003, um carro-bomba destruiu parte do hotel Marriot em Jacarta, capital da Indonésia, deixando 12 mortos. “Segundo o Ministério da Defesa indonésio, o atentado é obra do grupo radical Jemaa Islâmica, considerado o braço da rede terrorista Al-Qaeda no Sudeste da Ásia” (Correio Braziliense, 10/08/2003);
- o ataque contra a Embaixada da Jordânia no Iraque, no dia 7 de agosto de 2003, quando morreram 19 pessoas;
- o ataque contra o hotel que sediava uma representação da ONU em Bagdá, realizado no dia 19 de agosto de 2003, matou 24 pessoas (incluindo o chefe da missão, o brasileiro Sérgio Vieira de Melo) e deixou mais de 100 feridos, foi um típico ato da Internacional Islamita, reivindicado inicialmente pelas 'Vanguardas Armadas do Segundo Exército de Maomé', depois pelas 'Brigadas de Abi Hafs Al-Masri'. Esta última organização, ligada à al-Qaida, afirmou que a ONU 'trabalha contra os maometanos e representa a Secretaría de Estado norteamericana” – segundo afirmou o diário árabe internacional “Al Hayat”. O mesmo diário afirmou que 'os EUA são o principal inimigo do islamismo já que o combate em todas as partes, assassina diretamente no Iraque e no Afeganistão, e indiretamente nas Filipinas, Cachemira e Palestina';
- o ataque, no dia 29 de agosto de 2003, contra a principal mesquita xiita da cidade santa de an-Najaf, onde se encontra a tuba do ímã Áli, ocasião em que morreram mais de 100 pessoas, incluindo o mais importante líder xiita iraquiano, o aiatolá Mohammed Baqer Al-Hakim, e mais de 200 ficaram feridas; foram utilizados mais de 700 kg de explosivos colocados em dois veículos; foram presos 2 iraquianos e 2 sauditas ligados à Al-Qaeda de bin Laden; eles pertenceriam ao grupo desconhecido Mohammed Atef, nome de um dos homens mais próximos de bin Laden. -
- no dia 30 de agosto, um oleoduto que liga os poços de petróleo de Kirkut à refinaria de Baiji, norte do Iraque, pegou fogo; acredita-se que tenha sido sabotagem (Correio Braziliense, 31/08/2003, pg. 22);
- no dia 15 de novembro de 2003, carros-bombas atingem duas sinagogas de Istambul, Turquia, matando 25 pessoas;
- no dia 19 de novembro de 2003, a sede regional do HSBC e o consulado britânico em Istambul foram atacados por carros-bomba, deixando saldo de 30 mortos. “Desde 11 de setembro de 2001, terroristas ligados à Al Qaeda assumiram grandes atentados em uma dezena de países, com 500 mortos – sem contar os ocorridos no Iraque e no Afeganistão” (revista “Veja”, edição nº 1830, de 26/11/2003).
As ações da Internacional Islamita são sempre patrocinadas por Estados islâmicos. “Praticamente todos os maiores ataques terroristas são patrocinados por um Estado e não são empreendimentos feitos às pressas. Os que executam tais atos são agentes dedicados e disciplinados agindo sob total comando dos serviços de inteligência dos países que os patrocinam” (in “Bin Laden”, pg. 215).
“Acreditamos que Alá usou nossa guerra santa no Afeganistão para destruir o exército russo e a União Soviética. (...) ... e agora pedimos a Alá que nos use uma vez mais para fazer o mesmo com a América, transformando-a em uma sombra de si mesma” (Bin Laden, em depoimento a Robert Fisk, do “Independent”, março de 1997 – cit. em “Bin Laden”, pg. 138).
“Osama”, em árabe, significa “leão”. Muitos oradores, em manifestações de massa, declaram que “Osama, o Leão, tinha saído de sua jaula para devorar os inimigos do Islã” (“Bin Laden”, pg. 364).
A Internacional Islamita trabalha para estabelecer o Khilafah (Estado global, pan-islâmico). Seus seguidores pretendem proteger os muçulmanos da Kuffar (apostasia), não se deixam seduzir pela Dunya (sedução do Ocidente), nem temem a morte, ao contrário, procuram a Shahada (martírio).
Segundo o general-de-divisão Asad Durrani, que trabalhou no ISI do Paquistão, “ ‘o termo fundamentalismo (islâmico) foi livremente confundido com radicalismo ou extremismo’ na cultura política ocidental, tão logo não haverá possibilidade de reconciliação e entendimento entre o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, e o Eixo do Islã. Pelo contrário, a única forma de governo viável no Eixo do Islã ‘aprofundará a divisão, endurecerá as posições e ampliará a base do conflito’. Durrani afirma que, salvo uma ampla guerra entre o Eixo do Islã e o Ocidente liderado pelos Estados Unidos, não há como escapar de um confronto persistente e cada vez mais indireto através do uso do terrorismo internacional, pois não há outra forma de desgastar e punir o Ocidente. Durrani conclui que ‘se o passado puder servir de guia, a correção de curso somente ocorrerá se um dos lados não mais estiver disposto a suportar os custos’ ” (“Bin Laden”, pg. 409).
Em outubro de 1998, Qusay Hussein, filho de Saddam Hussein, enviou pessoa de confiança, junto com um emissário do Sheik Turabi (Sudão) a Peshawar, onde se encontraram com um funcionário do ISI e viajaram a Cabul, capital do Afeganistão, para uma conferência com Bin Laden em uma casa segura providenciada pelo mulá Omar, líder dos Talibãs. A reunião era para discutir uma maior coordenação e cooperação de atos contra os EUA-ONU, tendo em vista a crise iraquiana. “O uso de armas químicas e biológicas nos ataques terroristas previstos foi explicitamente mencionados. Bin Laden prometeu ativar todo o movimento islamita – no Oriente Médio, África, Leste da Ásia, Europa e Estados Unidos – como parte da campanha conjunta. Além disso, Bin Laden buscou a ajuda do Iraque para acelerar a construção de bombas especiais contendo agentes químicos e biológicos” (“Bin Laden”, pg. 421).
O ex-presidente sírio, Hafiz al-Assad, recebeu alguns bilhões de dólares, a partir de 1990, do príncipe Abdallah, da Arábia Saudita, para a construção de uma grande fábrica de armas químicas em Aleppo, norte da Síria, e aquisição de mísseis. Os sírios, por sua vez, junto com os iranianos, fazem operações em território saudita, desde a investigação e a seleção de alvos até o transporte de terroristas e explosivos. Está mais do que provado que as altas autoridades sauditas financiam bem mais do que a construção de milhares de mesquitas mundo a fora. Além do envolvimento de autoridades sauditas no terrorismo internacional, vale lembrar que dos 19 terroristas suicidas que promoveram os ataques contra os EUA em 11 de setembro de 2001, 15 eram sauditas.
Com a extensa folha corrida de atentados terroristas acima mencionados, é fácil identificar que países poderão ser os alvos das próximas operações americanas para a implantação de uma “democracia de cruzeiro” – ameaça feita regularmente pelos Estados Unidos, que afirmaram que a luta contra o terrorismo não acabou com os ataques ao Afeganistão e ao Iraque. Apostas já estão sendo feitas. Faça a sua.
As ações da Internacional Islamita são sempre patrocinadas por Estados islâmicos. “Praticamente todos os maiores ataques terroristas são patrocinados por um Estado e não são empreendimentos feitos às pressas. Os que executam tais atos são agentes dedicados e disciplinados agindo sob total comando dos serviços de inteligência dos países que os patrocinam” (in “Bin Laden”, pg. 215).
“Acreditamos que Alá usou nossa guerra santa no Afeganistão para destruir o exército russo e a União Soviética. (...) ... e agora pedimos a Alá que nos use uma vez mais para fazer o mesmo com a América, transformando-a em uma sombra de si mesma” (Bin Laden, em depoimento a Robert Fisk, do “Independent”, março de 1997 – cit. em “Bin Laden”, pg. 138).
“Osama”, em árabe, significa “leão”. Muitos oradores, em manifestações de massa, declaram que “Osama, o Leão, tinha saído de sua jaula para devorar os inimigos do Islã” (“Bin Laden”, pg. 364).
A Internacional Islamita trabalha para estabelecer o Khilafah (Estado global, pan-islâmico). Seus seguidores pretendem proteger os muçulmanos da Kuffar (apostasia), não se deixam seduzir pela Dunya (sedução do Ocidente), nem temem a morte, ao contrário, procuram a Shahada (martírio).
Segundo o general-de-divisão Asad Durrani, que trabalhou no ISI do Paquistão, “ ‘o termo fundamentalismo (islâmico) foi livremente confundido com radicalismo ou extremismo’ na cultura política ocidental, tão logo não haverá possibilidade de reconciliação e entendimento entre o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, e o Eixo do Islã. Pelo contrário, a única forma de governo viável no Eixo do Islã ‘aprofundará a divisão, endurecerá as posições e ampliará a base do conflito’. Durrani afirma que, salvo uma ampla guerra entre o Eixo do Islã e o Ocidente liderado pelos Estados Unidos, não há como escapar de um confronto persistente e cada vez mais indireto através do uso do terrorismo internacional, pois não há outra forma de desgastar e punir o Ocidente. Durrani conclui que ‘se o passado puder servir de guia, a correção de curso somente ocorrerá se um dos lados não mais estiver disposto a suportar os custos’ ” (“Bin Laden”, pg. 409).
Em outubro de 1998, Qusay Hussein, filho de Saddam Hussein, enviou pessoa de confiança, junto com um emissário do Sheik Turabi (Sudão) a Peshawar, onde se encontraram com um funcionário do ISI e viajaram a Cabul, capital do Afeganistão, para uma conferência com Bin Laden em uma casa segura providenciada pelo mulá Omar, líder dos Talibãs. A reunião era para discutir uma maior coordenação e cooperação de atos contra os EUA-ONU, tendo em vista a crise iraquiana. “O uso de armas químicas e biológicas nos ataques terroristas previstos foi explicitamente mencionados. Bin Laden prometeu ativar todo o movimento islamita – no Oriente Médio, África, Leste da Ásia, Europa e Estados Unidos – como parte da campanha conjunta. Além disso, Bin Laden buscou a ajuda do Iraque para acelerar a construção de bombas especiais contendo agentes químicos e biológicos” (“Bin Laden”, pg. 421).
O ex-presidente sírio, Hafiz al-Assad, recebeu alguns bilhões de dólares, a partir de 1990, do príncipe Abdallah, da Arábia Saudita, para a construção de uma grande fábrica de armas químicas em Aleppo, norte da Síria, e aquisição de mísseis. Os sírios, por sua vez, junto com os iranianos, fazem operações em território saudita, desde a investigação e a seleção de alvos até o transporte de terroristas e explosivos. Está mais do que provado que as altas autoridades sauditas financiam bem mais do que a construção de milhares de mesquitas mundo a fora. Além do envolvimento de autoridades sauditas no terrorismo internacional, vale lembrar que dos 19 terroristas suicidas que promoveram os ataques contra os EUA em 11 de setembro de 2001, 15 eram sauditas.
Com a extensa folha corrida de atentados terroristas acima mencionados, é fácil identificar que países poderão ser os alvos das próximas operações americanas para a implantação de uma “democracia de cruzeiro” – ameaça feita esta semana novamente pelos Estados Unidos, que afirmaram que a luta contra o terrorismo não acabou com os ataques ao Afeganistão e ao Iraque. Apostas já estão sendo feitas. Faça a sua.
Veja os verbetes “Afegãos”, Al-Qaeda, Hizbollah, IMB, Movimento Islâmico Armado, PIO e muitos outros em “Arquivos ‘I’ – uma história da intolerância”, de minha autoria, já disponível em Usina de Letras, link “Artigos”.
Notas:
(1) Mulá – Religioso islâmico xiita do Irã.
(2) Al-Qods - Grupos muçulmanos do Irã, constituídos por Pasdaran (Guarda Revolucionária Iraniana – grupo de elite), responsáveis por ações no exterior, adestram movimentos integristas no Oriente Médio e atuaram na Bósnia, em 1992. Al-Qods ou “a Santa” (em árabe) designa também a cidade de Jerusalém, reivindicada também pelos palestinos, para ser sua futura capital.
(3) Al-Qaeda - “A Base” (em árabe). Grupo terrorista islâmico de Osama bin Laden, bilionário saudita. Inicialmente se chamava “Salvação Islâmica” (Fundação al-Qaida) e era uma “instituição de caridade” criada por bin Laden para remeter fundos de apoio à jihad no Afeganistão e no Paquistão; depois, estendeu-se à Bósnia, Albânia e Kosovo. O Al-Qaeda possui células terroristas no Oriente Médio e Norte da África, e provavelmente no leste asiático, na Europa e na América do Norte, num total de mais de 40 países. Em Agosto de 1996, bin Laden escreveu seu primeiro manifesto contra os EUA, a declaração de sua Jihad (Guerra Santa), pois tropas americanas ainda ocupavam o solo sagrado do Islã – a Arábia Saudita. Em 1998, bin Laden decretou um outro manifesto, mais radical, a fatwa (sentença de morte) contra todos os cidadãos americanos, dentro ou fora das terras islâmicas, que seria desempenhada pelo “Exército Islâmico Internacional para a guerra santa contra judeus e cruzados”. Desde 1996, com a ascensão dos talibãs no Afeganistão, o grupo teria construído no país 12 campos de treinamento de terroristas. O al-Qaeda é também acusado de ter participado de muitos atentados terroristas, já citados acima, porém a ação mais espetacular foram os atentados contra as torres gêmeas do World Trade Center (WTC), em Nova York, e contra o Pentágono, no dia 11 de setembro de 2001. Os atentados contra os EUA levaram este país a declarar guerra contra o Governo Talibã do Afeganistão (por dar cobertura ao Al-Qaeda), em outubro de 2001, o qual foi deposto para dar lugar a um governo de coalizão nacional, no final de 2001. O livro “Seeds of Fire”, do repórter inglês Gordon Thomas, apresenta provas da colaboração chinesa com a Al-Qaeda: tropas da Aliança do Norte encontraram enorme quantidade de armas chinesas em poder dos Talibãs. Para aprofundamento do assunto, leia “Bin Laden – O Homem que Declarou Guerra à América”, de Yossef Bodansky, Ediouro, Rio de Janeiro e São Paulo, 2002.
(4) No Paquistão existem cerca de 70.000 escolas corânicas (escolas confessionais islâmicas), financiadas pelos países petroleiros do Golfo Pérsico, “onde 6 milhões de crianças são instruídas na versão mais militante do islamismo e preparadas para dedicar a vida à guerra santa” (Amir Taheri, in “O ódio dos muçulmanos ao Ocidente é cultivado por Governos e imprensa” – apud “Veja”, edição 1732, de 26 Dez 2001). Os chefes guerrilheiros afegãos, que haviam derrotado os russos em 1989, agiam como senhores feudais e suas tropas estupravam, saqueavam e matavam livremente. O serviço de espionagem paquistanês Interservices Intelligency (ISI), para acabar com isso, financiou uma pequena milícia afegã, formada por estudantes de escolas islâmicas, conhecidos como “talib”, e liderada por um mulá fundamentalista, Mohamed Omar. O grupo (Talibã) cresceu rapidamente e ocupou 90% do território do Afeganistão, impondo um sistema social radical sobre sua população, com base em fundamentos corânicos medievais, desde 1996. Em outubro de 2001, os EUA entram em guerra contra o regime dos Talibãs, acusado de abrigar o terrorista Osama bin Laden, principal suspeito dos atentados contra os EUA no dia 11 de setembro de 2001.
(5) Abu Sayyaf – Nome do líder terrorista, é a mais militante organização terrorista das Filipinas. Luta pela emancipação da ilhas do Sul, predominantemente muçulmanas, contra as do Norte, predominantemente cristãs. Tem apoio de Bin Laden, que viajou às Filipinas em 1993 para adquirir propriedades e abrir contas bancárias para a Internacional Islamita do terror. A partir de 1994, terroristas experientes, principalmente “afegãos” árabes, chegaram às Filipinas e instalaram células de operação em todo o país, especialmente nas grandes cidades. Entre os comandantes superiores estava Ramzi Ahmad Youssuf, que no início de 1993 supervisionou a explosão no WTC, NY. Youssuf esteve envolvido na tentativa de assassinato de Bill Clinton em visita a Manila, e do Papa João Paulo II, em 1995, em viagem às Filipinas. O plano, frustrado, foi assumido por Abu Sayyaf, para encobertar a Internacional Islamita. Youssuf plantou pessoalmente uma bomba no Boeing 747 das Linhas Aéreas Filipinas (PAL), em 11 Dez 1994, que ia de Cebu para Narita, Tóquio; a bomba explodiu sobre Okinawa, mas o avião não foi destruído; Abu Sayyaf também assumiu a responsabilidade da bomba.
Bibliografia consultada:
1. BODANSKY, Yossef. “BIN LADEN – O Homem que Declarou Guerra à América”. Prestígio Editorial (Ediouro), Rio de Janeiro e São Paulo, 2002 (2ª Edição).
2. JOHNSON, Paul. “Tempos Modernos – O mundo dos anos 20 aos 80”. Biblioteca do Exército Editora e Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1994 (Tradução de Gilda de Brito Mac-Dowell e Sérgio Maranhão da Matta).
3. LAFFIN, John. “The Arab Mind”. Londres, Cassel & Company Limited, 1978.
4. MAIER, Félix. “Arquivos ‘I’ – uma história da Intolerância”. Trabalho em andamento, já disponível em Usina de Letras (www.usinadeletras.com.br), link “Artigos”.
5. MAIER, Félix. “EGITO – Uma viagem ao berço de nossa civilização”. Editora Thesaurus, Brasília, 1995.
6. MOHADDESSIN, Mohammad. “Islamic Fundamentalism – The New World Threat”. Washington D.C., 1993.
(*) O autor é ensaísta e membro do Instituto Liberal de Brasília e viveu 2 anos no Cairo (1990-92). Publica regularmente em Usina de Letras (www.usinadeletras.com.br) e é articulista de Mídia Sem Máscara (www.midiasemmascara.org).