O grande poeta português Camões em conhecido soneto definiu o amor como sendo paradoxo, onde ele afirma “Amor é fogo que arde sem se ver;/É ferida que dói e não se sente;/É um contentamento descontente;/É dor que desatina sem doer;”. Uma bela antítese que bem retrata esse sentimento que todos os bons escritores buscam definir. Uma escritora contemporânea, da literatura sul-mato-grossense, carinhosamente conhecida como Poetisa do Coração, também procura definir o amor. Assim como Camões que apresenta um amor que ora é feliz e prazeroso ora é triste, traz sofrimentos, Dolores Guimarães em seu livro Laços de Amor nos brinda com essa experiência contrastante do sentimento amoroso.
O mundo na lírica de Camões era um mundo em desalinho, cheio de injustiças, que ante os olhos do poeta perpetuou-se como nessas redondilhas “Os bons vi sempre passar/no mundo graves tormentos,/e, para mais me espantar,/os maus vi sempre nadar /em mar de contentamentos.”. Para Dolores Guimarães um mundo só não basta, por isso ela criou , pelo menos, “Dois mundos”, onde “Nos devaneios róseos das fantasias,/Um novo mundo criei para mim./(...)/Onde amo e sou amada,/Numa troca mútua de ternuras,/Almas em êxtase/Corações em delírios.”. Um mundo maravilhoso, em que habita a poetisa, um refúgio como o dos antigos românticos, que brota dos sonhos, mas, como não podia deixar de ser, Dolores é moderna e chega para ela o momento de despertar-se, e nessas horas “...acordo-me/Para o mundo real,/Onde a felicidade é fugaz e passageira/E tenho medo...”, medo que dura pouco porque “Tenho cara de anjo;/Pareço-me frágil como uma flor;/Não te enganes comigo:/Quando me zango,/Sou um demônio, meu amor”.
Amor dual, amor que faz bem e, como mostra Camões, “Amor um mal que mata e não se vê;/Que dias há que na alma me tem posto/Um não sei quê, que nasce não sei onde,/Vem não sei como, e dói não sei por quê.”. A sensibilidade é própria dos poetas, o amor seu principal tema. Para Dolores Guimarães é também seu fim último, o amor alegre, o amor sofrimento, enfim o amor em todas as suas nuanças. “Meu amor, o que será de mim/ Sem seus carinhos?/Ir com você não posso;/Ficar sem você não consigo./(...)/Então por quê?/Tirar você de mim/Se você é a razão/Dos meus sorrisos/Dos meus sonhos/Do ar que respiro/Do coração que bate/Bate por você!”. Um coração generoso que pulsa para todos que a conhecem e a admiram com essa alma feminina que parece frágil, mas é forte, vive intensamente procurando um grande amor.
Na busca pela felicidade ela pergunta: “Ó felicidade,/Por que te escondes da gente?! – ela procura mas não a encontra plenamente e continua sua busca, “Onde está aquela menina bonita/De cabelos longos, com laços de fitas,/De olhos grandes, arisca?/(...)/Tão inocente, sem malícia,/Os pés descalços,/Vestida de chita?/(...)/Onde está?”.
Essa menina levada da infância de Dolores ainda hoje existe vivendo com a mulher sensual e inteligente; e ambas convivem nesse mundo paradoxo, nesses vários mundos que um poeta exprime. Seus leitores reconhecem a importância de seus poemas simples e cada vez mais se encantam com a mulher que é puro verso.
Poetisa do Coração de todos nós que não cansa de amar, ainda deixa claro que “O nosso amor não tem hora,/O tempo pode esperar;/Pense só aqui, agora;/Nestes nossos minutos/Que se tornaram horas;/Minutos de delírios incríveis/Que passamos juntos!/Esquecê-los, impossível;”.
Impossível é conhecer Dolores e não se encantar com o Fascínio de uma Deusa ou Escrava que nos prende em seus Laços de Amor. Dedico este acróstico, singelos versos, à Poetisa do Coração:
Dona das mais belas frases,
Olhar astuto, observador...
Lida as pessoas com muito carinho
Observando o mundo como ele é.
Recordando-se da infância saudosa
Esperando a volta da esperança perdida.
Sonhando com o amor, desiludida.
Guarda no peito o mais puro sentimento,
Uma fortaleza de raro cristal fino e frágil:
Imagem que espelha sua vida,
Mãe carinhosa e amiga.
A maior dádiva por mim recebida
Reflexos de anos de convivência
Amando-a muito incessantemente
Escrevo-lhe essas singelas frases
Simples, de um filho que engatinha a seus pés.