Há uns tempos a esta parte que tenho apanhado, bem em face de mim, com tudo aquilo que já fui, o que me leva a raciocinar se maugrado mais adiante irei também apanhar com aquilo que agora sou, até que os meus actos se diluam, praza que imperceptívelmente, em macio nevoeiro.
Não tenho dúvida alguma sobre a origem dos mal-entendidos que ora se me vão deparando. Se bem analisados, todos eles se enformam em ex-relacionamentos onde a minha activa quota parte aparece sempre com nitida evidência. Sou sempre eu que surjo do passado para afrontar-me, comigo mesmo, no presente.
Dores ou prazeres que vou sofrendo ou usufruindo trazem em catadupa o aviso antecipado das sensações que mais uma vez experimento. Sinceramente, uma e outros começam a perder o sentido, significado e sobretudo a impelirem-me para o desvio. A preocupação de evitar a mesma coisa vai-me tomando tenazmente a existência.
Em 1980, para o refrão duma cantiga que compus de parceria com Eduardo Jorge, escrevi então:
É sempre a mesma coisa, meu amor,
São sempre os mesmos gestos repetidos
E até nossos beijos sem fervor
Nos dizem que já estamos vencidos!
Contam-se portanto 22 anos desde que parti a perseguir-me. Até onde irei eu procurando-me? Eu... Tu, Ele, Nós, Vós, Eles, em todos os tempos e modos!