O maior instrumento de minha tortura
É o farol, pois nele sempre paro
Penso. Percebo o quanto contribui
Para a demanda vertiginosa
Dos que apenas cumprem suas tabelas
Neste segundo viro mar, são as lágrimas
Já não sou mais setenta, sou noventa e nove
Água não potável. Só a sede que não mato!
Lá está em cada deles que paro
Hora uma criança, noutra uma velha...
Noutra um molambo
Sujos. Fétidos. Famintos!
Esperança? Nem eu tenho
Será que eles pensam nisso?
É...! Olho para trás e o que vejo
Minha consciência pesada
Nutrindo-se de minhas desculpas...
Estão ali porque tem seus carmas...
Uma delas me olhou
Não sei dizer; se criança, se mulher
Se homem, se velha... Queria apenas uma moeda,...
Pensei logo: como dar uma moeda
Estou aqui neste sol a queimar-me!
Ela só quer uma moeda!
Não dei. Minha válvula de escape:
Vá trabalhar vagabundo(a)
O mais incrível é que não me perguntei
__Ei você porque não trabalha
Simplesmente a condenei
Sem um prévio julgamento
Absolvendo-me do cárcere de ter sido cúmplice
Para que o sistema assim a matasse como pessoa
Só então percebi que meus 40 foram apenas de covardia
Nada fiz, nada faço... E nada farei
Como alimento tenho minha consciência
Que um dia será meu juiz, aí perceberei
Que o tempo passou tanto para mim
Como todos que nesses 7000 anos nada fizeram
___Quando é que alguém fará um mundo melhor para os habitantes de farol?