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Ensaios-->ENSAIOS I - CULTURA POPULAR -- 23/06/2002 - 16:07 (Moura Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Cultura Popular e a Erudita na obra de Moura Lima

Aluysio Mendonça Sampaio



Tem sobejas razões o escritor Francisco Miguel de Moura ao afirmar que “Moura Lima (Jorge Lima de Moura), tocantinense descendente das famílias Alencar e Moura do Piauí, é um grande ficcionista dentre os que apareceram nos anos noventa do século XX” (In Jornal Meio – Norte, Teresina - PI/2001).
De fato, Moura Lima é autor de respeitável obra literária, inclusive do primeiro romance do Estado do Tocantins (Serra dos Pilões – Jagunços e Tropeiros), publicado em 1995. Até mesmo pela titulação de outros livros (Solidões do Araguaia, romance inédito; Veredão – Contos Regionais e Folclóricos (Prêmio Malba Tahan de literatura/RJ); O Caminho das Tropas, romance; Mucunã – Contos e Lendas do Sertão (Prêmio Profº Joaquim Norberto/RJ); Chão das Carabinas – Coronéis, Peões e Boiadas, romance; Negro d’Água – Mitos e Lendas do Tocantins, contos) ressalta-se o sentido fundamental de sua obra: o regionalismo.
É exatamente o lastro regionalista que caracteriza o presente livro, Negro d’Água – Mitos e Lendas do Tocantins, em que o autor reúne 24 contos retratando com fidelidade mitos, lendas e estórias do Tocantins. Mas o regionalismo de Moura Lima não consiste no mero registro de estórias, mitos e lendas. Nem, também, se restringe a pesquisa de língua. Nas páginas do livro em foco, encontramos o linguajar do povo, é verdade, mas também a linguagem normativa, das elites cultas. Realiza o autor, no texto deste livro, a união do erudito ao popular, conseguindo, com notável habilidade de escritor tarimbado, o equilíbrio e harmonia fundamentais na obra literária, justapondo, num mesmo texto, as duas culturas brasileiras, a popular e a erudita.
Em vários contos que compõem o livro, destaca-se a elegância da linguagem, parecendo-me lembrar o estilo de Euclides da Cunha, naquele ritmo quase épico do descrever paisagem e narrar acontecimentos. É a palavra sublimada, na harmonia de sons e idéias. Veja-se o início do conto-título – Negro d’Água:
- “Noite sertaneja de lua cheia, sob a imensidão silenciosa do rio mágico, das ribanceiras, das enseadas, dos lagos, das ipueiras, das matas ciliares, onde os caburés, os corujões piam, no ruflar do bater tristonho das asas, na solidão impenetrável dos ermos. A mãe-da-lua, lá nos cafundós dos boqueirões, garganteava a toada triste e penosa (...)”.
Mas, ao mesmo tempo, adota o ritmo do falar do povo do Tocantins, especialmente pelo registro de palavras empregadas no linguajar cotidiano. Apesar do exótico dos termos, em face da linguagem normativa, não resvala o autor para o dialetal, o que desajustaria ritmo e sintaxe do português.
Parece-me que essa junção entre a cultura popular e a erudita na obra de Moura Lima decorre de aspectos definidores de sua vida. Embora percorrendo o caminho das elites culturais, vivenciou costumes e hábitos do povo, ouvindo suas estórias, suas lendas e conhecendo seus mitos. Nada de trancar-se em torres de marfim, mas aproximando-se de sua gente e efetuando pesquisas relativas à cultura popular.
Com o material colhido em pesquisas e na vida cotidiana, o autor não apenas o registra, mas o faz introduzindo-o na narrativa dos contos. E isso com tal habilidade, que o leitor menos atento não percebe a solução estética por ele dada ao texto. Observe-se, a respeito, que, após a narração da lenda, do mito ou do fato folclórico, vezes várias ele termina destacando um final conclusivo, em frase solta, como se fosse um poeta buscando uma chave de ouro para um soneto ou moral apropriada de fábula. Vejam-se alguns exemplos:
Em O Poder das Orações do Padre Luso: “Era a luz vencendo as trevas!”.
Em Assombração: “A molecada logo o batizou de Chambari Gordo. E nunca mais recuperou os sentidos. Era a punição que veio do além, para cobrar-lhe os crimes praticados”.
Em O Iluminado: “A luminosidade da manhã penetrava o mais íntimo dos arvoredos, e um misto de mistério pairava pelos vales e pelas grotas do caminho”.
No conto-título do livro: “A lua derramava a sua luz prateada pelas praias e ribanceiras”.
Em Mãe do Ouro: “Uma chispa de fogo cruzou os horizontes: era a Mãe do Ouro abençoando os bons corações na terra!”.
Em A TOCAIA:- “... A terra era um braseiro. Do chão rodopiava pelo ar a areia fina e afogueada. A canícula tremulava nas lonjuras”.
Outro aspecto a assinalar-se: várias lendas e mitos registrados no livro não são estritamente tocantinenses, mas de dimensões nacionais, tais como: Saci, Lobisomem, Mula-Sem-Cabeça. Os demais são da região do Tocantins, dentro da amplidão amazônica.
O regionalismo deste livro de Moura Lima não é negação da cultura nacional, pela prevalência dos aspectos regionais. Mas, ao contrário, é afirmativa da unidade nacional da nossa cultura, dado que toda unidade é múltipla em seu conteúdo, pois o geral é constituído do particular. Importa salientar que a literatura de Moura Lima, na junção do erudito ao popular, do real ao mágico, é afirmativa dessa unidade e da elevada expressão cultural de seu autor.

Aluysio Mendonça Sampaio
Romancistas, ensaístas, crítico literário, Juiz togado do TRT da 2º Região – São Paulo, professor univ. jornalista, editor da revista de Literatura Brasileira, autor de várias obras jurídicas e literárias, destacando “Jorge Amado, O Romancista”, (ensaio) e “Brasil – Síntese da Evolução Social”. Com o livro “Os Anônimos”, recebeu o Prêmio Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras – (1975).


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