Sagrei todo tipo de violação
amputei braços e pernas da sociedade.
Sangrei sem pudor o moral
aquele sentimento ufanista da elite culta.
Serei indiciado nos mesmos anônimos tribunais
quem sabe seja o réu-testemunha
E em cada esquina deixarei sempre um vestígio
desonrei e violei tais códigos também
e pior transgredi com prazer
premeditei a mais pura sacanagem 'in loco'.
Não! não sou um bruxo
muito menos um mago
Sou podre e terás que saber aproveitar as minhas partes boas
[ se conseguires encontrar]
Não! Nunca direi que sim ou que não
Nunca admitirei sem tortura os meus lascivos crimes
E se torturado negarei a até a morte
tudo que outrora fora escrito e mesmo que conste nos autos
E continuarei desrespeitando o código dos bons mocinhos.
Sou réu confesso dos mais diversos crimes de amor
mas me reservarei do direito de negar.
Ou se algum defensor público alegar que tenho bons antecedentes e residência fixa e poderia ser beneficiado pelo 'habeas corpus'. Rejeitarei!
Os meus desejos sempre foram roubados
assim como o corpo da vítima também o foi.
No meu aparente recato mascara a mais sórdida criatura
que compactua com a perversão
que maquino no cerne de minha alma de poeta...
Nunca me senti obrigado a nada
Nunca concordei de pronto
Nunca deixei a porta aberta de propósito,
e muito menos a fechei por inteiro.
Tenho várias chaves e muitos segredos alheios...
Minha mesquinhez não me tormenta,
pois sei ser o seu algoz sempre.
Sou fraco da memória e das idéias
[talvez?]
Confesso que nunca serei castrado mental e fisicamente
mas, também, jamais, serei curado do desejo de desejar
[a clandestinidade]
e aceito a ilegalidade de meu julgamento ou do teu
[se algum promotor ousar pedir a condenação]
Não! não amei e se amo não digo,
e se digo que não amo. Prefiro amar dizendo ou negando.
Sou a negação em corpo e baixo-ventre
Não cantei as mulheres que na vida pensei cantar.
Acho que tomei a liberdade de penetrar no seu íntimo apenas com a [minha canção]
[mesmo quando muda]
Reconheço.Não nego!
Prometo não aceitar
com servil desobediência
minha final sentença
Apelo para o mau senso
de cada jurado ausente
para não ter nenhuma pena de mim e
muito menos
que me conceda clemência.
já que não sou inocente
muito menos culpado
[não admito]
sou este cafajeste
nada arrependido
Sem pedir licença vou
arder nas fogueiras
desta paixão proibida
e retirar a folha em branco hoje escrita
Subverto a idéia, a autora e,
por fim, a obra para cometer mais delitos
A vida deste homem vadio é
auto de fé e ato de teimosia
portanto também dispenso defensoria
Lavrem o veredicto final
desta carnal desdeclaração...
No tribunal, como réu não fala.
Então, mudo surdo e cego
continuarei ativamente violando a regras e normas que alguém a fez para si mesmo e quis impor ao mundo