A Coerência do Serra
(por Domingos Oliveira Medeiros)
No atual quadro político, o que menos interessa são os termos das propostas apresentadas pelo governo. A negociação política, ou a troca de interesses, acontece fora do Congresso, antes mesmo de os políticos inteirar-se do seu conteúdo.
O pior de tudo isso é que, geralmente, bons projetos e boas ações do antecessor, são abandonados, e a improvisação passa a ser o processo adotado, no pressuposto de que se deve imprimir a face do novo governo, tal qual os animais selvagens, que urinam no chão, demarcando seu território”, com vistas à perpetuação no poder.
Tem razão, portanto, o ex-senador José Serra. Está faltando, neste governo, coerência política, harmonia entre idéias e projetos, além de competência administrativa. Para o tucano, ‘O governo consumiu grande parte de suas energias, do Congresso, dos prefeitos e dos governadores com uma reforma tributária cujo significado ignorava, do mesmo modo que não sabia que teses deveria apresentar e defender”. Que o programa Fome Zero, carro-chefe do atual governo, não passa de um grande sucesso “de marketing”, ironizou.
Com efeito, neste governo, não há diretrizes e políticas bem definidas. Falta planejamento articulado. Os diversos órgãos da Administração não interagem entre si. Não há visão do conjunto. Tem-se a impressão de que se governa a partir da experimentação e do improviso. As alternativas apresentadas são sempre de última hora e genéricas.
Por conta do desentrosamento, apela-se para a troca de farpas entre os Poderes. O apego às metáforas ajuda e empurrar as soluções urgentes para o futuro. O bolero da indecisão, com os “dois pra lá e dois pra cá”, dá a medida da paralisia governamental. E a festa continua sem novidades. Que continuam esperando pela fatia do bolo; que parou de crescer.
Finalmente, o namoro indiscreto - e cheio de apertões e beijos inescrupulosos, entre o Poder Executivo e o Legislativo -, acaba dificultando, impedindo ou retardando as verdadeiras reformas de que todos necessitamos, de modo a quebrar a monotonia, a inapetência, a arrogância e a relutância do governo em colocar, de vez, o Brasil, no futuro tantas vezes anunciado no passado.