A Lucidez de Maria
(por Domingos Oliveira Medeiros)
A escritora Maria Lucia Victor Barbosa tem razão. Há, no momento, pelo menos, duas classes de petistas: os que estão no poder, recebendo afagos, que alimentam a própria vaidade, amparados pelas benesses do poderoso Estado, capaz de conceder-lhes todos os privilégios desejados, e a outra classe: a dos que ficaram órfãos do PT.
A classe de órfãos do partido, são, no dizer da escritora, “os militantes que povoam a classe média. Foram eles que sempre sustentaram as eleições do partido”. Entre eles, naturalmente, os servidores públicos que, agora, com apenas cinco meses de governo, já ensaiam vaias para a liderança governista, conforme foi o caso do José Dirceu, que tentava justificar o injustificável, e o próprio Lula, que deixou de lado, por alguns segundos, o sorriso marqueteiro que trás em seu rosto, como se o país estivesse vivendo em graças.
E a classe de órfãos não pára por aí. Conforme bem listou a escritora Maria Lúcia: “... entre suas várias categorias o baixo clero da intelectualidade universitária, que com medo corre atrás das aposentadorias; os chamados igrejeiros, que atuando inclusive por intermédio da Pastoral da Terra, ...devem ser sentir atônitos diante das críticas que a CNBB desferiu contra o governo que ajudaram a eleger”.
“Esses pequenos burgueses, como diria Marx, sempre forneceram fielmente os 30% dos votos nas três eleições que Lula perdeu. Mas agora estão órfãos porque seu operário-padrão converteu-se na mãe dos banqueiros e no pai dos especuladores”.
E a escritora vai um pouco mais adiante, quando levanta a hipótese de que os pobres e eternos órfãos serão lembrados, apenas, nas próximas eleições. Certamente, na ocasião em que o Programa Fome Zero estiver com os caminhões repletos de cestas básicas. Bem próximo das eleições para prefeitos, em 2004.
“Observe-se que petistas autênticos, daqueles tipo Heloísa Helena e Babá, tinham ficado órfãos de mãe quando faleceu a União soviética. Agora estão órfãos de pai, pois o PT que já vinha agonizando de eleição em eleição morreu para dar lugar ao novo PT, de terno Armani e colarinho branco”.
“Sem medo de ser feliz, o presidente discursa, pede paciência (menos para a votação das reformas), critica seu próprio governo e viaja. Enquanto isso, nos jornais e TVs que se tornaram órgãos oficiais, são divulgados elogios ao grande líder e estatísticas favoráveis para manter a esperança.”
E conclui, a escritora, de forma bem transparente, que os petistas, de fato, estão de luto. Luto porque amansou. Passou para o outro lado. De forma servil , de um lado, e arrogante, de outro. Fez uma plástica sem sucesso. Está irreconhecível. Já não admite, sequer, opiniões diferentes da cúpula do partido.
E nem se importa com a CPI que iria apurar a remessa, ilegal e imoral, de cerca de US$ 30 bilhões para o exterior, por meio do Banestado. O maior escândalo deste país. E que poderia ser, muito provavelmente, a primeira e única chance de passar este país à limpo, prendendo figurões e inaugurando uma nova era de prosperidade e de política com P maiúsculo.