VIVER NÃO É FÁCIL
Roberto Corrêa
Não estou me referindo à vida dos milhões de pobres e miseráveis com todas as carências. Esse é o estágio mais triste da civilização humana com o qual devem se preocupar os dirigentes da sociedade e, nós outros, melhor aquinhoados, devemos colaborar com tudo que estiver ao nosso alcance para minimizar o problema. Refiro-me ás pessoas que já superaram aquele estágio ou sempre viveram com o conforto - embora mínimo (não se esquecer que o Brasil é país emergente, onde a maioria das pessoas encontra dificuldades económicas)- que o mundo moderno oferece. Outros tipos de dificuldades parecem aumentar dia a dia e todos os aceitam, pelo simples comodismo da lei do menor esforço. Sejamos mais claros. Até há pouco , quem se dirigisse a qualquer prédio, poderia nele ingressar tranquilamente. Hoje, nos prédios das grandes cidades, são exigidos documentos de identidade, e nos elevadores e corredores se encontram instaladas càmaras de vídeo, filmando toda a movimentação. Estamos sendo observados a todo momento. E´ o fim da privacidade.
Quando menino, notava nas salas de aula do meu saudoso Ginásio do Carmo, em S. Paulo, quadro com as palavras Deus me vê , que nos alertava para que o nosso procedimento sempre fosse bom. Com o tempo desapareceram tais quadros e os seus dizeres foram remetidos para os porões da memória. Assim passamos a constatar que ninguém tomava mais conhecimento das nossas ações e pensamentos, exceto a consciência. Entidade psicológica , ínsita em todos, a consciência precisa ser educada para que o indivíduo procure seguir sempre os seus retos ditames. Cada um cuida da sua vida e dá os passos que quer, porém, deve respeitar as leis para o bom relacionamento social. Mas, nos tempos atuais, em face das barbaridades e descaminhos de parte dos seus membros, a sociedade está sendo obrigada a criar normas protetoras que, infelizmente, podem implicar na devassa da intimidade. Agora não é mais Deus , mas é a sociedade que nos vê.
Com isso vai desaparecendo o romantismo, a alegria, a espontaneidade das atitudes, pois precisamos nos acautelar, indagando se não estamos sendo observados ou inclusive, sendo objetos de algum grampo telefónico... Era preciso que o "Deus me vê", continuasse a ser lembrado constantemente, pois isso é uma verdade incontestável, segundo os ensinamentos evangélicos. Em última análise, porém, esse "a sociedade me vê" precisa ser expurgado da nossa convivência porque é uma diminuição da própria liberdade. Estamos nos afastando de Deus a grandes passos, embora muitos otimistas, encantados com o constante progresso tecnológico, considerem que há exagero em tais afirmações, pois acreditam que há apenas modernização, adaptação aos "costumes" do nosso tempo... O que estamos presenciando por aí é sumamente risível, eis que todos querem solucionar todos os problemas, mas de jeito nenhum entendem que eles residam no pecado. Que pecado ? Desta vez vou deixar para cada um descobrir qual o pecado que acha mais importante e evidente, o que representará variedade de respostas, pela imensa diversidade de opiniões. Nota-se, portanto, que viver não é fácil , pois aquela vida maravilhosa com a qual sempre sonhamos é um longínquo ponto no horizonte...
