Hoje posso responder muito bem pelo fato de não ter parido. Hoje eu sei que não estou, nunca estive preparada... não quis deixar a herança derradeira das minhas falhas, do meu segredo, das minhas tantas vezes que tentei, sem conseguir. Não quis plantar as sementes de aventura, que por ora e sempre, atropelam minha maneira de ser. Nunca fui estável, nunca quis rédeas, nem conceitos a seguir. Há em mim nada que vingue, porque até minha intenção de amor é uma fantasia. Sou escura, obscura, indecente. Não saberia me portar diante da cria. Aliás, pouco sei das concepções de família. Sou pouco acessível, sou uma mera transformação do que se passa e nada tenho a ver com alegria. Esta máscara é apenas um jeito de conviver socialmente, por que se faz necessário, porque é preciso trabalhar, sair, se vestir, comer, andar, dormir... não tenho medo de assumir certos momentos, sou do acaso, da espera, da insensatez. Sou motivada apenas pela intenção, que muitas vezes são falsas, como podem ser todas estas palavras. Quem sabe tudo isso, por uma mera situação, não seja a verdade de ter que assumir tantos nãos. Quem sabe o avesso de toda essa história, seja uma Mulher pacata, submissa, do lar, parideira, que apenas não quis procriar sem paixão...