Rendo-me a ti, ó musa oculta,
que no pensar poético frige
a minha alma de poeta
que finge sentir sem sentir
sentindo o Teu sentir que é belo...
No retórico devaneio dispo-me
e dispo-vos, ó musas fêmeas
que atormentam o híbrido ser
que habita a casca oca do ser mortal...
No dizer desdizendo;
no niilismo metafórico;
na negação da razão;
no devanear da emoção;
no iludir e enganar;
no travestir do pensar,
tu que pensas rimar,
na falta da sonoridade,
na escansão covarde
arde idéia e palavras vãs...
Que impere o ócio
do vício nobre
do pobre pensar sectário
do poeta de armário
armado da razão
finge nos grifos da emoção
extravasar tua falsa solidão
quando faltam-lhe palavras,
quiçá idéias no versos ricos
em pobres rimas
sem sabor nem trilha.
Pintam-se quadros
preenchem-se espaços
na ànsia do edificar
a perene arte do pensar
neutraliza a pretensa liberdade
da interdiscursividade
que nem as entrelinhas lúdicas
conseguem se originar...
Neutras crias desconexas
banhadas em águas turvas
contaminadas pela tradição
jamais imortalizará o teu criador
que na cova fria do progresso
passará em negras trevas
no camuflar bisonho do teu inócuo pensar...
