- É verdade, deixa eu ver? Acho que a última vez foi aqui mesmo. Você estava indo para Fortaleza e eu para Brasília.
- É mesmo, você está sempre indo para Brasília.
- É hoje, também, ainda mais agora.
- Éh, imagino, com as coisas como estão, acho que devias ficar lá uns tempos.
- É, tenho pensado nisso, mas não posso deixar tudo aqui.
- E aí? Como estão as coisas?
- Você sabe, com a troca de governo, nunca se sabe. Você sabe como são as coisas.
- É eu sei, também já tive meu tempo de ir a Brasília toda semana. Você lembra, primeiro escalão segundo escalão. Não deu em nada, a gente sabe como é. Mas tem que estar presente, se não, você sabe.
- Eu sei. Fica difícil, muito difícil. E agora então, ninguém sabe o que vai dar, e quando fica assim, você sabe. Nunca se sabe o que vai dar. Tão dizendo por aí que vai ser uma confusão, mas este povo fala demais. Você sabe.
- E em casa, tudo bem?
- Tudo bem, mas você sabe, filho adolescente sempre dá preocupação. Escola, vestibular, você sabe. Namorada. Só pensa na namorada. Você sabe.
- É, eu sei.
- Você soube do Vieira? Você entendeu o que aconteceu?
- Soube, mas quem entende? Uma pena mesmo. Mas daquele jeito, não sei. Só podia dar naquilo, você sabe.
- É, eu sei. Eu tinha falado pra Tereza. Uma semana depois. Páh!, aconteceu, fiquei até chateado, parece que a gente tá desejando. Ma não é, é que daquele jeito não podia dar em outra. Uma pena mesmo
- É mesmo, você tem razão. Não dá para entender.
- Deixa eu ir que meu vóo já está saindo, e nestes dias, se a gente não está esperto, você sabe.
- Vai lá. Bom te ver. Só assim a gente conversa um pouco. Lembranças em casa.