A cintura, todos sabem, é aquela linha que separa o corpo em dois. Na parte de cima o coração o cérebro, braços. Na outra, as chamadas partes baixas, as pernas, pés. Esta linha a que me refiro é mais uma linha imaginária a separar o corpo humano. Digo assim que é imaginária porque a maioria já não a possui de forma clara, mercê de barriguinhas e barrigões.
Há quem queira explicar nosso sub-desenvolvimento com a teoria de que estaríamos nas partes baixas da terra, longe do cérebro. Eu acho isto uma bobagem.
De qualquer forma, não raro cabe ao cinto fazer o papel de cintura, equador humano, sinalizando sua posição de modo a lembrar a separação. O cinto contudo, não foi concebido com esta finalidade meramente simbólica, de representação. Vale aqui fazer um reparo histórico sobre o verdadeiro papel do cinto. Sua verdadeira razão de ser é geralmente esquecida, o que constitui grande injustiça.
No início pensava-se que serviam para segurar as calças. Contudo, com a invenção dos suspensórios, ficou claro que segurar calças não era o verdadeiro papel da nobre tira que circundava as cinturas. O cinto tinha e ainda tem um papel muito mais significativo na história da humanidade.
A verdadeira função do cinto é a de suportar objetos os mais variados. Tanto quanto os filmes de Guilherme Tell podem mostrar o cinto originalmente abrigava punhais, depois espadas. Mais que isto, voltando ao bravo David, consta que ao iniciar sua batalha com o grande Golias, sacou da cintura , leia-se cinto, sua brava arma que ao que consta, seria uma singela funda, ou bodoque ou que outro nome tenha. Instrumentos de luta e autopreservação, sempre encontraram suporte e acomodação no cinto, facilitando o uso, permitindo seu acionamento imediato. Mais tarde, graças a John Waine, os cintos passaram a abrigar armas de fogo, prontas para o embate a qualquer momento. Para salvar a vida, a honra ou o bolso.
Depois os operários penduraram martelos, chaves de fenda e outros apetrechos absolutamente sem graça. Objetos sem emoção, embora permitissem a sobrevivência num mundo mais civilizado, um mundo de trabalho. A vida evoluiu, ficou mais sofisticada e o cinto passou a abrigar objetos mais refinados, mais de acordo com a vida moderna. Primeiro foram os estojos para óculos, facilitando a vida de quem os precisa usar a todo instante. Isto antes da grande invenção dos cordões, hoje muito difundidos.
Depois vieram as calculadoras eletrónicas. Não eram todos os que ostentavam a engenhoca pendurada nos cintos, mas muitos o fizeram na esperança do conforto e, sobretudo, na vontade de mostrar o artefato que portavam, mesmo que não soubessem usar. Mesmo que não precisassem. Hoje em dia o cinto já não carrega armas, óculos ou calculadoras. Agora são os celulares.
Pergunta-se o que virá depois. Haverá algo novo a carregar, ou o cinto voltará a marcar a linha da cintura? A sorte, ou consolo, é que sempre haverá quem carregue melancias em chaveiros.