Tenho escutado ou lido, uma historieta linda, bastante poética que merece ser mais divulgada, mesmo que não seja ipsis litteris. Trata-se de dois enfermos em quarto de hospital que, durante o tratamento, talvez um pouco longo, vez ou outra conversavam, sendo que o enfermo deitado na cama ao lado da janela volta e meia descrevia o que visualisava do lado de fora. Descrevia um belo jardim onde crianças brincavam pela manhã e a tarde todos passavam apressados para o trabalho, salvo ao entardecer que namorados - aproveitando o romàntico lugar trocavam juras de amor (devia ser nos velhos tempos). Dialogava tanto esse assunto com o seu companheiro de quarto que, ao deixar o hospital (morto ou curado) , o remanescente pediu encarecidamente que desejava ocupar a cama ao lado da janela. Aí a sua surpresa foi estarrecedora: do lado de fora existia apenas um muro, sem qualquer paisagem.
Nota-se , no curioso relato, a força da imaginação, que pode transformar lugares áridos e tristes em ambientes alegres e convidativos. Por incrível que pareça, tentei imitar a fantasia da linda história . Gostaria de passar uns dias frente ao mar, porém, por razões diversas tal não me é permitido no momento. Mas , a força da imaginação é poderosa. Todos esses dias ensolarados tenho aberto a janela do meu quarto pela manhã e recebendo a suave brisa matinal, imagino me encontrar em tranquila e deliciosa praia , o mar ao longe - todo azul ou verde- com pequenas embarcações distantes... Com o olhar vagueio pelas cercanias, ouço pássaros cantando, esvoaçando e o calor que aumenta aos poucos, convida-me para um mergulho em tépidas águas...
Passo a seguir, abandonando esses pensamentos amenos e fantasiosos, para a rotina das atividades diárias e noto que haveria muita coisa interessante para se fazer, mas os compromissos da vida nos impedem. Daí , quem sabe, nos lamuriamos por não podermos fazer só coisas que nos apeteceriam. Precisamos, porém, reagir a tais pensamentos epicuristas, procurando encarar com otimismo todas as atividades, principalmente as obrigatórias. Naturalmente, tudo dependerá das obrigações de cada um e haverá aquela variação conforme a idade, os encargos etc. Se somos pessoas de fé, apegadas aos ensinamentos morais retirados dos postulados cristãos, é evidente que a tarefa não será tão difícil, pois a oração impulsiona as disposições anímicas. Se o contrário acontece, então, meu caro, os dissabores serão marcantes e não há nada para aconselhar. A linda história contada no início, talvez sirva de estímulo para procurarmos as boas coisas da vida, muitas vezes consubstanciadas em coisas simples, como um jardim, flores, pássaros e pessoas que conversam agradavelmente. Não existindo o mal estar da doença, o ser humano, na busca da felicidade, a encontrará no recesso de sua mente, nem que seja através da fantasia ou de efêmeros devaneios.