Cheguei à escola por volta das 8:00h, apressava-me pois já estava atrasada meia hora (e que feio é chegar atrasado em qualquer compromisso). Mas, para minha surpresa, também a professora, e as zeladoras, e a supervisora, e mesmo a diretora, e o conteúdo, e os alunos... estavam todos atrasados. Estes últimos, em média, uns dois ou três anos, no mínimo. Nem sequer dominavam as primeiras letras, embora estivesse já na segunda série, desperdiçando assim suas últimas chances.
As professoras, sem transporte, sem o vale, sem o tempo, sem a vontade, sem o conhecimento, atrasadas que estavam pela letargia dos nossos representantes, diante da situação de esquecimento da educação pública brasileira, ainda assim teimavam em deixar na escola e nas crianças a marca do atraso tecnológico, cultural e científico de que foram vítimas.
Assustei-me com o que presenciei. Era o meu primeiro dia de estágio, já nos últimos períodos do Curso de Pedagogia da Faculdade - e nem havia me dado conta de que também eu estava historicamente atrasada. Tudo que eu esperava vivo, intenso, rico de experiências NOVAS, parecia morto, inerte, atrasado...
De repente, todo o resto a minha volta também morreu, como que num último sopro de tristeza pela degradação e morte do magistério brasileiro. Quando olhei de longe, sentado à porta da sala de aula, um menino; já um rapaz, na verdade, de uns 13 ou 14 anos de idade aproximadamente, olhos perdidos, um caderno, um lápis e uma borracha nas mãos. Lições? Algumas... Estava com os pontos atrasados. Cheguei perto, na tentativa de descobrir as razões para aquela parada coletiva.
-Ei, menino! Você é aluno dessa turma?
-Sou sim.
-Quantos anos você tem?
-15 anos.
-E está na segunda série?
-É que estava parado...
-O que aconteceu com a professora?
-Não vem agora!
-E a diretora, você sabe onde está?
-Só vem pela tarde.
-E os alunos, as zeladoras?
-Ninguém vem agora não.
-Posso saber o porquê?
-É que hoje é dia de planejamento na escola.
-Ah, então o que você tá fazendo aqui?
-Tó esperando a professora pra fazer uma prova de recuperação.
-Tirou nota baixa?
-Não. Faltei os primeiros meses. A professora vai passar uns trabalhos valendo as provas que eu perdi, pra não ficar sem nota. Sabe como é, né? Não quero ficar atrasado...
E o país que espere!