Assim que abri a janela do quarto, escutei o bem-te-vi . Que mensagem fascinante! Que estímulo à vida! Pensei até em rascunhar uma poesia, mas notei que havia programado escrever a minha crónica semanal, já adiada anteriormente. Assim achei melhor seguir o planejamento, me servindo do bem-te-vi para buscar a inspiração. E me senti feliz com a resolução, pois as minhas mensagens de certa forma são repetitivas, o que pode enfastiar o escritor e o leitor. Como propugno, geralmente, mudanças de atitudes e de hábitos para se conseguir uma vida melhor, acontece que posso cair em frustração, eis que o desiderato só pode ocorrer, via de regra, a médio ou longo prazo.
O bem-te-vi está emitindo o seu canto frequente e diariamente para nos lembrar que integramos o maravilhoso universo com suas belezas indescritíveis, ordem perfeita, harmonia num viver espetacular, cujo apogeu é o ingresso na eternidade feliz, onde todos os mistérios serão desvendados em amplexo de exuberante Amor! Está nos estimulando a fazer frutificar todos os talentos que nos foram confiados para que valorizemos a nossa origem divina e contribuamos de alguma forma, por insignificante que seja, no projeto da Criação. O vento sopra, as estrelas brilham, a lua clareia, o sol dardeja, o oceano ruge, o bem-te-vi canta e nós fazemos alguma coisa para justificar nossa presença no mundo. Mas, se deixarmos o nosso pequeno mundo, com a paz que nele pretendemos estabelecer, vamos encontrar por aí afora, situações de sofrimentos, tenebrosas e cheias de pavor. Como adentrar nesse outro mundo ou dele participar, sem sofrer consequências malévolas ? Aí está a sabedoria de vida que é a riqueza mais importante a ser conseguida.
Parei atendendo chamado para o almoço e só volto a escrever após as vinte e uma horas. Tudo é silêncio, a noite é fria, nos defrontamos com a solidão. O bem-te-vi já se recolheu há muito e para preencher o vazio, só nos resta apelar para a televisão com a esfarrapada desculpa que precisamos nos distrair, usufruir alguns momentos de lazer. Mas esse aparelhinho amado e odiado ao mesmo tempo, com uma multidão de coisas boas e ruins, também cansa. Ficamos insatisfeitos. Vamos partir para outros caminhos. O mundo da cibernética. Notamos, porém, que já estamos fatigados e que não vale a pena navegar pela internet sem objetivos definidos. O melhor será parar e viver aquela outra parte da vida em que nos desligamos de tudo e repousamos na mão de Deus. Amanhã, mais uma vez, procuraremos escutar o canto do bem-te-vi e, recuperados com o salutar descanso, retomar o rítmo de vida habitual. Que esse pássaro encantador nos motive todos os dias a dar loas à vida e ao Criador, ensejando-nos atividades profícuas, merecedoras de encómios. Que não nos falte motivação, entusiasmo, perseverança, sobejando-nos paciência para enfrentar todas as dificuldades .
