PASSE O INVERNO NO INFERNO
O turismo é uma coisa que vem se desenvolvendo muito hoje. Cada cidadezinha puxa a brasa para sua picanha. Por isso, se vê muito festival da cachaça, do angu, do ingá-macaco e por aí vai. Já ouvi falar até do festival do bicho-da-goiaba. Imaginem que essa onda chegou até no quinto dos infernos, quero dizer, no próprio inferno. Um belo dia, encontraram-se Lúcifer e Mefistófeles:
- Olha, Fifi, a situação financeira por aqui está um pandemónio.
- Concordo contigo, Lu, ainda ontem tivemos que fazer fogo esfregando dois pauzinhos. Assim não há imortal que aguente.
Foi aí que tiveram idéia de apelar para o turismo a fim de encher os cofres do inferno. Sabe como é, turista sempre deixa um dinheirinho. Aí veio o problema: qual seria o produto típico da região? Só podia ser o calor, calor infernal. Claro que algumas cidades também possuem esse produto, com a vantagem de uma chuvinha de vez em quando. Tá certo, mas é no inverno que todos procuram um calorzinho, e isto só eles podiam oferecer. Estava criado o FEINTERFERNO (Festival Internacional do Inferno). Já tinham até o slogan: "Passe o inverno no inferno", com fundo musical de Roberto Carlos: "...e que tudo o mais vá pro inferno". Já pensou? O caro leitor bem aquecido, diante de um caldeirão de fogo, preparando seu espetinho (vez em quando, por engano, levando uma espetada de algum capetinha), enquanto aqui em baixo o pessoal morre congelado? Tudo isso com desconto para os mais pecadores.
- E as atrações? - perguntava Mefisto. Que tal contratar a Feiticeira?
- Que nada, bobinho, melhor trazer as bruxas de Salem, é mais gente pelo mesmo preço. Depois, a Feiticeira é capaz de aumentar demais a temperatura do pessoal.
Os turistas poderiam pular fogueira, comprar lembrancinhas, como chifrinhos, pés de bode, essência de enxofre, etc. Ainda levavam de brinde um guia atualizado do inferno, com dedicatória do poeta Dante. Eu acho um excelente pacote: existem lugares piores.
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