É difícil entender como funcionam as relações sociais. As pessoas se gostam, desgostam, e vivem em constantes mutações, principalmente os jovens. É uma loucura essa história de simpatizar e antipatizar.
Às vezes, algum amigo magoa a gente de tal forma que juramos não olhar nunca mais na cara dessa pessoa. E assim a vida continua, sem esse amigo, sem as antigas conversas que tínhamos com ele. Até que um dia o orgulho é esquecido e resolvemos dar o braço a torcer.
Quando pequena, costumava brigar com minha melhor amiga umas duas vezes por ano. E passávamos meses sem conversar. Depois fazíamos as pazes e nem nos lembrávamos o motivo do desentendimento.
Entre irmãos, a briga pode ser feia o quanto for, que o sangue fala mais alto. Alguns ficam sem se falar, sem olhar um na cara do outro, sem se abraçar e sem admitir que se gostam. O desgosto dos pais é ver os filhos desse jeito. Até que um dia a raiva, o rancor ou seja lá o que for não passa de puro capricho.
E quando a briga é entre primos, a família toda entra no assunto. Tio, tia, avó, irmão, todos querem encontrar uma solução. Quando criança, é mais fácil resolver. Basta os dois ficarem alguns minutos juntos sozinhos que já fazem as pazes. Foi isso que aconteceu quando eu tinha uns oito anos. Teimosa, encasquetei que a boneca na casa da minha avó era minha. Só que não era. Nem minha nem da minha prima. E brigamos até não nos falarmos mais.
No mesmo dia, nossas mães nos colocaram para viajar na caçamba de uma caminhonete e, no meio do caminho, começou a chover. A única lona que tinha por perto teve de ser dividida entre nós duas. Nos encolhíamos tanto, de frio, que a única solução para nos esquentarmos foi um abraço. E pronto. As pazes estavam feitas.
A partir desse dia, passei a acreditar em um velho ditado que dizia que quando a gente quer muito alguma coisa, a natureza sempre conspira para que isso aconteça. No auge da minha infància, a última coisa que eu queria era brigar com minha prima. E hoje, no auge da minha juventude, acredito que as coisas são como devem ser, e as pessoas são como querem ser.
Com as grandes paixões acontece a mesma coisa. Brigamos, pelejamos, emburramos, mas sempre esquecemos as mágoas. É uma forma de admitir que o mundo não é perfeito, as pessoas não são perfeitas e temos que aceitar as diferenças para aprendermos como funcionam as relações sociais.