De vez em quando percorremos o passado.Com os olhos abertos ou fechados, sintonizamos, em nossa memória, passagens belíssimas que vivêramos (belíssimas porque se foram e porque se encontram arquivadas... irradiam, como quê, suave fundo musical )... São imateriais; não as podemos tocar ou segurar... Com a nossa racionalidade queremos transformá-las em momento presente, mas é impossível. Então quereríamos, ao menos, contactar as pessoas, os objetos ou as cenas que integraram esse contexto inenarrável.
As pessoas , devido ao tempo decorrido, geralmente não fazem mais parte deste mundo. Uma ou outra talvez ainda exista. Seria viável um contacto para relembrar aqueles agradáveis ou belíssimos momentos ? E se se encontrasse essa pessoa e ela de nada se lembrasse ou apenas dissesse :"foi um belo tempo". Então passaríamos a procurar objetos - escritos da época ou fotos - e constataríamos uma realidade diferente: estávamos ou éramos magros, jovens, sonhadores...
Naquele tempo se sonhava. O jovem sonhava em seguir uma carreira, constituir um lar e ser muito feliz (mais do que era). A jovem ambicionava ser professora, quem sabe alcançar a Universidade, mas sobretudo encontrar o príncipe encantado de sua vida. Nos tempos atuais parece não ser bem assim . Tenho a impressão que os jovens, hoje, se encontram indefinidos e o amor - aquela maravilhosa força impulsionadora que faz o homem abandonar os pais para se unir à sua mulher - se encontra enfraquecido, ausente ou encoberto.
Restou-nos, pois, o arquivo da memória. E ele não podemos registrá-lo num filme , tampouco na tela do computador. Acompanhar-nos-á sempre e talvez funcione em dias nublados ou chuvosos ou quando cansados ou entediados da rotina diária religarmos o botão da memória.Bondade e beleza. Se esses dois valores morais fossem perseguidos com mais insistência e mais difundidos, especialmente pela mídia eletrónica -ao invés da nojenta criminalidade que esparge pestilência por todos os cantos- a vida, sem dúvida, seria mais bela e consultar e rever o nosso arquivo morto constituiria sempre um imenso prazer.