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Cronicas-->Nas ruas da favela -- 13/03/2002 - 21:48 (Marcel Agarie) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Autor: Marcel Agarie
Data: 13/03/02

Crónica: "Nas ruas da favela"

"Nunca fui de luxo". Assim dizia um amigo meu, para mostrar que não tinha frescuras.

Às vezes fico pensando. Para que ser rico?? Sou pobre mas sou limpinho. Faço parte da maioria da população, o povão, moro na Zona Leste, ouço samba (somente os de raízes dos morros carioca) e sou corinthiano. Mais pobre que isso, acho que não dá. Graças à Deus não passo fome, nem frio, porém trabalho duro para manter as minhas despesas.
Sou feliz assim. Talvez se eu fosse rico e não convivesse com amigos pobres e humildes que tenho, eu não seria a pessoa que sou. Que fique bem claro, não tenho orgulho de ser pobre, eu tenho orgulho de ser um cidadão digno e honesto, e mesmo se um dia eu estiver realmente mal financeiramente, não roubarei, pedirei.
Deixando a dignidade de lado (no bom sentido), quero mostrar o lado bom de ser pobre.
Existe uma favela próximo de casa, onde tenho muitos amigos. Muitas pessoas têm a mania de generalizar e dizer que na favela só tem bandidos e traficantes. Eu, que conheço as pessoas que vivem lá dentro, digo que existem bandidos, traficantes e principalmente muita gente honesta e trabalhadora, que infelizmente estão lá devido aos problemas sociais que o nosso país atualmente enfrenta. Lembre-se que os traficantes, os sequestradores e os bandidos profissionais não vivem em favelas. Vocês viram o sítio onde capturaram o sequestrador Andinho, como a maior prova disso.
Carinhosamente, as pessoas que vivem lá, a chamam de "vila". Na "vila", participei de sambas inesquecíveis, reuniões onde todo o povão - os amigos - se reuniam para assar uma carne, beber bastante cerveja (eu bebia pinga - velho barreiro de preferência - pois não gosto de cerveja) e ficávamos a madrugada inteira confraternizando, cantando versos improvisados na hora e sambas históricos de compositores consagrados.
Campeonatos de futebol eram de "lei". Sempre que possível as pessoas se reuniam, montavam os seus times e jogavam entre si. Algumas discussões aconteciam, mas no final virava tudo festa. Era motivo para mais pinga e cerveja tomados nos famosos copos de requeijão.
Amigos por lá, tenho muitos. Lá eu conheci pessoas inacreditáveis e que me ensinaram muitas lições para a minha vida. Se você pedir um prato de comida na casa de uma pessoa rica - sem generalizar - ela com certeza, nem te atenderá e provavelmente virá um porteiro, um mordomo ou alguma empregada para te atender e dizer que não tem nada. Na "vila" não é assim. O pouco que eles têm, dividem com as outras pessoas da comunidade. No fundo, é algo bastante legal, pois são pessoas que lutam bastante para viver e precisam desta união e solidariedade entre eles.
Corinthiano, maloqueiro e sofredor. Era da "vila" que vinha o maior número de torcedores corinthianos que se encontravam na praça perto de casa. Êta tempo bom! Todo dia de jogo era aquela festa. Umas 3 horas antes do jogo, se encontrávamos na praça para beber - muito - e íamos cantando (já quase bêbados) o hino do corinthians até o metró. Era uma alegria.
Porém nem tudo é só festa. Assim como em todas as classes da sociedade, existem também aquelas pessoas de má fé, que fazem da "vila" um ponto de drogas e que acabam denegrindo a imagem das pessoas honestas e trabalhadoras que lá vivem, passando uma impressão muito ruim para as pessoas que estão do lado de fora e nunca tiveram a oportunidade de entrar lá, gerando uma opinião negativa entre as pessoas dos seus arredores.
Mesmo assim, com toda a dificuldade e a violência, todos estão - quase - sempre felizes. Frequentemente, quando encontro alguém da "vila" pelas calçadas das ruas, na ida ou na volta do trabalho, sou recepcionado com um grande sorriso e um abraço apertado. São amizades que fiz para sempre e as minhas maiores lições de dignidade, felicidade e esperança por uma vida melhor.
O dinheiro ajuda viver, mas o essencial de uma vida é a felicidade.

Nota: Dedico esta "humilde" crónica para toda a população que vive nas "vilas" de todo o Brasil. Segue o meu respeito e o meu carinho, para estes cidadãos que muitas vezes são intitulados - injustamente - de bandidos e traficantes pela população, mas que fazem parte da maioria do povo e não "roubam" como muitos que estão lá no poder, disfarçados com seus paletós e gravatas.
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