Em novembro, especialmente no dia 2, somos convidados a pensar nos mortos, relembrar ou refletir sobre aqueles que viveram nesta terra e que , há pouco ou há muito tempo, já partiram para a eternidade. A medida que o tempo passa, a lista dos mortos , incluindo parentes, amigos, conhecidos, vai aumentando, e disso somos informados seja pessoalmente, seja através dos diversos necrológios. E é em vão dizer que nos entristecemos com as informações, pois imediatamente aplicamos o antídoto, a vacina contra melancolias e depressões.
Mas, a chamada da Igreja, para pensar nos mortos, no dia de Finados, inelutavelmente dá a entender que devemos cogitar primeiro daqueles mais chegados , com laços de parentesco mais profundos e segundo, que não nos esqueçamos de rezar, fazer alguma prece para suas almas e dos demais amigos e conhecidos. Pensar nos predecessores que conhecêramos em vida, Ã s vezes pode ser bem agradável, mormente se nos socorrermos de fotografias ou dialogarmos com outros parentes ou companheiros sobre as qualidades, pendores, graças e mesmo defeitos dos falecidos.
E as recordações ainda podem ser abundantes, dependendo do momento e do estado emocional de cada um, sendo até conveniente serem reprimidas se, se tornarem constantes e obsessivas. A expressão antiga "recordar é viver duas vezes", não corresponde à realidade e pode até ser considerada como doentia. A fantasia, o devaneio, podem nos embevecer , nos deixar gostosamente entretidos com a visão do irreal, de uma gostosura ficcional que se assemelha a sonho que desejaríamos jamais terminasse.
Mas, pensando nos mortos mais recentes, e a esta altura da vida já encarando a morte com mais naturalidade, compreendendo e tendo absoluta certeza de que ela faz parte do contexto existencial, saudosamente recordamos passagens ou momentos agradáveis, marcantes e indeléveis, perdidos no tempo. Hoje, com os modernos recursos tecnológicos ( a cada dia surgem novidades), além da fotografia, podemos gravar vozes, filmar, guardar inúmeras lembranças daqueles entes que nos são caros e de momentos plenos de ventura. Vou parar por aqui, porque escrevendo ainda no mês de outubro, estou me sentindo entristecido, enquanto lá fora vejo a natureza exuberante: pássaros cantando, sol e flores da primavera florida. Parece que tudo nos convida para as alegrias do viver, inobstante as dificuldades, limitações e sombrias perspectivas de um mundo cruel: ao nosso redor criminalidade incontrolável e ao longe , guerras e sombrias apreensões de terrorismo real e imaginário.