Aqui, do aposento no qual me encontro, vislumbro, da janela semi-aberta, um horizonte sem limites. Impossível impedir que os raios solares penetrem pela fresta. Tal espetáculo jamais teria este deslumbramento, se a manhã fosse sombria ou chuvosa.
Ergo-me da poltrona na qual me encontro reclinada, e, abro de todo a janela. Uma aragem perfumada e agradável envolve o ambiente. Inspiro profundo, deixando-me envolver por esta brisa sutil e aromática. Uma borboleta amarela aproxima-se esvoaçante e, reverencia-me com um leve roçar de asas. Me lembra uma esguia bailarina, conduzida por mãos imaginárias. Presente da natureza aos meus olhos embevecidos. Saiba natureza! Ela sabe proporcionar ao homem, momentos de magia e encantamento. Insinuante à s vezes.
Continuo na minha admoestação ininterrupta. Mania que adquiri desde os primórdios - admirar os encantos obstinados de tudo aquilo que me dá prazer. Obséquios do nosso Criador. Reverenciá-los
faz parte integrante de toda criatura humana.
Um leve zumbido e eis que se aproxima uma desprotegida "mosca azul". Sem rumo, o pequenino inseto desorientado, vagueia de um lado a outro do aposento. Com os olhos fixos na sua trajetória, fico a observá-la. Insegura e oscilante, a mosca vai ao encalço da luminária, a qual, por descuido meu, esqueci de apagar. Tentativas infrutíferas de pouso. O calor intenso que emana da làmpada, com certeza, queima-lhe as minúsculas patas.
Sentia-se vencida a coitadinha! Por vezes consecutivas ela de mim se aproxima. Entendo a sua atitude persistente, como um pedido de socorro. Sorrio da sua fragilidade.
Não me contenho e vou socorrê-la. Desligo o interruptor, proporcionando-lhe um grande alívio. A sua insignificància ante aquela dificuldade, comove-me. Sinto, naquele espaço indeterminado de tempo, quão medíocre, Ã s vezes, é a capacidade humana.
Na grandiosidade dos mistérios divinos, somos a "Mosca Azul", impotentes e incapacitados, diante de um minguado obstáculo.