SÓ POR UM DIA
Quase morri de rir ao escutar a declaração de um deputado federal mineiro ( cujo nome não recordo no momento), que, face aos cortes de seu "mísero" salário, prometido aumento e diminuição da ajuda de representatividade , em cifras polpudas, ou coisa parecida, se vê obrigado a voltar ao seu antigo emprego, para compensar com o salário os gastos com a família. Ele quer voltar a ser professor. E eu que pensava que o professor era mal pago e sempre fazia greve para melhorar as cifras de seu contracheque ? Dei uma parada. Então é assim que pensam os nobres eleitos pelo povo, considerando o magistério uma ótima fonte de renda familiar ? É a salvação da pátria? Um ótimo complemento para os gastos da mãe, dos filhos e dos mil e um compromissos financeiros do dia a dia do ilustre coitadinho . Bem que os papéis podiam se inverter de vez em quando.
Fiquei pensando. Como seria , se por um dia apenas, tudo o que existe nesse mundo relacionado com as pessoas, seus sentimentos, suas lutas, suas origens, sua cultura, suas crenças , seus sonhos, virassem para o lado avesso, isso é, se tudo acontecesse ao contrário. Eu seria quem tu és e tu serias quem eu sou .Eu viveria tua vida e tu viverias a minha vida. Seria uma roda gigante, girando, girando. Cada volta seria a experiência viva e real de cada um de nós na vida de outro. E vice-versa. O que chamamos a vida de todos nós, nosso destino, nossa sina, nosso jeito de ser, único, adquirindo outra dimensão, outra forma, outra razão de ser, de maneira irreversível .Como sentiríamos ou viveríamos as situações e experiências de nosso próximo ? Teremos empatia suficiente para isso ? Utopia, com certeza pensarão os meus caros leitores. Realmente, Ã s vezes a gente se põe a pensar e a confusão de idéias quase nos enlouquece.
Nessa utópica reviravolta, penso como seria o dia desse nobre deputado à s voltas com o desgastante trabalho como professor, e que no final do mês, faz as contas para acertar a matemática financeira domiciliar? Nessa permuta, o até então professor, ficaria satisfeito com as inúmeras vantagens e compensações do cargo assumido. Partindo dessa associação simples de idéias, daria para imaginar o reverso de cada moeda. O oposto do que é , refletindo o que não é. Troca de papéis. Imagine : As amarguras de um desempregado e o sucesso do executivo boa pinta; a alegria estampada no rosto da criança e a tristeza mal contida nas feições cansadas do velho centenário; as rendas e o esplendor do rico monarca e as vestes esfarrapadas do pobre esmoleiro; a esperança de um transplantado e a desesperança de um aidético; a derradeira súplica do réu e a indiferença do algoz; as boas intenções do mocinho e a sutileza do astuto bandido; a honestidade do humilde trabalhador e a ganància do velhaco corrupto; o amor da abnegada mãe e o ódio do assassino implacável; o sonho de sucesso do estudante universitário e a falta de perspectiva do jovem deficiente mental; a consciência saudável do jovem independente e a dependência nociva do drogado alienado; a liberdade do pássaro e a limitação do leão enjaulado. E numa dimensão mais sensitiva, o perfume da mais bela flor de um jardim e o nauseabundo cheiro de carcaça atirada no campo agreste; a textura suave da pele infantil e o áspero toque da cicatriz de um queimado.
Difícil imaginar ? Só por um dia! Bem, melhor mesmo é ficar tudo como está e cada um levar a vida que Deus lhe deu. Do lado de lá ou do lado de cá, sem o troca-troca, sempre haverá uma compensação, um "valeu a pena " um "assim está bom" ou "um dia vai melhorar". Por que não ?
Carmen@gaz.com.br.
