| DONA VULCANINA E OUTRAS DAMAS NUM SERÃO EM BRASÍLIA Crônica urbana João Ferreira 10 de janeiro de 2024   Era festa de Fim de Ano. Muitos salgadinhos, vinhos variados, entre brancos, tintos e rosés. Damas bem vestidas. Toilettes muito variadas, algumas com novidades, outras com vestes tradicionais e clássicas . No fundo, um encontro de amigos e de conhecidos. Todos bem à vontade. Na formação natural dos grupos, as mulheres, como é seu jeito natural, foram se reunindo e conversando, dando prioridade aos assuntos de sua predileção, falando de toilettes, de filhos e de netos, ou contando as novidades mais picantes sobre vizinhos.  Do lado dos homens, notou-se que também iam formando uma roda, ou uma ala, como queiram chamar, com caraterísticas próprias. E o assunto era mulher.  Como sempre. Muito animados na conversa,  um dos assuntos que passou a entretê-los foi a variedade onomástica de algumas representantes do sexo feminino. Houve um momento em que alguém lembrou: -Gostaria de saber a variedade de nomes que há nesta numerosa assembleia de homens e mulheres, disse Pedro Coelho. A solução seria os próprios maridos e companheiros compartilharem conosco esta informação. -Seria interessante colocar na pauta os nomes especiais das companheiras... Tão feliz foi a ideia de Pedro Coelho que o assunto virou “prato preferido” da conversa. Tudo o mundo se dispôs a colaborar.  Mais do que isso. Aproveitando sugestão de alguns cavalheiros mais espirituosos, o cardápio onomástico foi finalmente aberto. E olha no que deu!... -Minha mulher tem um nome diferente, clamou o Heriberto. Chama-se Janiqueta. -Houve uma leve risada entre os companheiros de farra por acharem que era um nome raro. Aberto o cofre das surpresas, foi a vez de Genifrásio da Cumieira desvendar o nome de sua consorte: -A minha, indagou¿ A minha mulher chama-se  Rosa Murcha do Brejo, disse Genifrásio. -A turma explodiu em nova gargalhada. -Porque riem tanto, disse Giuseppe Ferraz ¿   Vocês riem e vão rir mais um pouquinho, porque minha mulher é conhecida no bairro pelo nome de Porta do Santuário Velho. -KKKKKK Animados com a sessão gratuita de humor que ali estava acontecendo, cada um foi-se animando a  soltar ao vento o nome das companheiras. Todo o mundo rindo, animado. E os nomes vinham vindo. Parecia uma ladainha. - A minha, chama-se Harmonia Secreta. - Deve ser um casal pacífico, comentou alguém ao lado. - O nome da minha é Gata recatada. Exatamente como convém a uma mulher, disse Pompeu da Guarda. -E a minha,  Horizonte de Vida... adiantou Abreu de Lemos. O encontro que tinha sido combinado num bar nobre da cidade por meia dúzia de amigos virou um belo teatro de humor, com estas tiradas curiosas e relevantes... - Pois, lá vai o nome da minha companheira, disse Areovaldo: Benquista das Nações... -A minha também tem um nome engraçado: Alegria do Bairro... falou José Arichetto. -Gente, já que estão querendo saber, exclamou Dorival dos Santos, o nome da minha mulher é bem diferente. Chama-se Jovalina Teimosa... Os diálogos iam se sucedendo com boa disposição e estrondosas gargalhadas, quando o Alfredo do Bar dos Tremelicas colocou no cardápio o nome especial que tinha sua patroa:  Amada de Jesus... À medida que foi sendo espicaçada a curiosidade, novidades e variedades foram surgindo.  Ninguém poderia agora furtar-se a colaborar.  - E sua mulher, Jonas do Açu¿  A pergunta era dirigida ao mais denso e volumoso bigode da turma. - Bom, disse Jonas. O nome da minha mulher é um pouco diferente.  Chama-se Vulcanina. E não é sem razão- explicou.  Ela é um vulcão na mais completa acepção da palavra.  Um vulcão que arrasta tudo e todos os que tentarem se opor à sua vontade... Mas, por outro lado é uma boa mãe e uma boa esposa! - Depois do Jonas quem deu depoimento foi o Giancarlo  de Pistoia, vizinho de Jonas. Sua mulher chamava-se Termolina. Para conviver com ela, segundo Giancarlo, tinha que adivinhar a quantos graus estava sua pressão arterial...  E foi neste ritmo que as conversas foram se desenrolando. Agora apareciam outros nomes. A novidade era, de um lado, a Vanessa Nova e do outro, a Vanessa Velha. Eram as esposas, respetivamente, de Amadeu Cavalcanti e de José Ribeiro Maduro, funcionários públicos. E quando todos achavam que o cardápio tinha acabado, o Lourival da Silva interrompeu estranhando que ninguém tivesse perguntado como se chamava a sua.   - Minha mulher chama-se Ourivela do Cadastro Fechado, informou Lourival.  -Que Deus a tenha em sua glória, balbuciou, choramingando de saudade. O cardápio era longo. Havia bem mais. Mas por respeito a Madame Ourivela e ao sentimento de Lourival, o líder do grupo não teve outra alternativa senão a de encerrar o encontro. Era o respeito pelo sentimento de Lourival, e pela memória de Ourivela do Cadastro Fechado... -Era uma santa, soluçou baixinho Lourival!!!   |