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Cronicas-->360 graus -- 03/08/2001 - 01:34 (Débora Veroneze) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
360 GRAUS


Genelaine Elizabete da Silva Medeiros foi a sétima filha de dona Maria. Nasceu no subúrbio, foi criada pelo irmão Genésio (nove anos), que também criou Generice e Gestaldo, de três e cinco anos respectivamente. Geracilda de sete, ia junto com a mãe trabalhar, esta era faxineira da padaria do seu Joaquim. Geremias de doze anos, sumiu na vida e Genabel, com quase quinze, já tinha sua própria família.
Todos eram filhos da mesma mãe, no entanto, alguns não sabiam quem era o pai.
A casa de dona Maria tinha quatro peças: cozinha, dois quartos e banheiro; mas era limpinha.
Dona Maria trabalhava todos os dias da semana, vendia suas folgas e suas férias e dava aos filhos tudo o que podia. Nenhum deles passou fome. Isso era tudo o que ela podia.
Genelaine cresceu neste meio e era uma criança feliz. Com quatro anos ela assistiu ao enterro de Geremias que morrera baleado. Chorou, mas não sofreu tanto quanto os outros, pois tinha visto o irmão apenas duas ou três vezes. Com seis anos Elizabete deixou a infància de lado para cuidar de sua sobrinha, segunda filha de Genabel.
A caçula dos filhos da mãe era dotada de muitas qualidades: prestativa, generosa, bonita e inteligente. O tempo foi passando e Genela, como era chamada por alguns, começou a enxergar realmente a vida que levavam. Os irmãos, pouco a pouco foram saindo de casa e quando Genela fez dez anos, fez também uma promessa a ela mesma, que não levaria essa vida para sempre. Mal sabia a pequena criança mais linda do bairro que o destino lhe preparara uma grande surpresa para o futuro. Com treze anos foi a uma festa de escola com seu melhor amigo, o Jairzinho. Aconteceu! Eles "ficaram". Ela se apaixonou e fazia de conta que não lembrava da promessa.
Genelaine tinha dezesseis anos quando dona Maria morreu. Dessa vez ela sofreu demais e nessa época, era a única filha que ainda morava com ela.
A linda jovem do morro de Santa Luzia perdeu quase tudo. No entanto, o amor de Jairzinho foi o que deu luz a sua sofrida vida. Ele a visitava todas as noites, era amável, gentil e bonito. Dois meses depois estavam morando juntos.
Jair era encanador e Genela fazia doces para fora. A vida corria bem, eles trabalhavam e todo o dinheiro que conseguiam juntar, investiam na reforma da casa. Eram felizes, se divertiam e se amavam.
O tempo foi passando e eles conseguiram a estabilidade financeira tão desejada acompanhada de um grande amor. E o que era tão desejado, passou a ser monótono. Genela queria mais. Queria viagens, festas, casa em bairro nobre e jóias, muitas jóias.
Numa bela manhã de terça-feira, Genelaine foi ao escritório de seguros "Madote" para entregar uma encomenda de doces ao gerente. Este, ao enxergar a linda doceira de vinte anos, morena, longos cabelos cacheados, boca sensual e olhos cor de mel, se encantou de imediato. Pegou os doces e já tratou de encomendar mais uma remessa para a semana seguinte. Num mês engordou cinco quilos.
Genela, por sua vez, simpatizava com Luciano, ele era bonito, amável e gentil. Enxergava nele a possibilidade de subir na vida, sem esquecer de Jairzinho, é claro, seu grande e único amor.
Luciano, já totalmente apaixonado, tomou coragem e a convidou para sair. Ela pensou (mas não muito) e aceitou. Iniciou-se um romance e Genela não sabia mais o que era melhor. Dúvida essa que acabou assim que ela recebeu uma proposta de emprego para ser telefonista no escritório. Largou Jairzinho e mudou-se para uma kitinete perto do trabalho.
Mudou também seus cabelos, suas roupas e suas amizades. Em pouco tempo, Genel, como passou a ser chamada, era a secretária mais eficiente dos seguros "Madote". Até começou a gostar um pouco de Luciano. A moça, apesar de ter sonhado com muito mais do que aquilo, estava feliz. Nem imaginava que seus dias de calmaria e, consequentemente, de namoro com o gerente, estavam próximos do fim.
Foi quando Felipe, o dono da seguradora, resolveu visitar esta filial. Ao ver a nova funcionária, chama o gerente de lado e pergunta:
- Quem é?
- Genelaine Elizabete senhor, a mais eficiente secretária que aqui já trabalhou .
- Não, seu bobo, eu quero saber se ela é casada, se tem namorado, esse tipo de coisa...
Após ficar vermelho, tossir duas vezes e engasgar uma, o gerente, com medo de reprovação, responde:
- N Ã O !
- Ótimo! Vou convida-la para almoçar.
Felipe, homem rico, boa aparência (um pouco fora de forma), 42 anos, recém separado e educado. Que mal teria a namorada sair para almoçar com ele, pensou Luciano. Aliás, pensar é o que ele tem feito nos últimos anos, pois até hoje não entendeu porquê foi despedido naquela mesma tarde.
Genel, ops! Agora é dona Beth Menezes, parou de trabalhar no dia seguinte e um mês depois, estava morando com Felipe. Dessa vez, com os cabelos ainda mais curtos , dona Beth estava muito perto da vida que sempre quis. Viajava com Felipe por todo o Brasil, ele quase sempre a negócios, mas ela curtia mesmo assim. Invejava apenas as mulheres dos milionários que conhecera numa viagem para a Europa.
A vida de dona Beth era acompanhar o parceiro em todas as festas, recepções e viagens que ele fazia. Nesse meio tempo, ia ao cabeleireiro, manicuro, pedicuro, shoppings e chás beneficentes. Dona Beth se destacava entre as outras mulheres desse meio, era uma das mais jovens e, sem dúvida, a mais bonita. E numa dessas grandes recepções que Felipe oferecera, conheceu Luiz Eduardo Menetroi Figueredo Aguiar, um milionário viúvo que não conseguia tirar o olho da jovem linda senhora que ali estava presente. Dona Beth dirigiu-se até ele para fazer as honras da casa. Conversaram por longo tempo e entre as palavras e risadas que soltavam, Luiz Eduardo não exitou:
- Sei que seu marido viaja amanhã. Se quiser, apanho você para passarmos o dia onde mais lhe agradar. Iremos com meu avião particular. À noite estará em casa e Felipe nem notará sua falta.
Dessa vez, dona Beth aceitou e ganhou um lindo colar de brilhantes. E da próxima vez, ela também aceitou, e da próxima também, até que, quando percebeu, estava casada com ele. Com separação de bens, é lógico.
Agora ela se chamava dona Gegê Menetroi Figueredo Aguiar, tinha cabelos curtos, lisos e louros e passava os dias em sua mansão de dez milhões de dólares à beira mar. Era dona das mais lindas jóias, fazia suas compras nos EUA e tinha nove empregados na casa,cada um para uma função. Quando ia a jantares de negócios com o marido, ficava conversando a noite toda com senhoras que poderiam ser suas mães, algumas avós. Mas dona Gegê não se importava com isso, aliás, ela não se importava com mais nada.
Certo dia ela estava tomando banho de piscina e percebeu um vazamento de água por baixo do piso. Ordenou ao mordomo que desse um jeito naquilo. Este, por sua vez, chamou um encanador que chegou enquanto a madame ainda estava na piscina. Ela saiu da água, deitou-se numa cadeira que mais parecia uma cama e pediu um suco. Debaixo de um chapéu com abas enormes e atrás de uns óculos que tapavam quase todo o seu rosto, dona Gegê observava o conserto do vazamento.
O encanador, a uns dez metros de distància dela, executava seu trabalho percebendo que estava sendo notado. Ele achava que ela estava fiscalizando-o e não ergueu o rosto nem mesmo quando o suor caiu em seus olhos.
Dona Gegê, por sua vez, olhava o trabalho daquele homem apenas por não ter mais nada o que fazer. Prestou atenção em todos os detalhes, inclusive nas largas costas suadas e morenas cobertas levemente por uma camisa regata colada no corpo.
Com a desculpa de olhar de perto o que estava sendo feito, a madame levantou-se da cadeira e caminhou lentamente até o encanador, perguntando:
- Esse trabalho vai demorar muito?
- Uns dois dias, senhora. - respondeu Fernando sem levantar a cabeça.
Não deu certo, pensou Gegê, preciso pensar noutra pergunta se quiser ver o rosto dele.
- Como é seu nome?
- Fernando Matias Souza, mas pode me chamar de Nando.
Era o que Gegê temia: Fernando era um homem másculo, bonito , de traços marcantes, como há muito tempo não via.
Após responder, Nando abaixou a cabeça e se arrependeu arduamente de tê-la levantado, pois jamais vira uma mulher tão interessante em toda a sua vida. E era casada e ele nunca teria chance com ela.
E o trabalho de Fernando , que demoraria dois dias, levou quatro e acredite ou não,a dona da casa não ficou brava. Pelo contrário, no segundo dia ela levantou, colocou seu melhor e menor biquíni e foi para a piscina, mas apenas olhou e olhou, nossa, como ela olhou.
No terceiro dia, ela tomou coragem e foi até ele para oferecer um suco, café ou água, qualquer coisa, desde que aceitasse. Ela nem precisaria ter oferecido tanta coisa, ele teria aceitado até suco de berinjela. Conversaram bastante, mas é hora de ir embora e hora de Gegê entrar para esperar Luiz Eduardo para o jantar.
Os empregados já cochichavam entre si. Nunca tinham visto uma patroa tratar tão bem um simples prestador de serviços.
O quarto dia chegou e com ele, a certeza de que seria o último. Gegê, desta vez mais linda do que todas e Nando de banho recém tomado. Foi maravilhoso, Fernando pouco trabalhou, pois quase não tinha o que fazer. Riram juntos, conversaram e se olharam. Naquele dia tiveram a certeza que ambos fingiam não ter: que existia algo forte entre eles. Mas o que nem chegou a começar, acabou. Nando foi embora e levou com ele os momentos mais preciosos de Gegê nos últimos doze anos.
Ela volta a levar a sua vidinha fútil até que: nada melhor poderia ter acontecido: um vazamento na pia da cozinha. A dona da casa telefona pessoalmente para Fernando e, em menos de uma hora, lá estava ele deitado no chão, todo sujo, todo lindo, todo maravilhoso.
Dona Gegê, que não pisava na cozinha nem mesmo para tomar um copo d´água, estava lá, observando atentamente o conserto da pia e, antes mesmo que ele fosse concluído, eles trocaram olhares e se tocaram e se amaram, no chão, na mesa e na pia.
Os empregados viram. E fizeram de conta que não viram. A preocupação deles agora era com a mentira que teriam que pregar a Luiz Eduardo quando este voltasse para casa.
Preocupação vã, pois quando o patrão voltou, não encontrou o vazamento da pia, nem o encanador, nem a mentira e nem a mulher.





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