Quando estou escrevendo, não vejo nada. Baseio-me na intuição e em algumas técnicas, tentando projetar aquilo que, acredito, fará as pessoas se sensibilizarem. Numa cena de suspense, procuro fazer com que a personagem não execute a sua missão no primeiro ato. Numa cena de amor, que haja muita sedução. Numa passagem cómica, que predomine o exótico, permitindo aquilo que, provavelmente, seja o mais hilário para o leitor. Para criar polêmica, consinto um acontecimento que pode fugir, inclusive, Ã minha aprovação na vida real. Claro que, como em qualquer arte, existe o estilo. A maneira como Gabriel García Márquez escreve é completamente diferente da de Paulo Coelho e os dois são bem recebidos pelo público em geral. A crítica é o outro lado da moeda e, por isto, o espanto é quando o público e a crítica são coincidentes.
A literatura é uma arte fria, onde o escritor faz um tremendo malabarismo com a caneta e, para as pessoas perceberem sua intenção, é necessário que leiam linha por linha, montando um raciocínio lógico nas suas cabeças até chegarem, por fim, a uma conclusão sobre a manifestação do autor. Nas artes plásticas, parece-me que a coisa é mais abstrata e amistosa, podendo a pessoa identificar-se com uma pintura, por exemplo, em fração de segundos. Não há dúvida também de que, normalmente, para assimilar uma música, é necessário muito menos esforço do que para ler um texto.
Não quero fazer desta crónica um teatro, mas confesso que invejo os seus atores. No palco, eles têm a reação imediata do público para o qual se oferecem. Ainda que seja uma vaia, essa é uma maneira sincera e direta das pessoas falarem para o artista o que pensam dele. Mas é claro que não é isto que o ator espera. Ou melhor, ninguém batalha pelo demérito. Seja um astronauta ou um pipoqueiro, respeitada a complexidade de cada profissão, todos querem fazer o melhor no seu trabalho. E onde eu quero chegar com toda esta retórica? Não é muito longe, meu caro leitor. É só para dizer que, o dia em que você achar que vale a pena conversar comigo, este seu escriba está Ã sua disposição. Acredito que qualquer encontro, quanto menos impessoal e silencioso for, levará a experiências mais ricas. Portanto, se em algum momento, você tiver uma vontadezinha de opinar sobre os contos e as Cronicas aqui escritos ou mesmo de jogar conversa fora sobre outros assuntos, lembre-se de que o fato de não nos conhecermos pessoalmente não significa a existência de uma barreira para que isto aconteça.
Fica, então, formalizado o convite. Aliás, prefiro que seja interpretado como um convite informal, pois a informalidade é uma força motriz muito mais poderosa, no que diz respeito a despertar a espontaneidade existente em cada um de nós. Um grande abraço e até o próximo contato.