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Texto: Adalberto Lima
Voz: Juscelino Barão.

“BARRÃO E FUCIM DE PORCO”
Joaquim e Valério, ou “Barrão” e “Fucim de Porco”, eram cegos. Um apenas das vistas, mas ambos de entendimento. Moraram em Picos, provavelmente, a partir dos anos cinquenta ou sessenta e até o último momento de agonia. Joaquim enxergava das vistas e puxava Valério pela guia. Quem dava uma esmola ao cego, normalmente, dava também ao guia. Joaquim, o guia de cego, era aleijado; aleijado de feio.
Cada um construiu seu casebre pendurado na aba do morro da Romana. Curioso é que um deles era casado ou amancebado com a irmã do outro. A molecada ficava de longe... Um gritava: "Fucim de Porco!”, e outro respondia "Barrão!" Para ouvir a enxurrada de palavrões que Barrão reverberava, enquanto “Fucim de Porco” mantinha-se em silêncio, como se a cegueira também lhe houvesse levado a voz.
Barrão deixou em Picos um bairro com seu nome, a Vila Barrão. Os dois rudes abandonaram seus casebres, também rudes, pendurados no morro, como duas orelhas mal acabadas. Suas cascas ficaram na terra e, com elas, as cruzes pesadas da pobreza, fome e maltrato. Eles lavaram suas vestes no sangue do cordeiro e receberam do Pai celeste um anel de realeza.
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