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 | Cronicas-->A noute do Deus menino -- 11/09/2014 - 14:00 (Brazílio) |  |  |  |  |  |
 | A noute do Deus-Menino
 
 Eram aqueles natais doutrora, em que bençãos divinas e águas celestinas eram derramadas em proporções iguais,
 
 infundindo corações, regando quintais.
 
 A travessa São José, nosso beco, tampouco ficava a seco: ainda de terra batida se
 
 tranformava num pàntano, escorregadio, porém um bom atalho, ligando bairros
 
 mais distanciados ao mais curto caminho para centro da Velha Serrana, para onde
 
 demandava a turba, na busca do Natal mais santo, com todas as suas liturgias e
 
 ave-marias e outras ingresias.
 
 E muitas delas havia: do fascínio da missa da meia-noite ao convite irresistível da
 
 boate, passando pelo cinema, por esquinas, ruas calçadas, bares, profanos lugares.
 
 E a véspera do Natal era uma só; era preciso se assenhorear daquele momento de
 
 encanto, enquanto durasse e se iluminasse o breu.
 
 Embora ainda não fizéssemos jus à cesta ou aos panetones, o ambiente no lar se
 
 alterava, se elevava e quanta emoção dava, em torno do presépio, com seus
 
 bichinhos, a gruta-manjedoura e aquele tufo de arroz, verdinho, plantado numa
 
 lata de sardinha no dia de Santa Bárbara e portanto velho de quase três semanas,
 
 adereço indispensável que parecia ter partes com a energética esperança no Deus-Menino.
 
 E nosso presépio ainda havia adquirido a feição meio-oriental quando mana Victa, convertida
 
 em paisagista, esculpiu na bruta argila, da amarelada à  violeta, aquelas casinhas abobadadas
 
 que a gente só via em filmes.
 
 O que nos ligava à agitação externa, à rua encharcada, entretanto, eram as  lanternas. Uma delas
 
 para cada rebento de papai e mamãe, com estrutura de madeira, envoltas em papel celofane, de
 
 cores variadas que, com uma vela espetada no centro pendurávamos no alto das paredes externas,
 
 quase junto ao telhado.
 
 E tinha passante, até mesmo distante viandante que apreciava aquela manifestação a ponto de
 
 comentar que valia a pena o barro amassar só pra ver aquele ispetaco de luzes coloridas.
 
 Na manhã seguinte, terminado o desembrulhar de presentes em que Papai Noel se
 
 fizera representar pelas nossas vizinhas tias, a hora era de verificar como as  lanternas haviam enfrentado as
 
 rajadas, trovoadas e aguadas da noite. Umas poucas sobreviviam intatas, protegidas contra a ventania. A maior
 
 parte aparecia chamuscada, nua, já queimadas vela e papelada, mas valera, ah como valera a
 
 noite encantada!
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