
Meio baiano, meio mineiro, ele não espera que um galo cante e levante outro galo o mesmo canto noutro terreiro. Poeta inventado de ser fazendeiro para encantado, e se encanta em uma poça d’água, apreciando uma borboleta auriverde que bate asas; faz que vai, faz que vem, volteia e pousa no dedo. Em sua rotina diária consome pedaço de sol minguado cedo, e à tardinha, assentado na barriga de uma raiz que bebe no córrego. Fica fios de hora olhando lambaris que deslizam, escorrendo luz prateada em suas escamas e pergunta interessado na resposta: “Por que a beleza das cores é tão passageira? Por que uma borboleta vive tão pouco? Mal sai do casulo e meses depois evapora, entrega seu espírito de borboleta ao Criador e se vai. A vida se esvai. Parece que a criatura tem natureza artificialmente postiça: tudo descora lentamente e a cor da gente desaparece com os raios do último sol.”
Adaptado de “Sete Faces Congeladas”, (obra em construção) Adalberto Lima
Imagem: José Inácio Vieira de Melo.
|