Mesmo quando acaba o perfume,
o zeloso frasco ainda guarda
por muito tempo o cheiro

As lembranças da fazenda Campo Grande ficaram gravadas como inscrições rupestres nos anéis da memória de Corina: o casario, o gado espalhado na pastagem, e a aurora chegando no leite mugido pelo vaqueiro na casinha de curral. Mineira de parto, gerada e crescida nas Gerais de Minas, quando morreu o marido, Corina mudou-se para o Rio, levando consigo a pequena Dulcineia. A viúva arrumou as malas de couro cru, pôs em cada bruaca um pouco de goma, farinha e carne seca. Vendeu tudo que tinha: porco, galo, pavão, peru e galinhas; cavalos, ovinos e todo o rebanho de gado vacum. Vendeu também por pouco dinheiro a coleção de livros que Cláudio tinha e a fazenda que cobria grande parte do chão banhado pelos rios Juramento e Saracura. Escondeu na matula o dinheiro apurado e tomou condução em Montes Claros para o Rio de Janeiro. Na antiga capital brasileira, Corina nem cogitou Copacabana ou Ipanema. Preferiu sonhar verde e morar na Tijuca, que lhe remonta lembranças de Campo Grande. Saudosas lembranças também ela tinha do coco que Zé cantava a Mirabela e de todas as coisas belas de Minas. Em Minas tem poeta, boa cachaça e muita gente famosa nascida naquele chão. Tem Carlos Drummond, João Guimarães, Tião Carreiro e Zé Coco do Riachão. Foi em Minas Gerais que Cláudio Manuel conquistou Corina, a glória que a Vitória da Conquista na Bahia, não lhe ofereceu. Ela nunca esqueceu a cena de morte, quando Cláudio perdeu a vida e a vaca, numa encenação de campeio. Ninguém acreditou na versão que o baiano morreu no breu da noite, acidentado em um toco. Aquilo foi rixa com confrontantes! Sumia galinha da fazenda e as frutas desapareciam da chácara de Cláudio. Também o leite sumia. A vaca que dormia de úbero cheio acordava vazia.
Veja outros texto deste autor buscando em:
http://www.textoregistrado.com.br/exibetexto.php?cod=135897704703377000&cat=textoreg |